A docência se constitui como uma das profissões mais antigas e, por muito tempo, uma das mais conceituadas no cerne da sociedade, quando o professor era percebido como o alicerce da escola e possuía papel importante na progressão dos objetivos das instituições educativas (Machado et al., 2011; Barros & Pisciotta, 2012). Os professores compreendem uma classe desafiada a se atualizar constantemente, a compreender a diversidade dos estudantes e a diversificar as estratégias de ensino, para que assim conquistem maiores oportunidades para cumprir seu papel no processo ensino e aprendizagem (Araújo, Miranda & Pereira, 2017).
As mudanças ocorridas na sociedade levaram estes profissionais da educação a se adequarem e adequarem suas práticas pedagógicas, no intuito de atenderem às novas exigências de uma sociedade dita moderna, globalizada e com visão diferenciada de outros séculos (Barros & Pisciotta, 2012). No cenário das transformações sociais, a busca pela melhoria da qualidade da educação se apresenta evidente e, consequentemente, torna-se proeminente um olhar dirigido à satisfação no trabalho da classe docente, a qual possui papel determinante na tarefa de educar, uma vez que o nível de satisfação laboral tem sido constantemente atrelado ao nível de desempenho dos docentes e à eficácia destes no alcance dos objetivos educativos (Ramos Holanda et al., 2016). Deste modo, a satisfação no trabalho se torna um tema extremamente relevante e complexo quando se trata do desempenho profissional em qualquer área, inclusive na área educacional (Araújo et al., 2017).
Ao considerar que a satisfação no trabalho interfere no desempenho do indivíduo em sua atividade ocupacional (Araújo et al., 2017), entende-se que maiores níveis de satisfação no trabalho, apresentados pelos docentes, podem resultar em melhores resultados escolares, obtidos pelos estudantes, aspecto fundamental no contexto da docência (Ramos Holanda et al., 2016), uma vez que o desempenho dos professores tem impacto direto na aprendizagem e no sucesso dos estudantes (Machado et al., 2011). Todavia, a docência parece paulatinamente perder sua referência no âmbito social, desencadeando certa desvalorização desta profissão e desestimulando os docentes no exercício do magistério (Barros & Pisciotta, 2012).
A satisfação no trabalho se caracteriza assim como uma variável de natureza emocional ou afetiva, advinda da avaliação das condições psicossociais do trabalho e da consequente atitude do trabalhador em relação a ela (Andrade, Barbosa, Souza & Moreira, 2015), representando “[...] a soma dos diferentes sentimentos que o trabalhador manifesta em relação a sua atividade laboral” (Oliveira, Ribeiro & Afonso, 2018, p. 83).
Relativamente à satisfação no trabalho docente, profissão esta compreendida como de substrato relacional ou de substrato emocional, importa compreender como se estabelece a relação positiva ou negativa do professor com a profissão e como se caracterizam os sentimentos relatados pelos professores em relação aos distintos aspectos relacionados ao exercício da docência e ao trabalho pedagógico (Figueiredo & Rojo, 2008; Oliveira et al., 2018).
No cenário investigativo da satisfação no trabalho de professores da Educação Básica, estudos brasileiros (Both et al., 2016; Nascimento, Folle, Rosa & Both, 2016; Ramos Holanda et al., 2016; Veiga, Afonso, Farias, Sinott & Ribeiro, 2017; Oliveira et al., 2018) e internacionais (Chen, 2010; Zhang, 2007; Bota, 2013; Anaya Nieto & López-Martin, 2015) têm demonstrado, em sua maioria, que os professores, apesar de se apresentarem satisfeitos de modo geral com a sua profissão e com as relações estabelecidas no lócus de intervenção profissional, apresentam descontentamentos, principalmente, com a remuneração que recebem e/ou com as condições de trabalho nas escolas em que atuam. Enfatiza-se que estes fatores podem ser prejudiciais à saúde dos professores, levando à redução da qualidade de vida, ao abandono da profissão e, até mesmo, a doenças oriundas do ambiente profissional, como estresse e síndrome de Burnout (Llorent & Ruiz-Calzado, 2016).
