Introdução
O Atendimento Pré-Hospitalar (APH) é definido como toda e qualquer assistência realizada fora do contexto hospitalar, envolvendo desde orientações até procedimentos de primeiros socorros1. Este serviço pode ser de forma fixa ou móvel. O Atendimento Pré-Hospitalar Móvel (APHM) por sua vez configura-se, em nível nacional, como uma ferramenta essencial para garantir a sobrevida e reduzir as sequelas dos agravos à saúde, sejam eles de natureza clínica, traumática, gineco-obstétrica, psiquiátrica, pediátrica, dentre outras2,3.
Vigora mediante a Política Nacional de Atenção às Urgências e as determinações do Sistema Único de Saúde (SUS), com os princípios de integralidade, equidade e universalidade, e as diretrizes de descentralização, hierarquização e regionalização, visto que opera por intermédio de uma Central de Regulação que organiza os serviços diminuindo a superlotação dos hospitais e prontos-socorros4.
No Brasil e no mundo, o atendimento nas áreas de urgência e emergência tem se tornado cada vez mais expressivo, devido ao aumento da demanda do APH, assim vários fatores têm contribuído para este fato, como por exemplo, o aumento da violência urbana, o crescente número de acidentes, a necessidade de aprofundar o processo de consolidação dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência, as distâncias intermunicipais de referência para a atenção especializada e de alta complexidade, a necessidade de ordenar a assistência, garantindo atenção qualificada e resolutiva para as pequenas e médias urgências, estabilização e referência adequada para casos graves dentro do SUS, a ampliação de serviços de APH e transporte inter-hospitalar públicos e privados5-7.
Neste contexto, diante do crescente índice de mortalidade por causas externas e cardiovasculares, o Ministério da Saúde implantou no ano de 2002 por meio da Portaria nº 2048/GM, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), com o objetivo de reduzir o índice de mortalidade, o tempo de internação hospitalar e as séquelas ocasionadas pela falta de atendimento precoce, assegurando a ampliação desta especialidade pelo SUS e contribuindo com a integralidade da assistência ofertada à população8.
O SAMU realiza o APH nas vias públicas, locais de trabalho e residências, o atendimento é realizado após a ligação gratuita, feita através do número 192, a chamada é atendida por funcionários na Central de Regulação que identificam a emergência e transferem o telefonema para o médico regulador, que posteriormente, faz o diagnóstico da situação e inicia o atendimento com orientações pertinentes a cada caso e encaminha uma determinada viatura para o local, conforme o nível de complexidade9,10.
Assim por meio de toda estrutura do SAMU e seu funcionamento, com equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e condutores/socorristas, existem as características do trabalho dessas equipes, que envolvem tanto a convivência em ambiente de confinamento durante o período de plantão, quanto às especificidades que envolvem os atendimentos que precisam ser estudados e compreendidos. Diante do que acima foi exposto, surge a seguinte indagação: Quais as principais características do trabalho de profissionais dos serviços de atendimento pré-hospitalar móvel?. E o objetivo deste estudo é identificar as características do trabalho de profissionais dos serviços de atendimento pré-hospitalar móvel.
Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa de caráter descritivo, realizada durante o período de outubro de 2017 a março de 2018, utilizando os seguintes descritores conforme os Descritores de Ciência da Saúde (DeCS): Atendimento Pré-hospitalar, Serviços Médicos de Emergência e Características, nas Bases de Dados Eletrônicas: Base de Dados em Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE).
Para seleção dos artigos pertinentes a temática estudada, foram especificados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais, disponíveis gratuitamente na íntegra, em idioma português e inglês, publicados entre os anos de 2010 a 2016 nas bases de dados supracitadas, com abordagem metodológica descritiva, transversal, retrospectiva, exploratória ou fenomenológica e que abordassem sobre o atendimento pré-hospitalar móvel levando em consideração o objetivo aqui proposto. Foram excluídos: artigos de revisão, editorial, relatos de experiência, estudos de casos, teses, dissertações, monografias, artigos publicados fora do recorte temporal estabelecido e que não respondiam à pergunta norteadora deste estudo.
