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Enfermería Actual de Costa Rica

On-line version ISSN 1409-4568Print version ISSN 1409-4568

Enfermería Actual de Costa Rica  n.35 San José Jul./Dec. 2018

http://dx.doi.org/10.15517/revenf.v0i35.30014 

Artículos originales

Perspectivas do conhecimento da bioética pelos acadêmicos de saúde para atuação profissional

Perspectivas del conocimiento de los académicos de salud respecto de la bioética para la actuación profesional

Perspectives of knowledge of bioethics by academics of health for professional activities

Chrisne Santana Biondo1 

Randson Souza Rosa2 

Mariana Oliveira Antunes Ferraz3 

Sérgio Donha Yarid4 

1Enfermeira. Professora da Universidade Federal da Bahía - UFBA, Jequié / BA, Brasil. Correio eletrônico: Tity_biondo_enf@hotmail.com

2Enfermeiro. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde (PPGES) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié / BA, Brasil. Correio eletrônico: enfrandson@gmail.com

3Enfermeira. Mestrado em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde (PPGES) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié / BA, Brasil. Correo eletrônico: marianaferraz.enf@gmail.com

4Doutor em Odontologia Preventiva e Social. Secretaria de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Correio eletrônico: yarid@uesb.edu.br

Resumo

O objetivo desta investigação foi analisar o conhecimento da bioética pelos acadêmicos da saúde, em uma universidade pública da Bahia. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com abordagem quantitativa, realizado com 82 acadêmicos que cursavam o último semestre dos cursos da saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Utilizou-se, para a coleta de dados, o questionário de Indicadores Formativos em Bioética em Profissões da Saúde: Inquérito. Os dados demonstraram que os discentes apresentam conhecimento acerca dos objetivos e dos princípios da bioética, porém, quando inferido sobre os conceitos da bioética, alguns participantes apresentaram divergências nas respostas. Conclui-se que o ensino da bioética deve ser feito de forma transdisciplinar, necessitando ainda, da dissociação da bioética e deontologia nas graduações, além de promover espaços de reflexões e conhecimento acerca do tema.

Palavras-chave: Bioética; Ciências-da-Saúde; Formação-de-Recursos-Humanos; Instituições-de-Ensino-Superior

Resumen

El objetivo de esta investigación fue analizar el conocimiento de la bioética por los académicos de la salud, en una universidad pública de Bahía. Se trata de un estudio descriptivo, exploratorio, con abordaje cuantitativo, realizado con 82 académicos que cursaban el último semestre de los cursos de salud de la Universidad Estadual del Sudoeste de Bahía - UESB. Se utilizó, para la recolección de datos, el cuestionario de Indicadores Formativos en Bioética en Profesiones de la Salud: Encuesta. Los datos demostraron que los discentes presentan conocimiento acerca de los objetivos y de los principios de la bioética, pero, cuando se deduce sobre los conceptos de la bioética, algunos participantes presentaron divergencias en las respuestas. Se concluye que la enseñanza de la bioética debe ser hecha de forma transdisciplinaria, necesitando aún, de la disociación de la bioética y deontología en las graduaciones, además de promover espacios de reflexiones y conocimiento acerca del tema.

Palabras clave: Bioética; Ciencias-de-la-Salud; Formación-de-Recursos-Humanos; Instituciones-de-Enseñanza-Superior

Abstract

The objective of this research was to analyze the knowledge of bioethics by health academics in a public university in Bahia. This is a descriptive, exploratory study with a quantitative approach, carried out with 82 academics that were in the last semester of the health courses of the State University of the Southwest of Bahia - UESB. For the collection of data, the questionnaire on Formative Indicators in Bioethics in Health Professions was used: Survey. The data showed that the students present knowledge about the objectives and principles of bioethics, but when inferred about the concepts of bioethics, some participants presented divergences in the answers. It is concluded that the teaching of bioethics must be done in a transdisciplinary way, also requiring the dissociation of bioethics and deontology in the graduations, besides promoting spaces of reflection and knowledge about the subject.