No caso específico dos professores de Educação Física, observam-se na produção científica sobre satisfação no trabalho associações com características profissionais, como: vínculo empregatício (Folle, Borges, Borges, Coqueiro & Nascimento, 2008a; Nascimento et al., 2016; Veiga et al., 2017), pluriemprego (Both et al., 2016) e ciclos de desenvolvimento profissional (Folle, Borges, Coqueiro & Nascimento, 2008b; Both, Borgatto, Lemos, Ciampolini & Nascimento, 2013; Farias, Both, Folle, Pinto & Nascimento, 2015; Rocha, Squarcini, Cardoso & Farias, 2016; Veiga et al., 2017). Por outro lado, variáveis voltadas às características pessoais (sexo, idade e estado conjugal) desta classe trabalhadora são pouco investigadas (Folle et al., 2008a, 2008b; Moreira, Nascimento, Sonoo, Both, 2010; Both, Nascimento, Sonoo, Lemos & Borgatto, 2014, Muñoz-Méndez, Gómez-Mármol & Martínez, 2017). Tais estudos não encontraram diferenças significativas entre homens e mulheres, evidenciaram resultados inconclusivos com relação à faixa etária (professores mais jovens ora se apresentam mais satisfeitos ora mais insatisfeitos) e identificaram que os professores casados apresentam maior percepção de satisfação no trabalho do que os solteiros.
Deste modo, observando-se a não congruência nos resultados apresentados na literatura em relação a determinados fatores individuais associados à satisfação no trabalho e com o intuito de ampliar as discussões em torno desta temática no contexto da docência educacional brasileira, esta pesquisa apresenta como objetivo analisar a satisfação no trabalho dos professores de Educação Física da rede municipal de ensino de São José (Santa Catarina, Brasil), considerando sexo, faixa etária e estado conjugal.
Metodologia
Participantes
A pesquisa foi realizada no ano de 2016, em São José, cidade litorânea da região Sul do Brasil, com população estimada de 242.927 habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano de 0,809. A Secretaria Municipal de Educação possui 36 Centros de Educação Infantil e 23 Centros Educacionais Municipais, atendendo aproximadamente 23.890 estudantes. A população da pesquisa compreendeu os 95 professores que lecionavam o componente curricular Educação Física nessa rede de ensino.
A amostra não probabilística (todos foram convidados a participar) foi composta por 73 professores, com média de idade de 36,8 (±10,1) anos, o que correspondeu a 74,8% da população. Dentre os participantes do estudo 56,2% eram mulheres e 43,8% homens; 58,9% possuíam parceiro e 41,1% não possuíam; 37,0% dos docentes possuíam até 30 anos de idade e 63,0% possuíam 31 anos ou mais. Além disso, destaca-se que 53,5% dos professores tinham até nove anos de experiência docente e 46,5% tinham 10 ou mais anos.
Instrumentos de medida
Na coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos autoaplicáveis:
Questionário sociodemográfico, elaborado pelos autores, composto por duas partes, quais sejam: informações pessoais (sexo, idade e estado conjugal); e informações profissionais (formação acadêmica, anos de docência total, tempo de serviço na rede de ensino, vínculo empregatício na rede, carga horária de trabalho total, carga de horária de trabalho na rede, local de trabalho, etapa de ensino, docência como principal fonte de renda, outras fontes de renda, número de escolas que atua, número de turmas que atua). Neste estudo, foram utilizadas as variáveis referentes às informações pessoais.
Escala de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho percebida por professores de Educação Física do Ensino Fundamental e Médio - QVT-PEF (Both et al., 2006), a qual avaliou a percepção dos professores de Educação Física quanto a satisfação no trabalho.
