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Enfermería Actual de Costa Rica

On-line version ISSN 1409-4568Print version ISSN 1409-4568

Enfermería Actual de Costa Rica  n.35 San José Jul./Dec. 2018

http://dx.doi.org/10.15517/revenf.v0i35.32429 

Artículos originales

Saúde bucal de usuários de drogas institucionalizados

Salud bucal de usuarios de drogas institucionalizados

Oral health of drugs users institutionalized

Warli de Brito Ferreira1 

Wagner Couto Assis2 

Weltonberg Dias Teixeira3 

Marina Ferraz Neves Oliveira4 

Lorena Andrade Nunes5 

Cezar Augusto Casotti6 

1Estudante de Odontologia, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié, Bahia, Brasil. Correio eletrônico: warlibritfer@outlook.com

2Cirurgião Dentista, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié, Bahia, Brasil. Correio eletrônico: wagnerassis2010@hotmail.com

3Cirurgião Dentista, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié, Bahia, Brasil. Correio eletrônico: weltonberg@hotmail.com

4Cirurgiã dentista, Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, Bahia, Brasil. Correio eletrônico: mfnoliveira@yahoo.com.br

5Bióloga, pós doutoranda pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, Bahia, Brasil. Correio eletrônico: lorenunes2@gmail.com

6Cirurgião Dentista, doutor, docente do Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- PPGES (UESB), Jequié, Bahia, Brasil. Correio eletrônico: cacasotti@uesb.edu.br

Resumo

O uso de drogas traz diversos malefícios para a saúde bucal, aumentando a prevalência das doenças cárie dentária e periodontal, representando um sério problema de saúde pública. Este estudo objetivou avaliar a prevalência das doenças cárie dentária e periodontal em usuários de drogas institucionalizados. Estudo epidemiológico, transversal, censitário e analítico realizado com usuários de drogas institucionalizados no período de agosto de 2016 a junho de 2017. Examinadores padronizados aplicaram um formulário para coleta de dados sociodemográficos e consumo de drogas. A cárie dentária foi avaliada através do índice CPO-D e a doença periodontal através dos indicadores clínicos: sangramento à sondagem, índice de placa, índice gengival, profundidade de sondagem e nível de inserção clínica. Foram avaliados 112 indivíduos do sexo masculino, média de idade de 36,7 anos (Dp±11,5). A droga mais consumida foi o álcool (92,0 %) por cerca de 19,4 anos (Dp±11.08), seguido do tabaco (70,95%) em média por 18,0 anos (Dp±11,66), maconha (65,2%) por 13,7 anos (Dp±8,22), cocaína (53,3%) por 8,5 anos (Dp±6,00) e crack (50,0%) por 11,1 anos (Dp±7,18). Conclui-se que a prevalência da doença de cárie foi 97,3% e da doença periodontal 51,5%. A população estudada apresentou alta prevalência de cárie dentária e doença periodontal e houve correlação entre o tempo de uso do álcool e tabaco com a doença periodontal e com maior CPO-D.

Palavras chave: cárie-dentária; doença-periodontal; saúde-bucal; usuários-de-drogas

Resumen

El uso de drogas trae diversos problemas para la salud bucal, aumentando la prevalencia de las enfermedades de caries y periodontales, representando un serio problema de salud pública. Este estudio tuvo como objetivo evaluar la prevalencia de las enfermedades periodontales y caries en usuarios de drogas institucionalizadas. Estudio epidemiológico, transversal, censitario y analítico realizado con usuarios de drogas institucionalizadas en el período de agosto de 2016 a junio de 2017. Los examinadores estandarizados aplicaron formulario para recolección de datos sociodemográficos y consumo de drogas. Las caries dentales fueron evaluadas a través del índice CPO-D y la enfermedad periodontal a través de los indicadores clínicos: sangrado al sondeo, índice de placa, índice gengival, profundidad de sondeo y nivel de inserción clínica. Se evaluaron 112 individuos del sexo masculino, media de edad de 36,7 años (Dp ± 11,5). La droga más consumida fue el alcohol (92,0%) por cerca de 19,4 años (Dp ± 11.08), seguido del tabaco (70,95%) en promedio por 18,0 años (Dp ± 11,66), (65,2%) por 13,7 años (Dp ± 8,22), cocaína (53,3%) por 8,5 años (Dp ± 6,00) y crack (50,0%) por 11, 1 años (Dp ± 7,18). La prevalencia de la enfermedad caries fue del 97,3% y de la enfermedad periodontal 51,5%. Se concluye que la población estudiada presentó alta prevalencia de caries y enfermedad periodontal y existió correlación entre el tiempo de uso del alcohol y tabaco con la enfermedad periodontal y con mayor CPO-D.