Keywords: Bioethics; Health-Sciences; Higher-education-institutions; Training-of-Human-Resources

Introdução

No campo da saúde, os avanços das ciências e tecnologias, além das transformações socioculturais, induzem os profissionais a tomarem decisões, levando em consideração sempre, a defesa da vida e a dignidade da pessoa humana. Sendo assim, a bioética faz-se presente para subsidiar os debates frente aos dilemas e problemas éticos vividos nas profissões da saúde.1

Acredita-se que o ensino da bioética, dos tempos modernos, tem recebido pouca atenção pelos profissionais das ciências da saúde, devido ao seu pouco tempo de existência, e mesmo com tantas divulgações científicas e debates de cunho reflexivo relacionadas aos grandes temas que envolvem a bioética no campo das ciências médicas, ainda, assim, é possível observar negligência quanto à essa temática.2

A educação acadêmica para a formação em bioética dos profissionais de saúde é um processo de sensibilização voltado ao desenvolvimento dos valores morais, para lidar com os impasses decorrentes de novas tecnologias, além de ampliar a construção das atitudes e habilidades desses profissionais, para que eles possam lidar de maneira respeitosa, com o pluralismo cultural, já que os indivíduos são influenciados pelos valores morais, formação familiar e convicção religiosa.3

Nessa perspectiva as Diretrizes Curriculares dos cursos de graduação, passaram a recomendar o uso de outras competências, não só as técnicas, para a formação profissional, oportunizando aos acadêmicos, conhecimento integral, ético e humanizado,3 tornando cada vez mais imperioso o contato desses estudantes, que futuramente se tornarão profissionais da saúde, com o conhecimento da bioética, durante sua formação, uma vez que, esse contato prévio garante subsídios para o desenvolvimento de tomadas de decisões mais humanística e com foco na defesa da vida nos seus mais diversos ciclos e vivências de situações de dilemas éticos e bioéticos, na qual o profissional da saúde poderá vivenciar no seu ambiente profissional.

Assim, a relevância desse estudo se dá a medida que, demonstrará o conhecimento que os acadêmicos da saúde possuem, para mais tarde poderem exercer sua profissão com postura ética, em relação às situações conflituosas que serão vivenciadas na atuação profissional, além da constituição de uma formação reflexiva e com tomada de iniciativa, que respeitem os princípios bioéticos bem como a dignidade do paciente.

Para tanto, esse estudo tem por objetivo, analisar o conhecimento da bioética pelos acadêmicos da saúde, em uma universidade pública da Bahia.

Materiais e método

Este é um estudo descritivo, exploratório e de natureza quantitativa, oriundo do trabalho de dissertação intitulado “formação e percepção da bioética pelos acadêmicos da área da saúde”. Participaram da pesquisa, os acadêmicos dos cursos, relacionados à saúde, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB campus de Jequié, possuindo os cursos de fisioterapia, farmácia, enfermagem, educação física, odontologia e medicina, que estavam cursando o último semestre da graduação, por entender que nesse semestre os discentes já cursaram todas as disciplinas teóricas para a sua formação em saúde, tendo, possivelmente, vivenciado situações de conflitos éticos em que o conhecimento da bioética principialista permearia tais discussões, auxiliando na tomada de decisão.

O critério de inclusão utilizado foi o acadêmico aceitar participar da pesquisa, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e estar matriculado no último semestre do curso, por isso, a graduação de medicina foi excluída da pesquisa, por não apresentar ainda, turmas cursando o último semestre.

O universo total de participantes era formado por 105 estudantes, sendo 10 do curso de farmácia, 26 de fisioterapia, 27 de odontologia 16 de enfermagem e 27 de educação física. Porém, a amostra final foi formada por 27 acadêmicos de odontologia, 25 de fisioterapia, 08 de farmácia, 16 de enfermagem e 06 de educação física, totalizando 82 participantes no estudo.

Ressalta-se que, a maior participação de acadêmicos por turma no estudo foi de odontologia e enfermagem (100%), seguidas de fisioterapia (96,3%), farmácia (80%) e educação física (22,2%). Observa-se ainda que esses cursos se relacionam, já que os profissionais fazem parte da equipe multidisciplinar em saúde, atuando tanto na atenção básica, como na hospitalar, excluindo-se dessa última os educadores físicos, pois estes ainda não participam de atividades no âmbito hospitalar.

