Introdução
A globalização pressiona grande parte das empresas a intensificarem seus esforços para manterem a alta produtividade. O setor financiero foi um dos mais influenciados pelas transmutações imputadas pela globalização. Comisso, diversas mudanças ocorreram nascondições de trabalho dos bancários como a sobrecarga de atividades estressantes e repetitivas. Em decorrência disso, os profissionais podem se sentir desestimulados a praticarem atividades diárias de modo geral, principalmente atividades físicas1.
A atividade física (AF) é definida como qualquer movimento corporal ocasionado pelos músculos esqueléticos que promova gasto energético superior ao dos níveis de repouso e pode ser configurada por atividades no trabalho, atividades de deslocamento, atividades no tempo livre e atividades domésticas. Tal atividade proporciona melhor Qualidade de Vida (QV) para os profissionais que assumem cargos estressantes como bancários e motorista de ônibus2.
A QV é um tema amplamente discutido naatualidade e é definida como "a percepção dos indivíduos sobre a suaposiçãona vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais eles vivem, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".3:1570 A QV é considerada umanoção subjetiva do indivíduo que pode ser compreendida pelo grau de satisfaçãona vida familiar, profissional, amorosa, social, ambiental e a própria condição existencial4.
As pesquisas realizadas como objetivo de compreender a satisfação humana tornaram-se alvo de investigação a partir da Revolução Industrial, debido às mudanças no processo de trabalho, naqual a substituição significativa da mão de obra por máquinas concentrou grandes atividades distribuídas desproporcionalmente entre poucos trabalhadores5.
Diante do exposto, essa pesquisa justifica-se nanecessida de de divulgar novosestudos relacionados àspráticas de atividade física entre a profissão bancáriadevido à alta incidência de problemas de saúde como lombalgias e doenças consideradas fatores de risco para distúrbios cardiovasculares nessa população, fatores que podem influenciar na QV destes1.
A melhoria da QV dos bancários reflete em um contato mais aprazívelcom os clientes e, a sociedade poderá constatar melhores atendimentos empreendidos nasinstituições financeiras.5 Comisso, a importânciadesseestudo é evidenciar a relevância da atividade física nasaúde do trabalhador bancário levando em consideração aspectos físicos e mentais, que consequentemente, colaboram para sua QV pessoal e nasociedade.
Sendo assim, refletindo sobre as condições de saúde dos bancários e diante dessa profissão exaustiva e estressante, que por muitasvezes os desestimulam a praticarem atividades extras, o presente estudotem como objetivo descrever o nível de AF e a QV de bancários.
Materiais e método
Trata-se de um estudo quantitativo e descritivo de corte transversal. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a abril de 2017 com 36 bancários da cidade de Jequié, Bahia, Brasil. Como critérios de inclusão foram considerados os bancários associados ao Sindicato dos Bancários de Jequié e Região, que não apresentavam déficit cognitivo e/ou doença neurológica que impedissem a compreensão dos questionários. Foram excluídos da pesquisa participantes com algum tipo de deficiência motora, devido às limitações que essa condição acarreta na execução das AF. A obtenção dos dados biosociodemográficos foi realizada por meio de um questionário elaborado pelos pesquisadores, no qual constavam informações como: sexo, cor, idade, situação conjugal, escolaridade e vínculo empregatício. Para a coleta do nível de AF adotou-se o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ)6,7 na versão curta, e validado para a população brasileira8. Trata-se de um questionário composto por 27 questões que avalia a prática dessa atividade na última semana que antecede a pesquisa com tempo mínimo de 10 minutos ininterruptos e o tempo que o trabalhador permanece sentado nos fins de semana. Considerou-se os participantes suficientemente ativos aqueles que realizaram no mínimo 150 minutos de atividades físicas na última semana. Para avaliar a QV adotou-se um instrumento específico (WHOQOL-bref), construído pela Organização Mundial de Saúde (OMS), traduzido e validado para a população brasileira9. O instrumento é organizado por perguntas cujas respostas são do tipo likert organizadas de 1 a 5, em que a maior pontuação reflete a melhor percepção sobre determinado quesito.10 Trata-se de um instrumento composto por 26 questões, nas quais se dividem em: QV em geral, satisfação com a própria saúde e os seguintes domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente.9 Após a coleta de dados, os mesmos foram tabulados e analisados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 21.0. As variáveis categóricas foram apresentadas por meio de frequências (relativas e absolutas), e as quantitativas por meio de medidas de tendência central (mediana) e de dispersão (intervalo interquartílico). Considerações éticas Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em obediência a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde sob o parecer n° 319.831.