Foram encontrados através das buscas com os descritores 247 artigos, que passaram por três etapas, a primeira consistiu na análise dos títulos, resumos e objetivos, confrontando-os com critérios de inclusão estabelecidos e selecionados os julgados adequados para a segunda etapa, assim foram selecionados 24 artigos e excluídos 223 por não estarem em conformidade com tais critérios. Os artigos selecionados passaram por uma análise integral de seu conteúdo, por 2 autores de forma independente, para refinar ainda mais os resultados desta pesquisa, assim foram inclusos na mesma, 11 artigos e excluídos 13 por fugirem do tema proposto. A terceira etapa consistiu em elaborar uma síntese crítica dos artigos selecionados na fase anterior, para composição dos resultados desta pesquisa. A Figura 1 descreve este processo em forma de fluxograma conforme as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta (PRISMA)11.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Resultados
Foram inclusos nesta pesquisa 11 artigos que retratam sobre as características dos Serviços de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel a nível nacional e internacional, relacionada ao trabalho dos profissionais que nelas atuam. A Tabela 1 descrita abaixo, organiza os artigos inclusos informando os autores, ano de publicação, título do artigo, periódico de publicação, tipo de estudo e síntese crítica dos resultados.
Tabela 1. Descrição dos autores, ano, título do artigo, periódico de publicação e síntese dos resultados dos artigos inclusos. Cachoeira, Bahia, Brasil, 2018.
Nº | AUTOR(S) E ANO | TITULO DO ARTIGO | PERIODICO DE PUBLICAÇÃO | TIPO DE ESTUDO | SÍNTESE DOS RESULTADOS |
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01 | Romanzini EM, Bock LF. 201012 | Concepções e sentimentos de enfermeiros que atuam no atendimento pré-hospitalar sobre a prática e a formação profissional | Revista Latino-Americana de Enfermagem | Estudo descritivo | Evidencia os sentimentos despertados no atendimento pré-hospitalar, as experiências vivenciadas no trabalho, as atribuições do enfermeiro no atendimento pré-hospitalar, o preparo pessoal e profissional, a reflexão sobre a formação acadêmica e a visão do enfermeiro sobre o APH. |
02 | Carreno I, Veleda CN, Moreschi C. 201513 | Características da equipe de Atendimento Pré-Hospitalar no interior do Rio Grande do Sul | REME: Revista Mineira de Enfermagem | Estudo exploratório, descritivo | Observou-se que a maioria dos entrevistados são homens, com predominância de técnicos de enfermagem, seguido de médicos e enfermeiros, com carga horaria média de 12 horas e experiência profissional superior a cinco anos no APH. A grande maioria conhece os protocolos institucionais e afirmam não necessitar de melhorias. |
03 | Casagrande D, Stamm B, Leite MT. 201314 | Perfil dos atendimentos realizados por uma Unidade de Suporte Avançado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) do Rio Grande do Sul | Scientia Medica | Estudo transversal, retrospectivo | A população atendida pela USA do SAMU de Ijuí constituiu-se de uma predominância masculina, na terceira idade. Os atendimentos clínicos mais frequentes estão relacionados há distúrbios cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, que incluem as doenças crônico-degenerativas já esperadas em virtude do envelhecimento da população. Em relação aos procedimentos realizados, prevaleceram os procedimentos não invasivos do suporte básico de vida. |
04 | Pereira R.; Souza B, Luz M. 201315 | Estresse da equipe de enfermagem do corpo de bombeiros no atendimento pré-hospitalar móvel | Esc. Anna Nery Rev. Enfermagem. | Estudo qualitativo descritivo-exploratório | Constatou-se que a equipe de enfermagem do APH do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) é exposta a estresse constante, alterando seus hábitos de vida repercutindo diretamente na saúde. Dentre as principais causas de estresse, destacam-se: a interação do SAMU com Corpo de Bombeiros Militar e os hospitais de referência, atendimentos que não se caracterizam como urgência ou emergência. |