A coleta de dados foi realizada no período de agosto a dezembro de 2015, utilizando o questionário, validado no estudo de Bouças (2007)4, de Indicadores Formativos em Bioética em Profissões da Saúde: Inquérito. Este questionário apresenta algumas situações a serem analisadas, com questões respondidas através da escala Likert, divididas em três dimensões, a saber: as percepções em relação à Bioética pelos acadêmicos da saúde; a importância e a responsabilidade atribuída à Bioética nas profissões da saúde; e as práticas educativas em foco, no contexto do currículo formal da licenciatura.4

O questionário é composto por 60 questões, assim, foram escolhidas para a análise deste estudo, as que se tratavam de afirmativas sobre o conceito da bioética e seu uso, bem como os seus princípios, que respondiam ao objetivo do estudo. Com isso, foram escolhidas seis proposições, descritas em resultados na tabela 2.

Os dados foram analisados por frequência absoluta e relativa por meio da técnica de análises estatísticas descritivas, utilizando o programa Statistical Package for the Social Science - SPSS, versão 21.0.

Considerações éticas

A pesquisa atendeu às normas éticas da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, sendo um subprojeto da pesquisa intitulada “A influência da bioética e da espiritualidade na saúde”, aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob o parecer n° 805.380.

Resultados

O número total de participantes foi de 82, incluindo os acadêmicos do curso de Educação Física (7,3%), Enfermagem (19,5%), Farmácia (9,8%), Fisioterapia (30,5%) e Odontologia (32,9%), conforme demonstra a tabela abaixo. Destes, 58 (70,7%) são mulheres e 24 (29,3%) homens, com idade variável de 20 à 39 anos (média de 24 anos). Veja a Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição dos participantes de acordo com dados sociodemográficos, 2015. (Frequência relativa e absoluta

Variáveis Frequência %
Gênero
Feminino 58 70,7
Masculino 24 29,3
Total 82 100,0
Idade
20-25 anos 69 84,14
25-30 anos 8 9,75
> 30 anos 5 6,09
Curso de Graduação
Educação Física 6 7,3
Enfermagem 16 19,5
Farmácia 8 9,8
Fisioterapia 25 30,5
Odontologia 27 32,9
Total 82 100,0

Fonte: dados da pesquisa.

Na Tabela 2, pode-se observar as afirmativas referentes ao conhecimento da bioética pelos acadêmicos de saúde.

A afirmativa 01 aborda o conceito não adequado da bioética, assegurando que a mesma está relacionada apenas à satisfação pessoal, o que não ocorre, já que a bioética visa o bem mútuo, utilizando das reflexões pessoais para a tomada de decisão. Assim, foi observado que a maioria dos participantes (52,4%) discorda da afirmativa, corroborando com a inadequação da definição.

As respostas da proposição 02, que também relaciona a bioética com o bem pessoal, indicaram que os acadêmicos não têm um conhecimento consolidado sobre a definição de bioética, pois apresentaram um padrão de resposta heterogêneo. Tal padrão parece não ter relação com o fato de que dois dos cursos analisados não possuíam disciplinas voltadas à bioética na sua matriz curricular, já que quando analisada a afirmativa por curso, obteve-se resultados de 5 (31,3%) em enfermagem, 1 (16,7%) em educação física, 4 (50%) em farmácia, 5 (20%) em fisioterapia e 8 (29,6%) em odontologia, assim, a maior parte das respostas que concordaram com a afirmativa, vieram dos cursos que tinham a disciplina, totalizando 18 (81%).

Tabela 2 Distribuição do conhecimento da bioética pelos acadêmicos dos cursos de saúde, 2015.  

Afirmativas Respostas
Acordo Nem concorda nem discorda Desacordo Perdas
01. A bioética ocupa-se da administração que cada qual faz da sua vida, para seu próprio bem. 13 (15,9%) 25 (30,5%) 43 (52,4%) 1 (1,2%)
02. A Bioética nas profissões da saúde pode ser vista como uma reflexão sobre o agir humano, entendendo que cada um procura uma vida boa. 23 (28%) 35 (42,7%) 23 (28%) 1 (1,2%)
03. O contato com a bioética me permite respeitar o próximo, protegendo a sua autonomia, dignidade, intimidade e privacidade. 69 (84,1%) 10 (12,2%) 2 (2,4%) 1 (1,2%)
04. A Bioética nas profissões da saúde visa assegurar a competência no exercício da profissão e demarcar o caráter humano das relações entre as pessoas. 48 (58,5%) 30 (36,6%) 3 (3,7%) 1 (1,2%)
05. A Bioética impõe limites ao progresso da ciência e das descobertas notáveis que oferece ao profissional de saúde a possibilidade de vencer os obstáculos convencionais sobre a própria natureza humana. 20 (24,4%) 36 (43,9%) 24 (29,3%) 2 (2,4%)
06. A autonomia, a beneficência, a não-maleficência, a justiça são princípios orientadores da atividade do profissional de saúde. 68 (82,9%) 10 (12,2%) 4 (4,9%) 0 (0%)