Resultados
Dos bancários estudados, 66,7% (n=24) eram do sexo masculino, 61,1% (n=22) apresentaram idade inferior a 40 anos, 80,6% (n=29) se declaram casados, 83,3% (n=30) possuem ensino médio, 72,2% (n=26) autodeclaram-se não brancos, conforme Tabela 1.
Variáveis | fi | Fi |
---|---|---|
Gênero | ||
Masculino | 24 | 66,7 |
Feminino Total | 12 36 | 33,3 100,0 |
- | - | - |
Faixa etária | - | - |
< 40 anos | 22 | 61,1 |
≥ 40 anos Total | 14 36 | 38,9 100,0 |
- | - | - |
Situação conjugal | - | - |
Solteiro | 07 | 19,4 |
Casado Total | 29 36 | 80,6 100,0 |
- | - | - |
Escolaridade | - | - |
Ensino Médio | 06 | 16,7 |
Ensino Superior Total | 30 36 | 83,3 100,0 |
- | - | - |
Raça | - | - |
Brancos | 10 | 27,8 |
Não brancos Total | 26 36 | 72,2 100,0 |
Fonte: Elaboração própria, 2017.
Quanto às características do trabalho, 82,9% (n=29) afirmaram não possuir outro tipo de remuneração; 55,6% (n=20) trabalham há mais de dez anos; 97,2% (n=35) trabalham nos turnos matutino e vespertino e 80,6% (n=29) não possuem local de descanso no trabalho conforme, tabela 2.
Quanto ao nível de AF, 33,3% (n=12) são suficientemente ativos e 66,7% (n=24) dos bancários são insuficientemente ativos, pois não se enquadraram nos quesitos do IPAQ, em que para ser suficientemente ativo, o indivíduo deve cumprir uma frequência de 150 minutos semanais de caminhada ou atividades físicas moderadas ou intensas11. Quanto à avaliação da mediana e Intervalo Interquartílico (IQ) dos domínios da QV, observou-se que os bancários apresentaram melhor percepção de QV no domínio físico (82,1) e pior percepção de QV no domínio meio ambiente (59,3), conforme tabela 3.
Discussão
Embora haja aumento da prática de AF nos últimos anos, dados revelam que a população em geral não a pratica de forma suficiente conforme o preconizado. Observa-se que esse resultado poderá auxiliar no incentivo institucional para a prática de AF pelos bancários. Esse comportamento considerado de risco para a saúde cardiovascular pode ser encontrado também em outras classes trabalhadoras semelhantes aos bancários. Em um estudo12 realizado com contabilistas revelou que 66,6% dos participantes foram classificados como insuficientemente ativos. São amplamente divulgados na literatura os benefícios da AF para o funcionamento fisiológico do corpo humano. Um dos benefícios é a redução do nível de estresse, que por sua vez, refletirá no desempenho profissional aumentando sua produtividade com garantia da QV.13 Além disso, há melhora na cognição, na prevenção de doenças como arteriosclerose, hipertensão arterial, diabetes, distúrbios respiratórios, psicológicos e mentais. Torna-se evidente, que a prática regular de AF proporciona aumento da longevidade e melhor QV ao indivíduo1. Pitanga et al2 afirmam que a prática de AF está associada ao bem estar, saúde e principalmente a alta percepção de QV. Salienta ainda que há redução dos sintomas de estresse e depressão, sendo que o primeiro é prevalente entre os trabalhadores bancários. Desse modo, possuir baixos níveis de AF configura-se num problema grave que associados às condições de trabalho refletirão as consequências em todos os âmbitos do trabalhador. Uma pesquisa realizada com 306 bancários revelou a associação significativa entre a prática regular de AF e a diminuição dos níveis de estresse em trabalhadores ativos14. Resultados semelhantes foram encontrados em trabalhadores de Indústrias em Santa Catarina, no qual comprova que independente da ocupação laboral, a AF vai sempre contribuir para uma melhor QV do trabalhador15.