A escala QVT-PEF é composta por 34 questões que estão distribuídas em oito dimensões: remuneração e compensação; condições de trabalho; autonomia no trabalho; progressão na carreira; integração social; leis e normas do trabalho; trabalho e espaço total de vida; relevância social do trabalho; e com possibilidades de resposta em escala de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Na validação do conteúdo, apresentou índices superiores a 70% de concordância entre os especialistas e na avaliação da reprodutibilidade, 94,1% das questões obtiveram forte coeficiente de correlação de Spearman (>0,60). A consistência interna geral do instrumento, verificada por meio do Alfa de Cronbach, foi considerada excelente (0,94) (Both et al., 2006).
Procedimentos
Para realização da pesquisa, entrou-se em contato com a coordenadora de Educação Física da Secretaria de Educação e agendou-se uma reunião para apresentar o estudo e obter o consentimento para a realização deste. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos de uma Universidade Pública do Sul do Brasil (parecer 974.054/2015). A participação dos docentes ocorreu mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados foram coletados em dois encontros de formação continuada ofertada pela Secretaria Municipal de Educação, a qual acontece uma vez por mês e faz parte das atividades profissionais dos professores de Educação Física da rede. Os encontros ocorreram na Casa do Educador e na Secretaria Municipal de Educação de São José. Os questionários foram entregues aos professores em intervalo das atividades da formação continuada e recolhidos ao final do preenchimento.
Tratamento estatístico
Inicialmente, os professores foram categorizados quanto ao sexo (feminino e masculino), considerando a resposta efetivada pelos professores, quanto à idade (até 30 anos: início da vida adulta e 31 anos ou +: processo de consolidação familiar e profissional), agrupando-os de acordo com a divisão dos ciclos vitais, proposta por Sikes (1985), a qual apresentou similaridade com a realidade da região Sul do Brasil (Both et al., 2014), e quanto ao estado conjugal (com companheiro e sem companheiro), considerando com companheiro os professores que responderam as opções casado ou união estável, e sem companheiro os professores que assinalaram as opções solteiro, divorciado ou viúvo.
Quanto à satisfação no trabalho, empregaram-se as equações de ponderação de Lemos (2007) para transformar e classificar os escores (-100,00 a +100,00), realizando-se o teste Kolmogorov‐Smirnov para verificar a normalidade dos dados. Considerando a não distribuição normal dos dados, foi empregada a mediana (Md), como medida de tendência central e o intervalo interquartil (Q1:Q3) como medida de dispersão. Na análise estatística inferencial, empregou-se o teste Prova U Mann-Whitney para comparar a satisfação no trabalho com as variáveis sociodemográficas. Todas as análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do programa SPSS, versão 20.0. Ressalta-se que em todas as análises estatísticas o nível de confiança adotado no estudo foi de 95,0% (p<0,05).
Resultados
A análise da satisfação no trabalho, de acordo com o sexo dos professores de Educação Física (Tabela 1), evidenciou diferença significativa somente com a dimensão condições de trabalho (p=0,01), constatando-se que as mulheres estavam mais satisfeitas do que os homens nesta dimensão.
- | Sexo | - | - |
---|---|---|---|
Dimensões do trabalho | Feminino Md (Q1;Q3) | Masculino Md (Q1;Q3) | p |
Avaliação global | 75,00 (50,00 ; 87,50) | 62,50 (3,13 ; 75,00) | 0,06 |
Remuneração | 8,33 (-25,00 ; 33,33) | -4,17 (-43,75 ; 16,67) | 0,17 |
Condições de trabalho | 33,33 (0,00 ; 50,00) | 2,78 (-31,94 ; 26,39) | 0,01 |
Autonomia no trabalho | 66,67 (22,22 ; 77,78) | 50,00 (22,22 ; 76,39) | 0,60 |
Progressão na carreira | 50,00 (25,00 ; 75,00) | 45,84 (16,67 ; 58,33) | 0,26 |
Integração social no trabalho | 33,33 (13,33 ; 50,00) | 23,34 (-5,00 ; 40,00) | 0,14 |
Leis e normas do trabalho | 50,00 (29-17 ; 75,00) | 50,00 (10,42 ; 72,92) | 0,28 |
Trabalho e espaço total de vida | 16,67 (-16,67 ; 58,34) | 8,34 (-29,17 ; 50,00) | 0,60 |
Relevância social do trabalho | 77,78 (44,44 ; 88,89) | 55,56 (36,11 ; 77,78) | 0,08 |
Legenda: Md - mediana (medida de tendência central); Q1:Q3 - intervalo interquartil (medida de dispersão); p - probabilidade estimada pelo teste Prova U de Mann Whitney.