Fonte: dados da pesquisa.

Tratando-se da bioética principialista, observou-se que a maioria dos participantes (84,1%) concordou com a afirmativa 03, que relaciona alguns conceitos aos princípios da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. O mesmo ocorreu na afirmativa 06, que demonstrou os princípios em sua forma literal, apresentando resultados semelhantes, já que 82,9% concordaram com a proposição.

Quando analisada a afirmativa 04, percebe-se que a maior parte dos acadêmicos, 48 (58,5%) concordou com o conceito de bioética, sendo que a mesma implica na competência do exercício da profissão, sendo considerado como mais um dos objetivos da bioética, já que a mesma leva em conta a tomada de decisão, considerando o bem comum e a ética profissional.

Ao inferir sobre a bioética e sua imposição de limites ao progresso da ciência, a maioria dos participantes não concordaram, evidenciando um total 24 (29,3%) de não concordantes com a afirmativa 05.

Discussão

Ao analisar as matrizes curriculares dos cursos da saúde da UESB, observou-se que enfermagem, fisioterapia e odontologia têm as disciplinas obrigatórias de Deontologia em Enfermagem e Bioética, com carga horária de 60h, instituídas no II semestre; Deontologia em Fisioterapia e Bioética, com carga horária de 45h, no IV semestre e Odontologia Legal I, com carga horária de 60h, no IV semestre, respectivamente. Já as matrizes curriculares dos cursos de farmácia e educação física não apresentam disciplina ofertada relacionada à bioética, mesmo os estudos enfatizando a importância da bioétia para a formação em saúde.5

Nesse contexto, o conceito de bioética, foi proposto inicialmente como sendo um estudo das dimensões morais, incluindo a visão, a decisão, a conduta e as normas das ciências da vida e da saúde.6 Diante dessa discussão, pode-se inferir que a amostra menor da pesquisa estava entre os cursos de farmácia e educação física, os quais, não possuem disciplinas relacionadas à bioética na sua matriz curricular, o que pode indicar menor proporção de afirmativas corretas, quando analisados toda a amostra do estudo.

Nesse sentido, demonstrando a sua interdisciplinaridade, mais tarde obteve enfoque dado ao pluralismo, voltado para a negociação pacífica das instituições morais, até que foi classificada em blocos, sendo a descritiva, que visa analisar e compreender os conflitos e as questões morais; a normativa, que busca ponderar estes conflitos; e a protetora, usada para proteger os indivíduos em seus respectivos contextos.7

O pluralismo cultural vem das multiculturas que formaram a história da cidadania, e vem ganhando ênfase no decorrer do tempo, desde os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, que instituiu no cotidiano pedagógico, a valorização e abordagem desse tema na educação formal.8 Mais adiante foi incorporado na educação superior em saúde, pelas Diretrizes Curriculares Nacionais.9 Isso demonstra a importância da bioética, já que ela vai ajudar na sensibilização do futuro profissional a lidar com essa pluralidade.

Durante a sua prática profissional, o indivíduo usa da bioética para apoiar o seu exercício de reflexão e autocrítica, para o reconhecimento das consequências das suas ações para o outro.10 Aduzindo que a afirmativa que trata da reflexão humana voltada para o bem pessoal, é inadequada, já que a bioética visa o bem comum.

A bioética tem como objetivo, a aquisição da sabedoria, sendo esta, definida em como usar o conhecimento para o bem social, sendo assim, seria como uma nova ética que combina a humildade, responsabilidade e competência, numa perspectiva interdisciplinar e intercultural, potencializando o sentido da humanidade.11 Portanto, a bioética tem como objetivo o bem coletivo, não apenas o pessoal, como descrito pela afirmativa 01 e 02.