Palabras clave: caries-dental; enfermedad-periodontal; salud-bucal; usuarios-de-drogas

Abstract

Drug use causes several health hazards to oral health, increasing the prevalence of dental caries and periodontal diseases, representing a serious public health problem. This study aimed to evaluate the prevalence of dental and periodontal caries in institutionalized drug users. It is an epidemiological, cross-sectional, census-based, analytical study with institutionalized drug users, carried out from August 2016 to June 2017. Standardized examiners applied a form to collect sociodemographic data and on drug consumption. Dental caries were evaluated through the DMFT index and periodontal disease through clinical indicators: bleeding at probing, plaque index, gingival index, probing depth and level of clinical insertion. A total of 112 males, mean age 36.7 years (Dp ± 11.5) were evaluated. The most commonly used drug was alcohol (92.0%) for about 19.4 years (Dp ± 11.08), followed by tobacco (70.95%) on average for 18.0 years (Dp ± 11.66), marijuana (65.2%) for 13.7 years (Dp ± 8.22), cocaine (53.3%) for 8.5 years (Dp ± 6.00) and crack (50.0%) for 11.1 year (Dp ± 7.18). It is concluded that the prevalence of caries was 97.3% and of periodontal disease 51.5%. The studied population presented high prevalence of dental caries and periodontal disease and there was a correlation between alcohol and tobacco use time with periodontal disease and with higher DMFT.

Keywords: dental-caries; drug-users; oral-health; periodontal-disease

Introdução

O aumento do consumo de drogas lícitas (tabaco e o álcool) e ilícitas (cocaína, maconha e crack) vem gerando um sério problema de saúde pública e de difícil solução devido à natureza complexa e multifatorial que o envolve1. O abuso destas substâncias acaba gerando diversas consequências individuais e sociais, além de ter forte impacto no que diz respeito a graves complicações de saúde, comportamentos de risco, violência e problemas sociais2.

Na atualidade, tem se vivenciado intensamente um acelerado crescimento no uso de substâncias psicoativas. Este fenômeno repercute em todo o meio social, expandindo-se e atingindo todos os espaços e segmentos da sociedade3. Há estimativa de que cerca de 10% da população que reside em zona urbana de todo o mundo consome drogas de forma abusiva e que só o álcool é responsável por aproximadamente 3,2% das mortes no mundo4.

Por adentrarem no organismo pela cavidade bucal, esta fica susceptível aos efeitos maléficos dessas substâncias5, resultando em elevado número de dentes cariados, perdidos, obturados e com extração indicada (CPO-D), halitose, desgaste dentais, dentre outros6. Estes agravos podem estar relacionados com deficiências nutricionais e negligência na higiene pessoal6-7. Assim, a baixa condição socioeconômica dos usuários, associada com a redução da autoestima, com o descaso com a higiene pessoal e bucal e com a pequena taxa de procura por cuidados odontológicos são fatores de grande relevância e estão fortemente associados com a saúde bucal e com a qualidade de vida dos usuários de drogas8.

As doenças cárie dentária e periodontais são mais prevalentes em usuários de drogas do que na população geral9. Em se tratando da cárie dentária, o tempo de uso das drogas é um fator importante que aumenta o risco à doença, pois quanto maior for o tempo de uso das substâncias psicoativas, maior também será a ausência de adequados hábitos de higiene oral, já que estes usuários apresentam descaso com a saúde de modo geral10.