05 | Maia EC, Miranda MDC, Caetano JÁ, Carvalho ZMF, Santos MCL, Caldini LN. et al. 201216 | Evaluation of the level of stress of the nursing of mobile emergence care service | R. pesq.: cuid. fundam. online | Estudo exploratório, transversal, quantitativo | Percebeu-se a presença de estressores ocupacionais vivenciados pelos profissionais de enfermagem. Foram mencionados fatores externos desencadeantes de estresse psicológico, prevalecendo o desrespeito no trânsito, má sinalização, buracos, carência de materiais, atendimento em áreas de risco, mau relacionamento com a comunidade, péssimas condições de trabalho e viaturas precárias. |
06 | Cyrillo RMZ, Dalri MCB, Canini SRS, Carvalho EC, Lourencini RR. 200917 | Nursing diagnoses in trauma victims attended in a mobile advanced pre-hospital care service | Rev. Eletr. Enf. [Internet] | Estudo descritivo, prospectivo | Evidenciou a prática e predominância da utilização dos diagnósticos de enfermagem (DE) em vítimas de traumas, atendidos por um SAMU do interior paulista. Observou-se que os DE mais frequentes são os relacionados às necessidades da integridade da pele, circulação e percepção sensorial. |
07 | Almeida PMV, Dell'Acqua MCQ, Cyrino CMS, Juliani CMCM, Palhares VC, Pavelqueires S. 201618 | Análise dos atendimentos do SAMU 192: Componente móvel da rede de atenção às urgências e emergências | Escola Anna Nery - Revista de Enfermagem | Estudo de campo, exploratório-descritivo | Evidenciou-se a incidência de atendimento as ocorrências clínicas, as menos frequentes foram as gineco-obstetricas e psiquiatras. Com nível baixo de atendimentos feito pela USA, em relação a USB. |
08 | Santana JCB, Silva RCL, Souza VAG, Graças, APRM, Oliveira MM, Tálamo CP. 201219 | Ethics and Humanization of Service in a Pre-Hospital Care: What Do You Think Health Care Professionals | R. pesq.: cuid. fundam. online | Estudo descritivo, exploratório e qualitativo | Discute o pensamento dos profissionais do serviço de APHM sobre a ética e humanização no atendimento, onde conclui-se que o respeito mútuo entre esses profissionais é fundamental para boas relações, viabilizando ações voltadas para a assistência de qualidade. Por meio do acolhimento seguro dando dignidade à vítima, além da boa interação entre a equipe. Também foi mencionado que na ocorrência de falhas na assistência, surgem vários conflitos perante a equipe como críticas ao profissional que realizou um procedimento malsucedido. |
09 | Silva SF, Lucio DBM, Ilha S, Diefenbach GD, Pereira JC. 201320 | Difficulties Lived in an Urgency Mobile Service: the Nurse Team Perception | R. Enfem. Cent. O. Min. | Estudo descritivo, exploratório e qualitativo | As principais dificuldades mencionadas neste estudo foram: desconhecimento da comunidade sobre a real função do SAMU e por esta razão acionam o serviço sem necessidade; dificuldade e demora ao conseguir contato com a regulação do serviço, falta de coesão entre a equipe e desvalorização salarial. |
10 | Brasil. Portaria GM 2.048. 200210 | An evaluation of the professional, social and demographic profile and quality of life of physicians working at the Prehospital Emergency Medical System (SAMU) in Brazil | Clinics | Estudo transversal | Notou-se uma maioria de médicos jovens, com poucos anos de formação e sem especialização específica em emergências pré-hospitalares, apresentando deficiências principalmente nas emergências pediátricas e psiquiátricas e no manuseio de equipamentos essenciais e nas habilidades necessárias para atender uma emergência de forma satisfatória. Quanto a avaliação da qualidade de vida, evidenciou-se entre os médicos do SAMU, especialmente os que já trabalham há mais tempo, os relatos de dor. |
11 | Andersson SO, Lundberg L, Jonsson A, Tingstrõm P, Dahlgren MA. 201721 | Doctors’ and nurses’ perceptions of military pre-hospital emergency care - When training becomes reality | ScienceDirect | Estudo empírico qualitativo, fenomenológico | Os resultados apontam que após uma missão internacional os profissionais aprendem a colaborar com outros, fornecer cuidados gerais de saúde e melhorar a medicina militar, o que pode resultar em maior segurança para os profissionais, minimizando o sofrimento e aumentando a sobrevida dos feridos. |
Fonte: Elaborado pelos autores.
