INTRODUÇÃO
No fim de 2019, o primeiro caso do novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da doença denominada Coronavírus Disease 2019 (COVID-19), foi identificado na China. No Brasil, em 13 de março de 2020, foi detectado transmissão comunitária1-2.
Embora esse vírus possua alta transmissibilidade, há variáveis não clínicas que podem determinar o contágio e seus impactos, como o estado de vulnerabilidade social da população, como pessoas não alfabetizadas3, em condição de desemprego e moradores de regiões menos desenvolvidas4-5, com pouco acesso ao saneamento básico6 e assistência à saúde7, além da dificuldade em adquirir os recursos necessários à prevenção8. Tais fatores comprometem a compreensão e/ou cumprimento das medidas de vigilância e proteção à COVID-199.
Entre essas medidas, destacam-se a higienização das mãos, cuidado e limpeza das superfícies10; etiqueta respiratória11; uso de álcool em gel, máscaras e distanciamento social12; lockdown13; quarentena14; realização de exames do tipo RT-PCR15; e manutenção das orientações sobre prevenção16. Esse conjunto de práticas e comportamentos indicados durante a pandemia, foram e seguem sendo veiculados pela mídia, serviços, órgãos e sociedades profissionais, porém com alguns entraves, especificamente em relação às questões políticas partidárias17 e governança de alguns países, que vem colocando em risco tanto a adesão como a continuidade das estratégias de enfrentamento à COVID-19.
Apesar disso, a Organização Pan-Americana de Saúde reforça que, ainda que haja barreiras que influenciem o comportamento em saúde da população durante a pandemia, o fortalecimento das atividades de educação em saúde é um recurso fundamental para esse momento e no pós pandemia11. Isso porque, sem atividades de educação em saúde, não seria possível alcançar e mobilizar a população frente aos riscos e cuidados necessários à COVID-19, tampouco despertar mecanismos para o autocuidado e reconhecimento da gravidade e importância das estratégias preventivas. Pesquisadores ainda acrescentam que as atividades de educação em saúde devem ser realizadas por uma equipe multiprofissional18, na qual as orientações diante desse cenário pandêmico, torna-se responsabilidade dessas equipes, pelo fato de possuírem práticas, conhecimento prévio dos agravos e uma interação contínua com a população.
As atividades de educação em saúde podem reverter o cenário de desassistência, principalmente entre aqueles que ignoram/negam os primeiros sintomas da COVID-19 ou autoatribuem/confundem seu quadro clínico a outras viroses. Um dos motivos para a interferência das atividades de educação em saúde nesse período está relacionado a velocidade de compartilhamento de informações de fontes diversas, por vezes, informações falsas (fake news); nível de literacia em saúde e o comportamento de busca/pesquisa da população19.
Frente a isso, os profissionais da saúde lançam mão das atividades de educação em saúde, que nos últimos anos vem sendo modeladas para além de métodos tradicionais de ensino, incluindo modalidades digitais, sob uma perspectiva de maior atratividade, ludicidade, alcance e aproximação com os contextos dos públicos-alvo. O avanço nas práticas de educação em saúde, reforça a importância da informação digital, aqui entendida não somente como um conteúdo restrito e armazenado a uma plataforma digital ou nuvem, mas a um processo de comunicação no qual informações voltadas a (auto)gestão do viver (individual ou coletivo) sejam reproduzidas/compartilhadas e revisitadas por ambos envolvidos no cuidado em saúde (pessoa, família e cuidador)20.
A adesão e uso adequado de tecnologias digitais da informação para ações de educação em saúde, visa sobretudo, aumentar o acesso da população e setores de vigilância da sociedade às experiências e evidências científicas, bem como combater e minimizar os impactos de mitos, tabus e desinformação, que prejudicam a tomada de decisão e responsabilidade social para novos comportamentos em saúde19. Diante disso, questiona-se quais foram as temáticas de educação em saúde de maior acesso digital dos brasileiros com a chegada da pandemia da COVID-19? E para responder esse questionamento, o objetivo do estudo foi evidenciar as temáticas de atividades de educação em saúde mais acessadas pelos brasileiros no período pandêmico.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, exploratório, retrospectivo e misto, realizado em duas etapas, a primeira junto à enfermeiros da Atenção Primária à Saúde (APS) e a segunda no Google Trends® (GT). O GT é uma ferramenta que fornece acesso a uma amostra de pesquisas reais efetuadas no Google, o que permite a descoberta das principais tendências relacionadas a uma palavra-chave específica, de forma global ou em qualquer região determinada.