Levando em conta que estas patologias são as principais causadoras da perda dentária11, torna-se necessário pesquisar os fatores de risco que interferem no início do desenvolvimento e na progressão destes agravos12. Assim, considerando que os usuários de drogas, por sofrerem de privação social, apresentam piores indicadores de saúde bucal, provavelmente, devido à falta de programas preventivos, higiene bucal insatisfatória e acesso insuficiente aos serviços odontológicos13, este estudo objetiva avaliar a prevalência das doenças cárie dentária e periodontal em adultos usuários de drogas lícitas e ilícitas institucionalizados.

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, analítico, censitário, de base populacional realizado com 112 usuários de drogas lícitas e ilícitas institucionalizados em Centros de Recuperação existentes na região sudoeste do estado da Bahia. Todos os participantes pertenciam ao sexo masculino com idade entre 18 e 69 anos, média de idade de 36,7 anos (Dp±11,5). Este estudo foi conduzido no período de agosto de 2016 a junho de 2017, sendo avaliados os usuários de cinco Centros de Recuperação, sendo dois no município de Jequié e os demais nos municípios de Brejões, Barra do Choça, Jequié e Vitória da Conquista.

Participaram do estudo indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos, institucionalizados no momento da coleta de dados e que aceitaram participar da pesquisa.

O instrumento de coleta de dados foi composto por um formulário utilizado para obter informações sociodemográficas, das condições de higiene bucal e saúde geral, mensurar o tipo e quantidade de droga consumida e o tempo e frequência de uso. Em seguida, examinadores padronizados (Kappa intra-examinadores 0,91 e 0,80), utilizando equipamentos de proteção individual avaliaram, com espelho bucal plano e sonda periodontal modelo OMS, sob iluminação natural, as doenças cárie dentária e periodontal.

A doença cárie foi avaliada por meio do índice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D), preconizado pela OMS (1997)14 e a doença periodontal utilizando os indicadores clínicos: sangramento à sondagem (SS), profundidade de sondagem (PS) e nível de inserção clínica (NIC) propostos por Lindhe, Lang e Karring (2010)15, índice de placa segundo (IP) Silness e Löe (1964)16 e índice gengival (IG) proposto por Löe e Silness (1963)17.

Foram avaliados todos os dentes presentes na boca com exceção dos terceiros molares ou dentes com grande destruição coronária que impossibilitasse a avaliação dos indicadores clínicos da doença periodontal. Avaliou-se seis lugares por dente (mésio vestibular, médio vestibular, disto vestibular, mésio lingual/palatino, médio lingual/palatino e disto lingual/palatino) para todos os parâmetros periodontais. Em relação ao nível de inserção clínica e profundidade de sondagem, os valores obtidos foram categorizados em <=3 mm, >=4 <=6 mm e >=7 mm.

Para cálculo de prevalência da doença periodontal foi utilizado o critério proposto pela Academia Americana de Periodontia (2000)18, que considerou-se com a doença periodontal o participante que possuía ao menos um lugar com Profundidade de Sondagem ≥ 4 mm e Nível de Inserção Clínica ≥ 4mm. E para a doença cárie dentária adotou-se os critérios propostos pela OMS 9714.

Os dados obtidos foram tabulados e analisados no programa Microsoft Excel-2010 e PAST. Para análise dos dados, os participantes foram divididos em três grupos segundo a faixa etária: 18 a 34 anos, 35 a 44 anos e 45 a 69 anos.

Considerações éticas

Todas as etapas da coleta de dados foram realizadas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O presente estudo seguiu os princípios éticos da Resolução nº 466/12, sendo aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia sob parecer n° 2.113.718 e protocolo CAAE 65175316.0.0000.0055.

Resultados

Ao avaliar as questões sociodemográficas, verificou-se predominância de indivíduos de baixa renda e baixa escolaridade. Os dados referentes às características socioedemográficas estão descritos Tabela 1.

Tabela 1 Caracterização sociodemográfica e hábitos de higiene oral de indivíduos em centros de recuperação no sudoeste da Bahia. Jequié, Bahia, Brasil, 2017 (N=112). Frequências absolutas e relativas. 