Não obstante, em outro estudo16 realizado com 525 trabalhadores de uma empresa bancária revelou que o principal fator negativo na saúde dos participantes foi a presença de uma ou mais doenças crônicas. Além disso, a autoavaliação negativa da saúde foi correlacionada estatisticamente aos indivíduos insuficientemente ativos, tabagistas e com sobrepeso e/ou obesidade. Considerando, que os profissionais bancários são os mais acometidos pelo estresse, e que este tem consequências severas à saúde, o presente estudo contribui na disseminação de informações aos envolvidos nessa linha temática ao apontar a AF como uma estratégia para a garantia de uma saúde mais positiva.13 Nessa perspectiva, a saúde do trabalhador que consiste em um campo de estudo da saúde coletiva, atua na vigilância e identificação de potenciais presentes nas relações entre os profissionais e o ambiente de trabalho, de tal forma que intervenha em condições que ameace a saúde e interfira na QV dos mesmos. Para isso, o setor de vigilância à saúde atua na perspectiva de ações de promoção e proteção da saúde 17. Em relação à QV, o resultado obtido no domínio físico diverge de alguns estudos em que a maioria dos bancários apresentou baixa pontuação, evidenciando, portanto, uma baixa percepção de QV no referido domínio. A hipótese para o resultado da presente pesquisa é o investimento de algumas empresas bancárias em estratégias para a manutenção da saúde física de seus trabalhadores, tais como estratégias relacionadas à iluminação, temperatura, ergonomia, espaço, organização de materiais, dentre outros18. Tratando-se do domínio meio ambiente, a literatura aponta que há um aumento da produtividade profissional se as condições de trabalho forem satisfatórias às necessidades do trabalhador, tornando-se, portanto, estratégias para as instituições bancárias buscarem melhores resultados nessas organizações.5 No presente estudo, o domínio meio ambiente obteve o menor escore (59,3). Em consequência disso, infere-se que há interferência negativa na relação não só com os clientes, mas com os próprios colegas de trabalho. Ressalta-se que os bancários consideram um ambiente satisfatório aquele que oferece condições humanizadas, tais como a presença de poucos ruídos, mobília e materiais adequados, harmonia entre funcionários, redução de cobranças e metas abusivas, além de outras atividades para aliviar o estresse. Entretanto, nem sempre as empresas se preocupam no lazer dos funcionários19. Vale salientar que o domínio meio ambiente não está associado apenas aos recursos oferecidos pela instituição empregadora, mas também às relações entre profissionais, chefes e clientes. Alguns estudos apontam que o assédio moral vivenciado pelos bancários por seus superiores20 e a carência de apoio coletivo no ambiente de trabalho16, constituem-se dois dos fatores que interferem negativamente na percepção do trabalhador no referido domínio. No decorrer dos anos, o vínculo trabalhista tem assumido uma posição superior às necessidades fisiológicas para a aquisição de bens. Trata-se de um novo olhar, em que o trabalho é visto como um cenário que abarca fatores sociais, psicológicos, individuais, saúde, satisfação, dentre outros.18 Aliada a essa nova percepção de trabalho, torna-se evidente, a imprescindibilidade de desenvolvimento de ações promotoras e protetoras da saúde dos trabalhadores, reafirmando sua identidade profissional e promovendo um espaço digno de trabalho. No entanto, destaca-se a escassez de programas institucionais para o amparo dos trabalhadores em situações de angústias, sofrimentos, estresse, adoecimentos, dentre outros impactos psicológicos que o setor bancário pode provocar. A maioria das empresas se preocupam apenas nos aspectos físicos como adoção de estratégias para promover a adequada ergonomia e relaxamento de pulsos, braços e pescoço. Essa preocupação está ligada diretamente a pensamentos político-econômicos, visando a prevenção de absenteísmo e afastamento profissional por lesões musculares 20.
Conclusão
A partir desse estudo foi possível à compreensão sobre os aspectos sociodemográficos dos bancários de Jequié, indicando a predominância de indivíduos do sexo masculino, com idade inferior a 40 anos, casados, com ensino superior e que se autodeclaram não brancos. No entanto, quando avaliados sobre o nível de AF, houve predominância de trabalhadores insuficientemente ativos, o que pode estar influenciando no seu domínio físico e ambiental da QV.
Dessa forma torna-se necessário a elaboração de propostas de intervenções no ambiente de trabalho dos bancários, além de incentivo de AF para melhorar as condições de saúde, estilo de vida e consequentemente a QV desses trabalhadores. No desenvolver da pesquisa tem sido notória a importância da pesquisa sobre QV dos servidores, uma vez que os mesmos em sua maioria se preocuparam com seu estado geral de saúde e os fatores que influenciam na manutenção da mesma. Ao começar a fase de coleta, encontramos algumas dificuldades, tais como a recusa por parte de alguns servidores, alegando a cobrança por cumprimento de metas e consequentemente, falta de tempo para responder os questionários. Ressalta-se que há carência de estudos voltados para a população dos bancários e surge a necessidade de maior atenção aos aspectos psicossociais e saúde desses trabalhadores. Além disso, a maioria dos estudos encontrados focam apenas em doenças físicas, especialmente as musculoesqueléticas. Salienta-se, portanto, a importância da valorização dos aspectos psicológicos dos trabalhadores, pois a saúde não se resume apenas a ausência de inconformidades físicas.