Nesse estudo, o direcionamento para a definição dos temas para aplicação no GT, ocorreu mediante entrevista com enfermeiros no maior município de uma região de Mato Grosso, Brasil, em janeiro de 2021. A escolha deste município ocorreu por concentrar uma regional de saúde e ser referência para atendimento de casos graves de COVID-19, para 10 outros municípios. Participaram dessa etapa, enfermeiros atuantes na APS durante todo o período de pandemia da COVID-19 no ano de 2020 (março a dezembro). Foram excluídos os profissionais que estavam de licença e afastamento neste período.
A amostragem dessa etapa do estudo foi por conveniência e o tamanho amostral se deu pela saturação dos dados, totalizando 12 enfermeiros. A abordagem dos enfermeiros ocorreu de forma remota (via contato telefônico, fornecido pela secretaria municipal de saúde). Aqueles que concordaram em participar do estudo, após os esclarecimentos, receberam individualmente através do aplicativo WhatsApp um questionário, com três questões abertas: ''Quais medidas de prevenção adotadas durante a pandemia?'', ''Quais os sinais e sintomas sugestivos de COVID-19?'' e ''Quais os cuidados após a testagem positiva?''. Os participantes tiveram 48 horas para realizarem a devolutiva, através de mensagem de texto ou áudio, pelo próprio aplicativo. Essa primeira etapa do estudo objetivou a identificação dos temas de educação em saúde a serem investigados na etapa posterior.
O material empírico gerado desses questionários, foi transcrito em bloco de notas, codificado e importado para o software IRAMUTEQ versão 0.7 Alpha 2 e R versão 3.2.3. O IRAMUTEQ realiza a análise lexical, a partir de testes estatísticos padronizados, a fim de obter classes de segmentos de texto que apresentam em relação ao vocabulário dos entrevistados, simultaneamente similaridades ou divergências dos segmentos de textos. Da análise lexical realizada, os cinco primeiros temas mais evidenciados, compuseram o corpus de investigação no GT. Foram selecionados até cinco temas em razão da ferramenta GT possibilitar esse quantitativo máximo de termos de busca (comparação). Os temas foram distribuídos em três dimensões, medidas de prevenção (máscaras, lavagem das mãos, distanciamento social, isolamento social e álcool em gel), sinais e sintomas (tosse, febre, perda do olfato, perda do paladar e coriza) e cuidados pós testagem positiva (quarentena, repouso e sinais de alerta).
Em seguida, realizou-se a filtragem de acessos, individualmente com cada uma das dimensões, com delimitação geográfica para o país Brasil; delimitação temática para a saúde; e delimitação temporal para o período de abril a agosto de 2020 (período pandêmico com grande expansão de casos novos e óbitos no Brasil). Para evitar interferências na busca, realizou-se a exclusão de todo histórico de dados de navegação e cookies.
Os dados foram analisados a partir da geração de figuras, conforme a metodologia do GT, em que os algoritmos normalizam dados a partir de um número total de buscas em determinada região/período em uma escala que oscila entre 0 (volume de buscas menor que 1% em relação ao pico de popularidade) e 100 (pico de acessos) apresentados como Volumes Relativos de Buscas (VRB)21. As cores (azul, vermelho, amarelo, verde e roxo) apresentados nos mapas gerados são atribuídas pelo próprio GT para distinguir os termos de busca, e a tonalidade destas cores, refere-se aos VRB, de forma crescente.