Discussão
Os resultados desta pesquisa demonstram que as empresas de APHM mais solicitadas foram aquelas que não cobram pelo serviço, ligadas ao SUS ou ao governo local disponível à população sem custo. Não foram encontrados artigos realizados com empresas privadas de APHM. Sendo assim percebe-se que o serviço de APHM é de extrema importância para diminuir os índices de mortalidade, pois presta seu atendimento na comunidade, diminuindo também os riscos de deficiências e incapacidades por parte do paciente que necessita do atendimento imediato.
Ao analisar os estudos, a fim de responder o problema de pesquisa: quais as principais características do trabalho de profissionais dos serviços de atendimento pré-hospitalar móvel? Emergiram as seguintes categorias: “perfil dos profissionais, principais dificuldades encontradas no trabalho, particularidades dos atendimentos” que retratam bem as principais características dos profissionais que atuam no APHM conforme descrito na literatura científica analisada.
Perfil dos profissionais
Sobre o perfil profissional, o artigo 02 desta pesquisa descreve uma predominância do sexo masculino e de técnicos de enfermagem.
Foi percebida uma predominância de profissionais do sexo masculino nas equipes de APHM, este dado concorda com a literatura em geral. Estudo de revisão também descreve sobre a predominância do sexo masculino nas equipes que compõem esse tipo de serviço e pressupõe que tal fato seja evidenciado pelo tipo de trabalho que é realizado, e por mais que haja uma predominância feminina na enfermagem, as equipes de APHM são formadas por mais profissionais além destes, tais como o condutor socorrista e o médico quando se trata das equipes avançadas, como descrito anteriormente, o que justifica a predominância masculina22.
Outro estudo realizado com enfermeiros do serviço de APH fixo e móvel de Feira de Santana, Bahia, Brasil, descreve que 77% dos seus entrevistados eram do sexo masculino, concordando com as afirmações supracitadas23. Em outra pesquisa desenvolvida em serviços de APH de dois municípios do interior do Rio Grande do Sul, Brasil, o percentual de profissionais homens é de 75%, tal estudo foi realizado com técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos atuantes no serviço. Assim percebe-se que há preferência deste gênero para este tipo de trabalho, fato que justifica-se pela necessidade de certo condicionamento físico e agilidade que o mesmo exige13.
Outro aspecto relacionado ao perfil dos profissionais que atuam nos serviços APHM, foi a predominância de técnicos de enfermagem no serviço, isso se justifica pelo fato de haver um maior número de USB, onde nem todas têm a presença do enfermeiro, mas obrigatoriamente tem que possuir um técnico de enfermagem. No Brasil, a equipe USB do APHM é composta por um técnico de enfermagem e um condutor/socorrista e em alguns lugares, como as grandes metrópoles junta-se também a estes um profissional de enfermagem de nível superior, que por sua vez, realizam o atendimento e o direcionamento das demandas, garantindo a remoção das vítimas para serviço hospitalar de referência22.
Principais dificuldades encontradas no trabalho
Dentre as principais dificuldades vivenciadas pelos profissionais do APHM no ambiente de trabalho, os artigos 01, 04, 05, 08 e 09 destacam o estresse ocupacional, as solicitações de ocorrências desnecessárias, que é evidenciado pela falta de conhecimento da população a respeito do objetivo do APHM, a dificuldade de comunicação com a Central de Regulação de Urgências (CRU) e a desvalorização salarial.
Sobre o estresse ocupacional, foi evidenciado nos artigos 01, 04, 05 e 08, que este é provocado por diversos fatores, tais como: o desrespeito no trânsito, a falta de sinalização e os buracos nas ruas e rodovias, a precariedade de recursos materiais, a interação e receptividades do serviço de APHM com outras instituições (CBM e hospitais) e os conflitos entre os próprios profissionais da equipe. O estresse está associado a sensações de desconforto que perturbam a homeostase do corpo humano, e pode provocar diversas alterações na saúde. Um estudo descreve que os profissionais de enfermagem são muito susceptíveis ao estresse ocupacional, e por este motivo encontram-se em 4º lugar no ranking das profissões mais desgastantes do serviço público24, 25.