A bioética propõe analisar diversas temáticas através de seus princípios, como a ética em pesquisa com seres humanos, visando a beneficência e não maleficência, o início e o fim da vida e sua relação com a autonomia humana e com a saúde pública, nas decisões tomadas frente a vivência de dilemas éticos. Sendo assim, na sociedade hodierna é comprovada a necessidade de que se tenha essa disciplina em todas as matrizes curriculares.7

Portanto, a bioética instituída como disciplina, objetiva ensinar ao aluno a questionar a realidade, levando ao pensamento de novas formas de existência humanista, crítica e reflexiva para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, tendo, além disso, todo o rigor científico e técnico que sua profissão exige.9,10A disciplina de bioética envolve conflitos morais e inclui o homem tanto na perspectiva saudável quanto em adoecimento, sendo direcionada também para às famílias, comunidade e alcança todos os seres vivos que estabelecem contato com o homem em seu meio ambiente, sejam eles animais ou plantas.2

A bioética utiliza-se de princípios para embasar o indivíduo à tomada de decisões razoáveis, em situações conflituosas ou na presença dos dilemas éticos, portanto, Beauchamp e Childress afirmaram que os princípios são baseados na ética médica americana, da não maleficência, beneficência, autonomia e justiça, esses são normas da moralidade comum e que objetivam o bem comum.12

Alguns dos princípios citados na afirmativa 03 inferem nos princípios europeus da dignidade, integridade, vulnerabilidade e autonomia, que também objetivam orientar a tomada de decisão sobre questões relacionadas à bioética e os avanços biotecnológicos.12 A Bioética Anglo-saxônica coloca a autonomia em evidência, já que essa é mais centrada à resolução de dilemas biomédicos.1 Os participantes dessa pesquisa parecem entender os princípios da bioética, ao concordarem com as afirmativas 03 e 06, que abordavam alguns dos princípios bioéticos.

Ao analisar os princípios da bioética, observa-se que a autonomia pode ser vista por duas vertentes, a de que todas as pessoas devem ser tratadas com autonomia, ou seja, podem escolher entre as decisões que afetem a sua vida e sua integridade psíquico-física, e a de que outras têm a sua autonomia reduzida, isto é, devem ser protegidas, já que esses não têm a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Assim, nesses casos, os familiares ou responsáveis legais ou os profissionais de saúde, são os que decidem pelo paciente.13,1

Já a beneficência, seria atos de bondade praticados para fazer o bem,16em contrapartida, a não maleficência infere que o profissional da saúde não utilize de seus conhecimentos ou de seu privilégio para causar dano ao paciente, sempre minimizando os possíveis riscos.13,15. Desse modo, o princípio da justiça como sendo a expressão da justiça distributiva, mediante a implementação de políticas públicas do estado, visando a distribuição justa, equitativa e apropriadas na sociedade, de acordo com normas voltadas para a cooperação social.16

O princípio da justiça se remete a um dos princípios do Sistema Único de Saúde - SUS, o da equidade, visto que implica em reduzir as desigualdades evitáveis, sejam as socioeconômicas, ou as em saúde. Portanto, a população ter acesso aos serviços de maior qualidade, com profissionais da saúde mais capacitados, seria uma forma de exercitar a equidade.17 O supracitado reitera a importância da formação na bioética principialista, pois ela auxiliará os profissionais a lidarem com as desigualdades sociais, tentando minimizá-las, além do que, muitos desses graduandos, ao se formarem, irão trabalhar dentro do SUS, e deverão levar sempre em consideração os seus princípios.