Este estudo respeitou todos os aspectos éticos em pesquisa, conforme a Resolução 466/2012, 510/2016 e 580/2018 do Conselho Nacional de Saúde, conforme aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Mato Grosso, com CAAE: 28214720.9.0000.5166 e parecer n. 3.903.714/2020. Todos os enfermeiros participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS
Os enfermeiros participantes da primeira etapa do estudo, eram em sua maioria, do sexo feminino (n=11), entre 34 e 43 anos, casados (n=11) e com sete anos em média de atuação em serviços de APS nesse município.
Na análise, foram estabelecidas três categorias analíticas conforme a essência e similaridade dos dados, sendo ''Medidas de prevenção adotadas durante a pandemia'', ''Sinais e sintomas sugestivos de COVID-19'' e ''Cuidados pós testagem positiva de COVID-19''.
Medidas de prevenção adotadas durante a pandemia
Sobre as medidas de prevenção adotadas durante a pandemia de COVID-19, foram investigadas as temáticas ''máscaras'', ''lavagem das mãos'', ''distanciamento social'', ''isolamento social'' e ''álcool em gel'' (Figura 1).
Observou-se maior tendência de busca pela temática ''máscaras'' na maioria dos estados, com destaque para o Amazonas, com 71 VRB. A partir do segundo trimestre da pandemia, ''máscaras'' e ''isolamento social'' tiveram importante queda, enquanto a temática ''álcool em gel'' manteve o mesmo comportamento.
A busca por ''lavagem das mãos'' se concentrou no estado do Piauí (BR); ''distanciamento social'' no Rio Grande do Sul, Rondônia e Tocantins; ''isolamento social'' no Ceará, Alagoas e Acre; e ''álcool em gel'' em Roraima.
Sinais e sintomas sugestivos de COVID-19
Nessa categoria, as temáticas investigadas relacionaram aos sinais e sintomas sugestivos de COVID-19, como ''tosse'', ''febre'', ''perda do olfato'', ''perda do paladar'' e ''coriza'' (Figura 2).
A ''febre'' foi a temática mais pesquisada nessa categoria, com maior representação no estado Bahia (BR), alcançando 99 VRB. A busca por ''tosse'' esteve mais presente nos estados do Norte, assim como em relação as demais temáticas investigadas (perda do olfato, perda do paladar e coriza).
Cuidados pós testagem positiva de COVID-19
Nessa categoria, foram pesquisadas as temáticas referentes aos cuidados pós testagem positiva de COVID-19, especificamente em relação a ''quarentena'', ''repouso'' e ''sinais de alerta'' (Figura 3).
Observa-se que o interesse pelo tema ''quarentena'' prevaleceu em todo território brasileiro, especialmente no estado de São Paulo, com 100 VRB. A temática ''repouso'' predominou no estado Roraima. Já, ''sinais de alerta'' se destacou no estado Bahia.
DISCUSSÃO
Nesse estudo, entre os temas mais buscados, em relação as medidas preventivas, destacou-se a temática máscaras. Esse achado, entre outros motivos, relaciona-se a uma das principais indicações dos órgãos e comunidades científicas no período pesquisado. E, de fato, a utilização de máscaras constitui uma medida de bloqueio importante, porém sua utilização deixou de ser somente uma forma de prevenção, e passou a ser um recurso indispensável no controle da disseminação da doença. Todavia, ainda há resistência de grupos e lideranças em manter essa medida como parte integrante dos cuidados durante a pandemia, por questionarem principalmente a eficácia e a necessidade de usá-la22. Esse comportamento também foi impulsionado porque muitos países não
veicularam e não exigiram a obrigatoriedade do uso22.
Ainda assim, segundo a distribuição espacial, uma parcela da população brasileira seguiu pesquisando sobre máscaras, possivelmente acerca da variedade de modelos, e para definição da melhor conduta, já que o país passou por um importante período de transição de máscaras médicas para máscaras caseiras, em ambientes não clínicos. Apesar disso, para além de conhecimentos gerados sobre a diversidade de máscaras disponíveis e utilizadas, a demora e a falta de planejamento do governo brasileiro em implementar ações que minimizassem o avanço da pandemia, mobilizou a população a permanecer buscando informações sobre estratégias de cuidado, quer seja para fortalecer a posição negacionista como para se proteger, em especial em um momento em que se questionava se todos os grupos de risco ou faixas etárias necessitariam do uso de máscara.