Nas unidades de APHM o gestor deve se preocupar em manter seu quantitativo de pessoal adequado e realizar jornadas de trabalho justas para evitar desgaste físico e emocional, pois os profissionais que atuam em situações de urgência estão mais susceptíveis ao estresse, devido à sobrecarga de trabalho, instabilidade e gravidade dos pacientes, deslocamento das viaturas, trânsito, locais de difícil acesso e aglomeração de pessoas25.
A falta de conhecimento da população em relação a função do serviço de APHM, evidenciado no artigo 09, é algo que também dificulta o serviço e acaba gerando certo nível de estresse na equipe, pois a solicitação de uma viatura de urgência e emergência a eventos desnecessários é algo bastante comum e acaba prejudicando o serviço, além de repercutir de forma direta na qualidade do atendimento.
Em Malaui, África Ocidental, o conhecimento limitado da população e a falta de acesso a equipamentos básicos de segurança, também é algo constante, o que acaba acarretando a quase inexistência do atendimento pré-hospitalar, pois na maioria das vezes as vítimas de acidentes acabam procurando o serviço hospitalar por conta própria ou com ajuda de familiares e vizinhos11.
Um estudo realizado em um SAMU do Rio Grande do Sul, Brasil, evidencia a mesma dificuldade, mostrando que é algo bastante comum, pois grande parte da população pensa que o SAMU serve para transporte de qualquer paciente, no entanto, não é função desta instituição de emergência fazer transporte de qualquer doente, e sim atender as urgências e emergências, fora do ambiente hospitalar, que apresentem algum risco de morte ou de lesões permanentes, caso não recebam atendimento adequado em tempo hábil e realizar transferências inter-hospitalares de pacientes graves, com hemodinâmica estável e que a situação clínica permita o transporte 20.
O desconhecimento da população pode ser atribuído ao fato de não buscarem novos conhecimentos, pela falta de esclarecimento sobre o serviço de saúde que devem utilizar e assim, as pessoas acabam buscando os serviços que mais lhe ofereçam vantagens ou comodidade26.
A dificuldade de comunicação das equipes com a CRU e até mesmo da comunidade em solicitar uma viatura, também retratado no artigo 09, é algo presente e tem cada vez mais aumentado, prejudicando o serviço em vários aspectos, pois a comunicação é uma ferramenta potente de trabalho no SAMU, ela é o alicerce da prestação do cuidado ao usuário, principalmente para as USB que necessitam de contato com o médico regulador para prescrição de medicamentos e decisão de condutas e encaminhamentos26, 20.
Um estudo transversal realizado na Noruega, também relata a dificuldade de comunicação em equipes de atendimento pré-hospitalar de helicópteros, a principal dificuldade mencionada é a de contato com outros serviços de emergências antes da chegada da mesma no local, porém mencionam também que após a chegada a cooperação é tida como de boa a excelente na cena12.
A desvalorização salarial, descrito nos artigos 01 e 09, é uma dificuldade encontrada não só nos serviços de APHM, mas em todas as instituições de saúde em geral, essa triste realidade é um fator que também fragiliza o serviço. Os profissionais de enfermagem, por não terem piso salarial regulamentado em lei, sofrem com essa desvalorização em todo território nacional, que acaba levando a insatisfação dos profissionais e repercute de forma direta no atendimento ao paciente27, 28.
Outro fator que dificulta o trabalho no APHM, relatado no artigo 10 é referente à falta de preparo e capacitação dos profissionais médicos que atuam na área, tal artigo evidencia que a maioria possui pouca experiência e nenhum treinamento ou capacitação específica, apresentando serias dificuldades nos atendimentos pediátricos e psiquiátricos10.
O artigo 11 destaca a importância dos treinamentos destacando os resultados de um grupo de médicos e enfermeiros após missão militar internacional, onde afirmam que os treinamentos devem ser implantados para otimizar e qualificar o serviço, resultando em maior segurança na promoção de cuidados, aumentando a possibilidade de vida dos feridos e minimizando sofrimento.