Fonte: elaboração própria
Na avaliação da satisfação no trabalho dos professores, conforme a faixa etária (Tabela 2), encontrou-se diferença estatisticamente significativa na avaliação global (p=0,05) e nas dimensões condições de trabalho (p=0,02), autonomia no trabalho (p<0,01), progressão na carreira (p<0,01) e relevância social do trabalho (p<0,01), sendo que os professores com até 30 anos de idade estavam menos satisfeitos do que os professores com mais de 31 anos.
- | Faixa Etária | - | p |
---|---|---|---|
Satisfação no Trabalho | Até 30 Anos Md (Q1;Q3) | 31 Anos ou + Md (Q1;Q3) | |
Avaliação global | 62,50 (0,00 ; 75,00) | 66,97 (38,40 ; 87,50) | 0,05 |
Remuneração | 0,00 (-16,67 ; 25,00) | 0,00 (-43,75 ; 33,33) | 0,78 |
Condições de trabalho | -5,56 (-22,22 ; 27,78) | 30,56 (0,00 ; 51,39) | 0,02 |
Autonomia no trabalho | 44,44 (16,67 ; 61,11) | 66,67 (38,89 ; 83,33) | <0,01 |
Progressão na carreira | 25,00 (0,00 ; 41,67) | 58,33 (31,25 ; 75,00) | <0,01 |
Integração social no trabalho | 26,67 (-26,67 ; 40,00) | 33,33 (13,33 ; 60,00) | 0,07 |
Leis e normas do trabalho | 50,00 (8,33 ; 66,67) | 54,17 (25,00 ; 75,00) | 0,12 |
Trabalho e espaço total de vida | 0,00 (-16,67 ; 50,00) | 16,67 (-16,67 ; 54,17) | 0,59 |
Relevância social do trabalho | 44,44 (22,22 ; 77,78) | 77,78 (52,78 ; 88,89) | <0,01 |
Legenda: Md - mediana (medida de tendência central); Q1:Q3 - intervalo interquartil (medida de dispersão); p - probabilidade estimada pelo teste Prova U de Mann Whitney.
Fonte: elaboração própria
Ao analisar a satisfação no trabalho, considerando o estado conjugal dos professores de Educação Física da rede municipal de ensino (Tabela 3), não houve diferença estatisticamente significativa tanto na avaliação global quanto nas dimensões do trabalho avaliadas entre docentes sem e com parceiro.
- | Estado Conjugal | - | - |
---|---|---|---|
Satisfação no Trabalho | Sem Parceiro Md (Q1;Q3) | Com Parceiro Md (Q1;Q3) | P |
Avaliação global | 62,50 (42,86 ; 87,50) | 56,25 (9,38 ; 75,00) | 0,21 |
Remuneração | 0,00 (-16,67 ; 25,00) | 0,00 (-52,08 ; 27,08) | 0,72 |
Condições de trabalho | 22,22 (-11,11 ; 38,89) | 13,89 (-25,00 ; 50,00) | 0,70 |
Autonomia do trabalho | 66,67 (22,22 ; 77,78) | 55,56 (20,83 ; 72,22) | 0,23 |
Progressão na carreira | 50,00 (25,00 ; 66,67) | 37,50 (12,50 ; 68,75) | 0,55 |
Integração social no trabalho | 33,33 (13,33 ; 60,00) | 26,67 (-15,00 ; 40,00) | 0,06 |
Leis e normas do trabalho | 58,33 (25,00 ; 75,00) | 50,00 (22,92 ; 60,42) | 0,15 |
Trabalho e espaço total de vida | 33,33 (-16,67 ; 50,00) | 0,00 (-20,84 ; 37,50) | 0,33 |
Relevância social do trabalho | 66,67 (44,44 ; 88,89) | 55,56 (33,33 ; 77,78) | 0,20 |
Legenda: Md - mediana (medida de tendência central); Q1:Q3 - intervalo interquartil (medida de dispersão); p - probabilidade estimada pelo teste Prova U de Mann Whitney.