Estudo nacional com o mesmo enfoque, verificou que entre janeiro e abril de 2020, o tema de maior interesse de busca em relação a medida preventiva foi o distanciamento social23, divergindo da presente pesquisa. Na Itália, entre janeiro e março deste mesmo ano, entre os cuidados tomados, o tema máscaras foi o mais pesquisado24. Já na Alemanha, as correlações cruzadas no GT indicaram que a maioria das buscas sobre máscara foi realizada seis a 12 dias após o pico de casos, e os resultados também indicam certo grau de confusão na população sobre o tema, o que manteve a frequência de buscas em vários períodos durante o ano de 202025.
Esse comportamento aponta que as buscas eletrônicas sofreram impacto tanto pelo cenário pandêmico, quantitativo de casos novos, hospitalizações e óbitos do momento20, como pelos discursos e divulgações da mídia.
Neste estudo, a concentração de buscas pelo tema máscaras ocorreu no estado do Amazonas, o que se deve a inúmeros fatores26 como o despreparo regional à época para enfrentar a pandemia (existência de leitos de terapia intensiva apenas na capital, pouca capilaridade da rede de atenção à saúde e baixo número de profissionais especializados); forte processo de interiorização da doença, especialmente pelas características geopolíticas da região e por muitos dias ter sido considerado o epicentro da doença; aspectos que devem ter aumentado a preocupação dessa população no acesso e fortalecimento de práticas preventivas viáveis, mais acessíveis e reiteradamente indicadas, como o uso de máscaras.
A utilização de máscaras médicas, como a N95, depois de muitas horas de uso contínuo traz a probabilidade de efeitos adversos, no âmbito fisiológico (redução da saturação, aumento da frequência cardíaca e cefaleia) e psicológico (estresse, medo, conexões sociais prejudicadas e autoidentidade comprometida)27. Essa evidência científica, somada aos sinais de queda na média móvel de casos e a própria flexibilidade (individual e coletiva) das medidas restritivas, também implica em comportamentos diversificados frente ao uso e busca pelo tema.
Sobre os sinais e sintomas investigados, destacou-se a temática febre, o que pode tanto se relacionar aos eventos da COVID-19 como a outras patologias que possuem essa mesma manifestação clínica. Estudo realizado em 18 hospitais na Europa, identificou que 45,4% dos jovens investigados com COVID-19 apresentaram febre como queixa principal na busca pelo serviço de saúde28. Nesse mesmo período, pesquisadores definiram a febre e tosse como sintomas específicos da COVID-19, tanto para casos suspeitos como confirmados da doença29. Apesar disso, as manifestações clínicas da doença, além do tipo de cepa, questões imunológicas e climáticas, variam de acordo com a idade e sexo do paciente, logo a febre pode prevalecer entre muitos adoecidos, porém não na totalidade de casos da doença.
No Brasil, a busca pelo tema febre predominou na Bahia, um dos estados mais populosos da região do Nordeste, e onde o primeiro registro de COVID-19 foi importado da Itália, país que nos primeiros meses de 2020 enfrentou severo crescimento de óbitos, com divulgação na mídia mundial. A chegada do vírus nesse estado gerou medo na população, assim como níveis acentuados de ansiedade e desespero, especialmente ao pensar que poderiam vivenciar o mesmo cenário de caos do país de origem. Isso motivou instituições deste estado a intervirem, a fim de minorar as consequências do acesso a informações falsas e estimular o interesse para conteúdos confiáveis sobre prevenção, sinais e sintomas e o tratamento da COVID-1930.