Estudo realizado na Espanha conclui que uma parcela dos profissionais médicos possuem capacitação e cursos voltados ao atendimento ao trauma, como o ATLS, porém são poucos os centros nacionais que possuem treinamento obrigatório como critério, assim percebe-se que é preciso galgar um longo caminho para chegar ao nível de implementação e desenvolvimento satisfatório13.
Particularidades dos atendimentos
A respeito das peculiaridades referentes às ocorrências, foram percebidos nos artigos 03, 06, 07 e 10, que a maioria dos pacientes atendidos pelo APHM são jovens, adultos e idosos de predominância masculina, as principais solicitações são de origem clínica e traumática, como descritos nos artigos inclusos.
O artigo 3 retrata sobre a predominância de clientes do sexo masculino, outro estudo descreve que a distribuição dos usuários atendidos pelo SAMU, conforme as faixas etárias e sexo, mostrou que a maioria foram homens26.
A literatura afirma que o perfil de morbidade de causas externas no Brasil, segue um padrão mundial, pois acomete mais a população de adultos jovens do sexo masculino. Estudo epidemiológico realizado no SAMU de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, menciona que a maioria dos atendimentos a acidentes de trânsito foram com pessoas do sexo masculino e relaciona este dado aos fatores socioculturais, negligências ao volante e uso abusivo de álcool e drogas29.
As ocorrências mais prevalentes de acordo com os artigos 03, 06 e 07, foram as de procedências clínica, destacando os distúrbios cardiovasculares e respiratórios, e as traumáticas. A literatura cientifica afirma que os distúrbios cardiovasculares são as maiores causas de mortes no Brasil e acredita-se que essas taxas podem aumentar cada vez mais nos próximos anos, devido à persistência de hábitos de vida inadequados e pelo envelhecimento da população3. A respeito dos acidentes traumáticos, percebe-se que a maior incidência foi com acidentes no trânsito. Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde sobre internações hospitalares e gastos com tratamentos no Brasil, identificou que no ano de 2011, foram internados em hospitais públicos cerca de 153.565 vítimas de acidentes de trânsito30, 14.
Estudo Internacional realizado na Turquia conclui um alto índice de lesões e violência relacionado ao trabalho no país, destacando-se as lesões físicas e verbais aos profissionais durante a assistência, e os acidentes automobilísticos, deixando grande parte (57,6%) dos profissionais insatisfeitos com o serviço, o que necessita de estratégias para diminuir e prevenir a violência e os acidentes 14.
Nos Estudos Unidos, estudo realizado entre o período de 2012 a 2015 descreve que o número de casos de violência por ano, entre os profissionais de serviços médicos de emergência variou de 250 a 560 casos, com risco proporcionalmente maior com os funcionários do sexo feminino 15.
Assim percebe-se que o trabalho nas instituições de APHM é algo desafiador, além do risco que as equipes sofrem em seus atendimentos, que pode ser em qualquer lugar, enfrentam as dificuldades mencionadas neste artigo. Desse modo, é necessário buscar aprimorar e superar tais desafios, onde os gestores precisam estar cientes de tais condições para que medidas sejam tomadas para minimizar certas dificuldades e proporcionar um ambiente de trabalho mais adequado e harmonioso31-33.
Conclusão
Percebe-se que os serviços de APHM trazem diversas peculiaridades e características no trabalho de seus profissionais, no entanto, foram poucas as publicações que abordaram diretamente sobre este tema.
Dentre elas, conclui-se que a maioria dos profissionais e das vítimas atendidas são do sexo masculino, há uma predominância de técnicos de enfermagem, as principais dificuldades encontradas estão relacionadas ao estresse ocupacional, falta de conhecimento da população, dificuldade de comunicação e desvalorização profissional, a respeito das ocorrências a maior incidência são de origens clínicas e traumáticas.
Dessa forma, sugere-se a realização de novas pesquisas direcionadas a tal temática, para expor o conhecimento dos serviços de APHM por outro ângulo, com foco nos profissionais e no ambiente de trabalho.
Conflito de interesse
Os autores declaram não haver nenhum tipo de interesse econômico, social, pessoal ou de trabalho.