Variáveis / categorias N %
Estado civil
Solteiro 81 72,32
Casado 18 16,07
Outros (viúvo, divorciado) 13 11,61
Grupo etário
18 a 34 anos 49 43,75
35 a 44 anos 36 32,14
45 a 69 anos 27 24,11
Escolaridade
Analfabeto 2 1,79
Fundamental completo 6 5,36
Fundamental incompleto 68 60,71
Ensino médio completo 23 20,54
Ensino médio incompleto 4 3,57
Superior completo e incompleto 9 8,04
Renda Familiar
Até 1 salário mínimo 93 83,04
Entre 1 e 2 salários mínimos 8 7,14
Maior que 2 salários 3 2,68
Não responderam 8 7,14
Local de Residência
Zona rural 13 11,61
Zona urbana 99 88,39
Escova os dentes?
Sim 108 96,43
Não 4 3,57
Quantas vezes escova ao dia?
Não escova 4 3,57
1 a 2 vezes 43 38,39
3 ou mais 65 58,04
Usa fio dental?
Sim 22 19,64
Não 90 80,36
Já fez tratamento odontológico?
Sim 88 78,57
Não 24 21,43
Sente gosto metálico na boca?
Sim 37 33,04
Não 75 66,96
Sente os dentes moles?
Sim 30 26,79
Não 81 72,32
Sem informação 1 0,89

Fonte: elaboração própria

Ao avaliar o tipo de droga consumida e o tempo de consumo, verificou-se que 65,2% consumia maconha por aproximadamente 13,7 anos (Dp±8,22); 50,0% crack em média por 11,1 anos (Dp±7,18) 53,3% cocaína por 8,5 anos (Dp±6,00), 92,0 % álcool por cerca de 19,4 anos (Dp±11.08) e 70,95% tabaco em média por 18,0 anos (Dp±11,66).

No grupo etário de 18 a 34 anos as drogas mais consumidas foram maconha e álcool, enquanto nos grupos etários de 35 a 44 e 45 a 69 anos foram álcool e tabaco. A cocaína foi mais consumida no grupo de 18 a 34 anos, onde 81,6% consumiam a droga em média por 7,45 anos (Dp±4,88). O crack foi mais consumido no grupo de 35 a 44 anos, onde 61,1% destes fazia uso da droga em média por cerca de 10,57 anos (Dp±7,71).

A prevalência da doença cárie entre os usuários foi de 97,3%, e nos grupos etários de 18 e 34, 35 e 44 e 45 a 69 foi respectivamente 83,6%, 100,0% e 100,0%. Na população estudada a média do índice CPO-D e desvio padrão foi de 16,2 (dp±8,04), e para os grupos etários de 18 e 34, 35 e 44 e 45 a 69 foi respectivamente 10,8 (dp±5,8), 19,0 (dp±7,3) e 22,3 (dp±6,2).

Ainda na população analisada, quando avaliada a composição do índice CPO-D verificou-se que, entre os elementos dentários, 37,3% encontravam-se cariados, 46,4% perdidos e 16,2% restaurados. Os dados referentes aos componentes do CPO-D segundo os grupos etários estão descritos na Tabela 2.

Tabela 2 Componentes do índice CPO-D de usuários institucionalizados no sudoeste da Bahia segundo grupo etário, Jequié, Bahia, Brasil, 2017. 

Componentes do índice CPO-D Grupo Etário Total
18 a 34 35 a 44 45 a 69
N % n % n % n %
Cariado 236 44,61 256 37,37 178 29,52 670 36,87
Perdido 147 27,79 328 47,88 375 62,19 850 46,78
Restaurado 146 27,60 101 14,74 50 8,29 297 16,35
Total 529 100,00 685 100,00 603 100,0 1.817 100,00

CPO-D = (número de dentes cariados, perdidos e obturados)

Fonte: elaboração própria

Ainda entre os indivíduos examinados, quando avaliada a necessidade de tratamento odontológico, verificou-se que os tratamentos mais indicados foram: restauração de duas ou mais superfícies dentais (53,5%), restauração de uma superfície dental (18,7%), extração do elemento dental (18,3%), tratamento pulpar mais restauração (8,0%), faceta estética (0,8%) e coroa por qualquer razão (0,7%). Quando avaliada a necessidade de tratamento segundo os grupos etários de 18 a 34, 35 a 44 e 45 a 69 anos, identificou-se que respectivamente a restauração de duas ou mais superfícies foi indicada em 51,2%, 55,3% e 53,9%, seguido da restauração de uma superfície em 23,2%, 14,1% e 19,7% e a exodontia em 16,4%, 20,1% e 18,1%.