Por outro lado, o medo pela própria ocorrência de febre, ainda percebida por muitos como aspecto negativo e requerendo a rápida intervenção medicamentosa, influenciou esse cenário31. Contribuiu também, a associação popular da febre como sendo um sinal de gravidade do caso, diante de um contexto assistencial com desigualdade em distribuição de recursos e manutenção de infraestrutura totalmente operacional para casos graves da doença, como na Bahia32. Outros motivos atribuídos a busca pela temática febre, pode ter relação com a circunstância em que reconhecer o limiar e seus parâmetros pode facilitar a detecção precoce, e em consequência a busca por assistência à saúde e controle da progressão da doença de forma individual e coletiva.
Em relação aos cuidados pós testagem positiva, a temática mais prevalente foi a quarentena. Sabe-se que a quarentena é uma das medidas preventivas mais antigas junto a pessoas com sintomas ou suspeita de doenças transmissíveis. Nos Estados Unidos e em vários países da América Latina, ao longo da pandemia da COVID-19, a quarentena segue sendo indicada como estratégia de bloqueio na propagação do vírus SARS-CoV-2 e proteção aos mais vulneráveis33. Estudo realizado na Europa, relata que a adesão da quarentena em conjunto com as demais medidas preventivas contribuiu para um novo comportamento em saúde da população, particularmente em relação ao autocuidado e o valor da vida do outro34.
Entretanto, ainda que a quarentena seja uma estratégia de cuidado para prevenir, bem como frear a expansão e danos da doença, envolve aspectos de natureza biopsicosocioemocional35,36,37,27. Se por um lado, essa medida de cuidado vem evitando sofrimentos, como a vivência de uma internação hospitalar até mesmo a ocorrência de óbito e luto por COVID-19, a condição de reclusão, própria da quarentena, distanciou o contato humano. Nessa perspectiva, tanto profissionais quanto a população em geral, não familiarizados com a quarentena enquanto ação global e rotineiramente adotada, começaram a explorar essa temática, entre outros motivos, para buscar novas forma de pensá-la e vivê-la, guiados pelo exercício de autoconhecimento e reflexão no enfrentamento das adversidades e do bem viver durante a pandemia.
Entre os estados brasileiros, São Paulo se destacou na busca por essa temática, podendo ter relação com o perfil epidemiológico desta região no período investigado, que por muitos meses expressou alta na média móvel de casos da doença. Outros aspectos também podem ter colaborado para esse volume maior de buscas, como a densidade demográfica, fluxo migratório e o êxito na redução da reprodução efetiva do SARS-CoV-2 em todos os departamentos regionais de saúde, após o decreto de quarentena generalizada38.
Tanto a prática da quarentena quanto a utilização de máscaras como não se tratavam de temáticas de atividades de educação em saúde usuais anteriores a pandemia no Brasil, a incorporação destas no rol da programação anual dos serviços de saúde, contemplando as datas alusivas de campanhas preventivas pode fortalecer a adesão da população quanto a recursos que minimizem os riscos, não somente da COVID-19, mas de inúmeras doenças infectocontagiosas conhecidas e não conhecidas. Nesse sentido, reconhecer e fomentar o acesso da população a essas temáticas é fundamental, na medida que os profissionais aceitem e dialoguem com as diversas tecnologias digitais, vislumbrando-as como recursos adotados pela sociedade, que podem complementar as ações desenvolvidas pelas equipes de saúde, na medida que os profissionais realizem de forma intersetorial o direcionamento para a escolha das melhores fontes de informação, e estejam a disposição para o acolhimento, esclarecimento e mediação.
Embora pareça uma tarefa simples para alguns, por se referir a uma atividade de rotina das unidades de APS brasileiras, se não houver atualização, interesse e motivação dos profissionais em assumir essa competência com a comunidade, assim como suporte, apoio, valorização e reconhecimento pelos gestores, os efeitos da educação em saúde seguirão tendo obstáculos maiores. Em contraponto, profissionais engessados em temáticas focalizadas exclusivamente em doenças crônicas, em temas de afinidade pessoal ou omissos de suas responsabilidades promotoras de saúde pode implicar no acesso daqueles que se apresentam mais vulneráveis ao adoecimento, e que as atividades de educação em saúde são valiosas para a manutenção da saúde.