Fonte: elaboração própria
Discussão
O objetivo deste estudo foi analisar a satisfação no trabalho dos professores de Educação Física, considerando sexo, faixa etária e estado conjugal. A análise da avaliação global da satisfação no trabalho com o sexo dos docentes de Educação Física não revelou diferenças, apesar do sexo feminino apresentar índices mais elevados de satisfação.
Estudos desenvolvidos com docentes do Reino Unido (Crossman & Harris, 2006), do Brasil (Folle et al., 2008a, 2008b; Araújo et al., 2017), da Colômbia (Rojas, Zapata & Grisales, 2009), da Turquia (Demirtas, 2010), da África do Sul (Strydom, Nortjé, Beukes, Esterhuyse & Westhuizen, 2012) e da Espanha (Muñoz-Méndez et al., 2017) também não encontraram diferenças significativas entre os sexos na avaliação global da satisfação no trabalho. Entretanto, nos estudos de Folle et al. (2008a, 2008b) e Demirtas (2010), as mulheres apresentaram-se mais satisfeitas no ambiente de trabalho do que homens. Em contrapartida, nas investigações de Crossman & Harris (2006) e de Both, Borgatto, Lemos, Ciampolini & Nascimento (2017), os homens estavam mais satisfeitos do que as mulheres.
Investigação conduzida com professores israelenses verificou diferença estatisticamente significativa entre os sexos, evidenciando que as professoras possuem níveis altos de satisfação, enquanto seus colegas apresentam níveis de baixa satisfação na docência escolar (Bogler, 2002). Neste contexto, Machado & Silva (2014) corroboram que, especificamente em termos de pesquisas sobre satisfação no trabalho e sexo dos funcionários, as mulheres têm apresentado níveis mais altos de satisfação do que os homens. A satisfação no trabalho, ao estabelecer relação com as crenças e as expectativas na atuação docente, realmente incide na percepção de que as professoras se demonstram mais otimistas frente a sua profissão em detrimento aos homens (Farias, Nascimento, Graça & Batista, 2011).
No que tange à comparação das dimensões do trabalho com o sexo dos docentes de Educação Física, constatou-se que as mulheres estavam mais satisfeitas com as condições de trabalho. Resultados similares foram divulgados em pesquisa com professores gregos (Koustelios, 2001), os quais evidenciaram que o sexo se apresenta como um preditor significativo com relação às condições de trabalho, em que as mulheres se apresentam mais satisfeitas. Por outro lado, resultados apresentados em estudo com professores de Educação Física de escolas estaduais da região Sul do Brasil revelaram que os homens se apresentam significativamente mais satisfeitos com as condições de trabalho e com o trabalho e espaço total de vida (Both et al., 2017).
De modo similar, investigação com professores de países africanos evidenciou que os homens estavam mais satisfeitos com alguns componentes da satisfação do trabalho referentes à estrutura e aos processos organizacionais, em virtude de estes considerarem mais justo o sistema de promoção, recompensas e incentivos, além de as escolas permitirem aos homens maior autonomia para o uso de suas habilidades (Al-Mashaan, 2003). Torna-se perceptível nas relações estabelecidas no cenário escolar, que professores do sexo masculino, de acordo com a demanda de atividades a serem desempenhadas, tendem a apresentar maior percepção de satisfação em vista da postura e da ocupação de cargos de gestão. Embora, historicamente, a carreira do magistério tenha viés de feminização (Valle, 2003).