Em se tratando dos parâmetros periodontais, em função da perda dentária, foram avaliados somente 97 dos 112 participantes. A prevalência da doença periodontal foi de 51,5%, sendo nos grupos etários de 18 e 34, 35 e 44 e 45 a 69 respectivamente 27,9%, 76,7% e 62,5%.

Entre os participantes avaliados, o sangramento à sondagem esteve presente em 26,2% dos sítios dentais. Quando este parâmetro foi analisado segundo os grupos etários 18 a 34, 35 a 44 e 45 a 69 anos, identificou-se que o mesmo esteve presente respectivamente em 23,5%, 27,7% e 30,1% dos lugares.

A recessão gengival esteve presente em 12,4% dos lugares avaliados. Sendo nos grupos etários 18 a 34, 35 a 44 e 45 a 69 anos, respectivamente, 3,7%, 17,5% e 31,6%.

Em relação a presença de placa bacteriana nos sítios dentais avaliados, 48,4% não apresentaram placa bacteriana (IP 0), 24,1% leve acúmulo de placa (IP 1), 17,0% moderado acúmulo de placa (IP 2) e 10,5% severo acúmulo de placa (IP 3). Quanto ao índice gengival, 47,3% estavam sem inflamação gengival (IG 0), 31,4% apresentaram leve inflamação gengival (IG 1), 16,6% apresentaram moderada inflamação gengival (IG 2) e 4,7% apresentaram severa inflamação gengival (IG 3). Os percentuais dos índices de placa e gengival por grupo etário estão descritos na Tabela 3.

Tabela 3 Índices de placa e gengival por sítio dental avaliado segundo grupo etário de usuários de drogas institucionalizados. Jequié, Bahia, Brasil, 2017. 

Índices de Placa (IP) e Gengival (IG) Grupo Etário
18-34 35-44 45-69
IP (%) IG (%) IP (%) IG (%) IP (%) IG (%)
Grau 0 52,04 50,16% 52,31 50,33 32.61 33,04
Grau 1 25,25 34,46% 21,78 26,36 23,61 30,92
Grau 2 16,69 14,35% 14,21 17,35 21,33 21,94
Grau 3 6,02 1,03% 11,69 5,96 22,45 14,10

Fonte: elaboração própria

Em relação a profundidade de sondagem (PS) 94,7% dos sítios foram classificados em <=3 mm, 4,4% em >=4 <=6 mm e 0,9% em e >=7 mm. Já em relação ao nível de inserção clínica (NIC), 89,2 % foram classificados como <=3 mm, 8,6 >=4 <=6 mm e 2,2 e >=7mm. Os percentuais do NIC e PS por grupo etário estão descritos na Tabela 4.

Tabela 4 Nível de Inserção Clínica e Profundidade de Sondagem em usuários de drogas institucionalizados de acordo com o grupo etário, Jequié-Bahia, Brasil, 2017. 

Indicadores Periodontais Grupo etário
18-34 35-44 45-69 Total
Nível de Inserção Clínica n % n % n % n %
<=3 mm 6105 97, 28 3129 82,39 1566 77,22 10800 89,24
>=4<=6 mm 155 2,47 540 14,22 342 16,86 1037 8,57
>=7 mm 16 0,25 129 3,39 120 5,92 265 2,19
Profundidade de Sondagem
<=3 mm 6306 98,04 3261 89,54 1895 93,44 11462 94,71
>=4<=6 mm 106 1,65 328 9,01 100 4,93 534 4,41
>=7 mm 20 0,31 53 1,46 33 1,63 106 0,88

NIC: Nível de Inserção Clínica. PS: Profundidade de Sondagem

Fonte: elaboração própria

Com a análise de componentes principais (ACP) notou-se associação entre o tempo de consumo do álcool e do tabaco com a ocorrência da doença periodontal. Também houve associação entre o tempo de consumo do álcool e do tabaco com o CPO-D, conforme Figura 1.