Ainda que, durante a atual pandemia tenha se observado maior vulnerabilidade à gravidade e óbito pela COVID-19 entre pessoas com comorbidades, os temas de educação em saúde mesmo que ocorram mediante as necessidades do território não podem restringir a esfera de demandas espontâneas e de grupos mais presentes nos serviços de saúde.
Assim, pensar as temáticas de educação em saúde durante a pandemia como orientadoras de propostas de intervenção, e considerando não somente os ambientes de cuidados formais pode-se transformar cenários epidemiológicos desse e de momentos futuros (pós pandemia) em palco de menor intolerância, relutância e negacionismo, diante de estratégias de autocuidado que beneficiam a pessoa, família e coletividade.
Não obstante, a utilização do GT para fins educativos permite mapear os movimentos da comunidade em diferentes contextos territoriais acerca de uma temática e alertar os profissionais de saúde, principalmente enfermeiros, em virtude da sua posição de liderança à frente das ESF, para possíveis necessidades ou questionamentos que revelam muitas vezes, importantes determinantes sociais da saúde. Estudo brasileiro semelhante também utilizando o GT, verificou que durante a pandemia parte dos interesses da população para as buscas eletrônicas foram influenciados não somente por motivações individuais e pessoais, mas pela popularidade ou importância dada a temas presentes no discurso de autoridades e formas de veiculação da mídia, acessando as fontes digitais para confirmação e refutação de dados, porém nem sempre optando por fontes confiáveis19.
Entre as limitações do estudo, destaca-se a desigualdade dos brasileiros no acesso às tecnologias de informação em saúde e compreensão sobre necessidades em saúde, assim não podendo generalizar os achados; a possível influência da forma de busca eletrônica das temáticas pelos brasileiros, em razão da variação dos termos que a população tenha pesquisado, uso de singular/plural, termo único/composto, sinônimos ou inclusão de termo técnico. Também não foi investigado as buscas eletrônicas em outros mecanismos de pesquisa. Ainda assim, a cobertura de todo território nacional nesse estudo, revelou que em um mesmo período pandêmico, o acesso às temáticas de atividades de educação em saúde se distinguiram entre as regiões, sinalizando particularidades e diversidade cultural do povo brasileiro, retrato que vem implicando nos diferentes modos de enfrentamento da pandemia, inclusive na conjuntura atual ao vislumbrar grupos rejeitando a vacina, principal forma de prevenção à COVID-19.
CONCLUSÃO
O estudo revelou que durante a pandemia da COVID-19, os brasileiros realizaram buscas eletrônicas sobre variadas temáticas. Sobre as medidas de prevenção, houve maior tendência de acesso ao tema máscaras, com destaque para o estado do Amazonas. Quanto aos sinais e sintomas, o tema febre foi o mais acessado, especialmente na Bahia. E sobre os cuidados pós testagem positiva para COVID-19, prevaleceu quarentena, concentrando no estado de São Paulo.
Tais achados indicam que apesar da necessidade em trabalhar diversas temáticas em prol do controle da pandemia, para que as atividades de educação em saúde cumpram com efetividade seu papel, a escolha da temática, uma das primeiras etapas do processo de educação em saúde, deve ser pautada no diagnóstico situacional do contexto de atuação profissional, no qual a utilização do GT se apresenta como recurso potencial para esse norteamento. Além disso, a identificação dessas temáticas fornece subsídios para a enfermagem pensar em planos estratégicos de prevenção e intervenção a nível local e nacional, assim como pensar as tecnologias digitais no cuidado em saúde e o alcance destas junto às populações.
Estudos complementares devem ser realizados, na medida que busquem apreender dimensões do cuidar em saúde compartilhados pelas mídias e tecnologias da contemporaneidade, e que permeiam o cotidiano dos brasileiros.
Conflito de interesse
Os autores declaram não possuir conflito de interesse de qualquer natureza relacionado ao artigo.