As reflexões sobre a bioética levam a efetivação das políticas de saúde, já que, assim como o SUS, objetivam o acesso equitativo e de qualidade dos cidadãos aos serviços da saúde, para que não só um grupo tenha o direito à saúde.18 A bioética atua em vários campos acadêmicos, inserindo-se na resolução de dilemas morais e éticos, além de situações como o início e fim da vida, assim, não está vinculada apenas à área da saúde. Desse modo, ela deve ser vinculada para além da deontologia e dos códigos de ética profissionais, de forma mais ampla e que abarque a tomada de decisões frente aos diversos dilemas éticos, sempre se amparando na ética profissional.19,20

Estudos realizados com profissionais da Estratégia de Saúde da Família - ESF, demonstrou que muitos dos profissionais ainda confundem ética na profissão com bioética, ou então, restringem a bioética apenas ao campo das ciências da saúde, e sabe-se que a mesma é mais ampla, pois associa ainda sobre decisões relacionadas com a implicação moral da práxis humana.21

Nesse sentido, especial atenção deve ser dada às matrizes curriculares dos cursos de graduação, quanto ao conteúdo programático das disciplinas de bioética, já que a distorção de conceitos apresentados pelos discentes pode estar relacionada à bioética ser trabalhada nas matrizes curriculares junto com as disciplinas de deontologia, assim, faz-se necessário uma revisão das ementas dos cursos para tentarem dissociar as disciplinas, trabalhando-as isoladamente.

No que concerne a imposição de limites ao progresso da ciência, imposto pela bioética, observa-se que a bioética trata-se de tentar resolver os dilemas criados pelos avanços tecnológicos, já que esse implica na renovação das formas de agir e decidir, e não impõe uma barreira a essas descobertas. Portanto, a bioética apenas irá, de maneira racional, resolver os problemas éticos, considerando sempre, seus princípios e os valores morais.22

Sob está perspectiva, ainda é necessário disseminar o seu conhecimento existente, dando ênfase as necessidades do paciente, reconhecendo a autonomia dos sujeitos, o direito de compartilhar a conduta terapêutica com os profissionais de saúde visando a promoção de sua saúde, de modo a interferir no curso da doença, no diagnostico, no tratamento e na sua reabilitação.2

Com tudo, não existe limites ao progresso da ciência, e sim a sua utilização, já que essa deve estar pautada na bioética principialista, respeitando sempre a dignidade da pessoa humana.23 Portanto, observa-se que ao concordarem com a afirmativa cinco, os participantes parecem respeitar tais princípios.

Conclusão

O conhecimento da bioética pelos acadêmicos da área da saúde trata-se de uma temática relevante, visto que essa propõe sensibilizar o discente sobre as decisões de dilemas e problemas éticos que virão a surgir no exercício de sua profissão. Vale ressaltar que, conhecimento da bioética torna-se ainda mais relevante para os profissionais de saúde que estão em atuação profissional, uma vez que, o amparo nos princípios que norteiam à bioética, desde sua formação, pode garantir qualidade na assistência de saúde baseada nos pressupostos da dignidade, integridade e autonomia dos sujeitos, vertentes estas que estão a favor da defesa da vida da pessoa humana, e apresenta grande repercussão na relação paciente-profissional durante sua atuação profissional.

Os discentes apresentam conhecimento acerca dos objetivos e dos princípios da bioética, pois esta visa o bem social, respeitando a beneficência, não maleficência, justiça e autonomia. Porém, alguns participantes ainda demonstram confusão teórica para conceituar a bioética, uma vez que essa disciplina na maioria das vezes não é ofertada em seu curso, já que algumas afirmativas que inferiam sobre conceito, obtiveram padrão heterogêneo. Diante dos dados evidenciados, o ensino da bioética tem sido visto como uma preocupação pelos gestores e coordenadores de cursos da área da saúde nas universidades.

Este estudo possui limitações no seu delineamento metodológico, tendo em vista que trata-se de um estudo coorte transversal, fato que dificulta estabelecer relação de causa e efeito. Vale evidenciar que não foi possível investigar em todos os cursos da área da saúde, principalmente pelo fato da universidade pesquisada não oferecer todos os cursos da área da saúde, e talvez pelo fato de não oferta o ensino da bioética como disciplina curricular nos cursos de saúde selecionados como amostra da pesquisa.

Não obstante, pode-se inferir a necessidade de novos estudos sobre essa temática a fim de construir evidências para direcionar possíveis transformações no ensino da bioética nas universidades, reforçando a importância da incorporação de princípios bioéticos durante sua formação profissional.

Declaração de conflito de interesses

Todos os autores certificam que não possuem quaisquer conflitos de interesse relacionado ao artigo.

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Recebido: 30 de Julho de 2017; Aceito: 24 de Maio de 2018

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