Figura 1 Gráfico de dispersão a partir das análises de componentes principais e biplot. A: Relação da doença periodontal com o tempo de uso de drogas e a idade; B: Relação da CPO-D com o tempo de uso de drogas e a idade. 

Discussão

Estudos que abordam os efeitos do uso de drogas ilícitas sobre a saúde bucal são escassos em razão da dificuldade na triagem de pacientes dependentes destas substâncias psicoativas19. Apesar da prevalência de consumo destas substâncias ser maior em indivíduos do sexo masculino10,23, este estudo examinou apenas homens em centros de recuperação de dependentes químicos existentes na região, em decorrência de serem específicos para o público masculino.

Ao analisar o perfil sociodemográfico de 51 usuários de drogas assistidos pelo Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e outras Drogas (CAPS -ad) na cidade de Parnaíba-PI, os autores identificaram que entre os usuários do serviço prevaleceram os do gênero masculino, adultos, com baixo nível de escolaridade, baixa renda e que consumiam principalmente álcool, tabaco e crack, geralmente há mais de cinco anos20. Estes resultados corroboram com o do presente estudo, visto que também prevaleceram indivíduos com baixa renda, baixo nível de escolaridade e que consumiam vários tipos de drogas há mais de 5 anos.

O uso de substâncias psicoativas tende a reduzir a capacidade cognitiva, consequentemente diminui a motivação para desempenhar as tarefas do dia a dia como a higiene bucal21. Em um estudo realizado no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e outras Drogas (CAPS-ad) na cidade de Campina Grande/ PB, que avaliou 70 usuários do serviço, os autores identificaram que 77,15% destes apresentaram saúde bucal deficiente ou precária10. Estas descobertas corroboram com os dados obtidos pelo presente estudo, uma vez que os usuários institucionalizados relataram escovar os dentes 3 vezes ou mais durante o dia. Entretanto, estas descobertas não vão de encontro ao quadro clínico observado, visto que clinicamente os usuários analisados apresentavam uma saúde bucal deficiente, em que mais da metade dos lugares dentais avaliados apresentaram presença de biofilme e inflamação gengival.

As substâncias psicoativas ilícitas têm um grande poder de levar ao vício. O usuário acaba se tornando dependente tanto física como psicologicamente destas drogas22. O consumo de vários tipos de drogas acaba sendo um problema comum presenciado em pesquisas com esta população, sendo por isso, complexo conhecer o efeito individual de determinada droga neste cenário24. Neste estudo, a maioria dos participantes (85,71%) consumia mais de um tipo de droga, sendo as mais consumidas: álcool (92,0%), tabaco (70,5%), maconha (65,2%), cocaína (53,3%) e crack (50,0%). Corroborando com estes resultados, foi identificado um estudo realizado com 61 usuários de drogas institucionalizados em centros de recuperação na região sudoeste da Bahia, no qual as drogas mais consumidas foram respectivamente: álcool (93,2%), tabaco (74,6%), maconha (72,9%) e crack (56,9%)25.

A ação direta das drogas nos tecidos bucais traz efeitos deletérios, ocasionando altos níveis de perdas dentárias e da doença cárie26. O uso continuado de substâncias tóxicas com capacidade de dependência tem grande potencial de aumentar o valor do índice CPO-D27. No presente estudo, a média do índice CPO-D foi 16,22, sendo nos grupos etários de 18 a 34, 35 a 44 e 45 a 69, respectivamente 10,8; 19, 0 e 22,3. Valores superiores da média do CPO-D foram obtidos em um estudo realizado em Madrid19, que avaliou a condição bucal de 64 pacientes com idade entre 30 e 56 anos, encontrando média do CPO-D de 22,7. A baixa qualidade de vida da população de usuários de substâncias psicoativas pode estar relacionada com o alto número de dentes cariados, obturados e perdidos (CPO-D)8.