No que se concerne à satisfação no trabalho e à faixa etária dos professores de Educação Física, evidenciou-se que, com o aumento da idade, os professores percebem-se mais satisfeitos com o contexto de sua intervenção profissional. Presume-se que os profissionais com idade mais elevada e, provavelmente com maior tempo de serviço, tendem a adaptar-se ao trabalho e conceberem uma perspectiva mais objetiva, no sentido de atribuir valores mais elevados às facetas do trabalho que, por vezes, são consideradas insatisfatórias por trabalhadores mais jovens (Carrillo-García, Solano-Ruíz, Martínez-Roche & Gómez-García, 2013). No entanto, resultados divergentes destes foram divulgados por Crossman & Harris (2006), em que professores do Reino Unido mais jovens (até 30 anos) apresentaram satisfação mais elevada.
Na comparação das dimensões da satisfação no trabalho com a faixa etária, os professores investigados neste estudo, que tinham até 30 anos de idade estavam mais satisfeitos com as dimensões condições de trabalho, autonomia no trabalho, progressão na carreira e relevância social do trabalho. Estudos com professores de Educação Física, atuantes em redes estaduais da região Sul do Brasil, também encontraram resultados divergentes no que se refere à avaliação das dimensões do trabalho. No caso brasileiro, Both et al. (2014) constataram que os professores de Educação Física com 30 a 39 anos estavam mais insatisfeitos com as condições de trabalho. Por sua vez, Moreira et al. (2010) evidenciaram que, com o aumento da idade, os docentes estavam mais satisfeitos com as condições de trabalho. Além disso, verificaram que os professores estavam satisfeitos com a autonomia no trabalho, a progressão na carreira, as leis e normas do trabalho e a relevância social, apesar de os valores de satisfação diminuírem com o avançar da idade.
Quando comparado o estado conjugal com a satisfação no trabalho dos docentes de Educação Física, as diferenças não foram estatisticamente significativas. Apesar de se observar que os professores sem companheiro apresentaram índices mais elevados de satisfação. Em investigação com professores gregos (Koustelios, 2001), o estado conjugal não se caracterizou também como uma variável preditora da satisfação no trabalho. Contrariamente, Mwamwenda (1997) e Peterson & Dunnagan (1998) identificaram maiores níveis de satisfação no trabalho para o grupo de professores casados, de escolas de Transkei na África do Sul e de universidades dos Estados Unidos, respectivamente. Por sua vez, mesmo não encontrando diferença estatisticamente significativa entre satisfação no trabalho e estado conjugal, Furtado (2015) revelou que os docentes portugueses que possuíam companheiros tinham níveis mais elevados de satisfação profissional.
As informações apresentadas referentes à satisfação no trabalho e ao estado conjugal de professores, corroboram a indicação de Azim, Haque & Chowdhury (2013) de que não há uma conclusão sobre o efeito do estado civil na satisfação com o trabalho. No entanto, houve uma tendência dos funcionários casados se apresentarem mais satisfeitos no âmbito laboral. Uma explicação para tal constatação, reporta-se ao fato de o casamento impor grandes responsabilidades que podem tornar a busca por um trabalho estável mais estimado e relevante, assim como a satisfação no trabalho se caracterizar como necessária para se obter tal estabilidade, levando estes a se esforçarem para ajustar aspectos que os estejam insatisfazendo.
Conclui-se que a avaliação global da satisfação no trabalho é diferente, dependendo da faixa etária dos docentes de Educação Física (professores mais velhos mais satisfeitos). Porém, não há diferença na avaliação global da satisfação no trabalho, considerando o sexo e o estado conjugal dos professores. As condições de trabalho se diferenciaram quando comparadas ao sexo (mulheres mais satisfeitas) e à faixa etária (professores mais velhos mais satisfeitos), enquanto a progressão na carreira, a autonomia no trabalho e a relevância social se diferenciaram com relação à idade dos docentes (professores mais velhos mais satisfeitos com estas dimensões).
A limitação desta pesquisa se refere a esta ter sido conduzida com professores de uma única rede de ensino. Entretanto, na realidade brasileira são poucas investigações que buscaram avaliar características pormenorizadas das redes municipais de ensino. Recomenda- se que os novos estudos investiguem a realidade de outras cidades, abrangendo assim, uma parcela maior de municípios e, consequentemente, a identificação de diferentes carreiras docentes determinadas pelos estatutos dos magistérios municipais.