Outra doença que apresenta alta prevalência em usuários de drogas lícitas e ilícitas é a doença periodontal. Este agravo é classificado como uma doença inflamatória crônica progressiva e multifatorial onde estão envolvidos microrganismos, fatores genéticos, ambientais e resposta do hospedeiro28. No estudo realizado em Madrid19, 52 dos 64 usuários de drogas apresentaram doença periodontal, sendo a prevalência de hospedeiro28 81,3%. Estes dados são semelhantes com os obtidos no presente estudo, no qual também identificamos alta prevalência de doença periodontal (51,5%). A diferença entre os dois estudos pode ser explicada devido aos diferentes hábitos de higiene entre as populações, tendo em vista que no estudo espanhol19, 64,1% dos usuários não tinham o hábito de escovar os dentes e 17,2% escovavam apenas uma vez por dia. Já no presente estudo, embora a higiene fosse deficiente, 58,0% dos entrevistados relataram que escovam os dentes 3 ou mais vezes por dia e apenas 3,6% não tinha o hábito de realizar escovação.

A doença periodontal está associada com baixas condições socioeconômicas, dificuldades no acesso aos serviços de saúde, etilismo, tabagismo, alto consumo de açúcares, obesidade e pobre higiene oral29. Para Matos e Godoy29, o tabaco é tido como o fator de risco mais importante para o desenvolvimento da doença periodontal. A observação clínica realizada em pacientes usuários de tabaco e não usuários portadores de doença periodontal durante mais de 30 anos de experiência profissional na área de odontologia, demonstrou que algumas características clínicas são significativamente mais frequentes em tabagistas quando comparado aos não tabagistas. Estas características incluem presença de cálculo, alteração no epitélio e tecido conjuntivo, perda óssea e mobilidade dentária29.

O uso indevido de bebidas alcoólicas tem relação direta com o aumento do risco para o desenvolvimento da doença periodontal e de fatores complicadores para o tratamento desta patologia7. Os usuários dependentes dessa droga geralmente negligenciam a higiene oral, o que favorece a colonização de microrganismos formadores da placa bacteriana7. Em uma pesquisa realizada na cidade de Londres com 300 usuários de álcool e outros tipos de drogas e 363 usuários apenas de álcool, os autores concluíram que o grupo de usuários de álcool e outras drogas tinha um risco 38% maior de ter dentes cariados e perdidos em comparação com o grupo de usuários apenas de álcool30. Estes resultados também vão de encontro com esta investigação. Como a grande maioria dos usuários de drogas era usuária de álcool em associação com outras substâncias, os resultados da Análise de Componentes Principais (ACP) mostraram correlação entre o tempo de consumo de álcool e tabaco e uma maior prevalência de doença periodontal e um maior número de dentes cariados e perdidos. O consumo de álcool geralmente acarreta graves consequências, incluindo o maior risco de desenvolvimento da doença periodontal e de efeitos adversos durante a execução do tratamento desta patologia7.

Levando em consideração os efeitos das drogas sobre a saúde bucal, em uma revisão sistemática e em uma meta-análise realizada por Hooman Baghaie et al.31, os autores concluíram que pessoas com distúrbios de abuso de drogas possuem taxas maiores de cárie dentária e doença periodontal.

Conclusão

Com base nos resultados obtidos conclui-se que a população estudada apresentou alta prevalência das doenças cárie dentária e periodontal. Houve correlação entre o tempo de uso do álcool e tabaco com a doença periodontal e com maior CPO-D. Neste sentido, medidas de prevenção e controle das doenças cárie dentária e periodontal devem ser adotadas junto a dependentes de drogas lícitas e ilícitas visando minimizar os efeitos destas substâncias sobre os tecidos bucais dos usuários.

Conflito de interesse

Os autores declaram que não têm nenhum tipo de interesse econômico, social, pessoal ou de trabalho.

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Recebido: 14 de Fevereiro de 2018; Aceito: 15 de Abril de 2018

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