Introdução
A infecção pelo Human Immunodeficiency Virus (HIV), durante décadas, compromete pessoas em toda população mundial, independente de classe social, sexo, opção sexual, cultura ou idade. Desde a sua descoberta até os dias atuais muitas iniciativas por parte dos governos, profissionais da saúde e da educação foram feitas a fim de promover ações educativas para a população acerca das vias de transmissão do vírus, prevenção e tratamento, como também para tentar diminuir o estigma e preconceito que a doença acarreta. Devido a estas ações, nos últimos anos houve a estagnação de novos casos de HIV no mundo, porém, no Brasil, os casos entre jovens tenderam a aumentar1.
A taxa de detecção de casos de Acquired Immunodeficiency Syndrome, (AIDS) de 2006 a 2016, no Brasil, entre jovens do sexo masculino de 15 a 19 anos triplicou (de 2,4 para 6,7 casos por 100 mil habitantes) e entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa multiplicou de 15,9 para 33,9 casos por 100 mil habitantes. Assim, o crescimento da AIDS na juventude mostra-se uma preocupação importante e as ações nesse segmento têm de ser intensificadas¹.
Alguns autores citam fatores que podem sustentar esta vulnerabilidade e dificuldade de assimilação dos conteúdos sobre essa temática com os adolescentes. As características emocionais, a falta de habilidades e responsabilidade afetivo sexual, fragilidades no âmbito social e familiar, aspectos que levam os jovens a experimentar situações de riscos que os tornam vulneráveis às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e AIDS2)- (3.
Com o impulso sexual da própria fase, somada as várias informações dos meios de comunicação, os adolescentes estão expostos à contaminação pelo HIV2. Dois estudos relatam que os programas de ações educativas não atingem os grupos mais vulneráveis e que falta contextualização a partir da realidade sociocultural dos jovens, além de avaliações do impacto destes. Porém, apesar da precariedade dessas ações, as práticas educativas em saúde ainda são aliadas para educar os jovens sobre uma gama de assuntos, incluindo o do HIV/AIDS4)- (5.
Estas ações ocorrem através de oficinas que proporcionem metodologias com atividades mais lúdicas, ativas, focando no esclarecimento da temática, formas de transmissão e prevenção, e para isso, a escola ainda é o lugar ideal, pois oferta várias possibilidades de conhecimentos, são eles: advindos da mídia, alunos, professores e suas vivências, tornando-se importante a integração dos profissionais de educação e saúde para trabalhar na questão da saúde escolar6.
Com isso, é considerado um ambiente onde eles passam maior parte do dia e muitos estabelecem os seus primeiros laços de amizade, namoro e até despertam o interesse sexual. Sendo assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS), no documento “Promoción de la salud mediante las escuelas ” reconhece a relação que existe entre educação e saúde; a partir disto, julga que pode-se empregar este conhecimento para ajudar a estabelecer escolas que melhorem a educação e aumentem o potencial de aprendizagem ao mesmo tempo que melhoram a saúde, pois a boa saúde apoia um aprendizado proveitoso, e o aumento da aprendizagem melhora a saúde7.
Nesse contexto, para que essas ações educativas sejam implementadas nas escolas, os profissionais tornam-se o elo entre os conhecimentos acerca da infecção pelo HIV/AIDS e os adolescentes. Estes profissionais são por muitas vezes responsáveis pela promoção à saúde e devido o contato direto com a população, o que leva ao estabelecimento de uma relação de confiança que pode facilitar a implementação dessa troca de saberes.
De acordo com o exposto, esses profissionais para melhorar sua atuação, devem ter conhecimento dos diversos métodos de abordagens educativas entre adolescentes sobre a HIV/AIDS, para esclarecer os conteúdos sobre o tema que condicionam os jovens a obterem um comportamento sexual seguro, ao demonstrar as formas de transmissão e prevenção e esclarecer as dúvidas, tabus, estigmas e preconceitos que permeiam a infecção pelo HIV.
Com essa proposta, este estudo foi construído após serem visualizados os dados sobre o aumento do número de novos casos dessa infecção nos jovens, mesmo com várias opções de ações educativas para esse público e tem como objetivo avaliar na literatura científica os impactos das ações educativas sobre prevenção de HIV/AIDS entre adolescentes nas escolas.
Materiais e método
O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre ações educativas realizadas em escolas sobre prevenção de HIV/AIDS operacionalizada por seis etapas: identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa; estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/amostragem ou busca na literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados; apresentação da revisão/síntese do conhecimento8.
A partir do exposto, foi realizada a identificação do tema e elaboração da seguinte questão norteadora: “Quais os impactos dos resultados de ações educativas sobre prevenção de HIV/AIDS entre adolescentes nas escolas?”
Como critérios de inclusão utilizou-se de publicações científicas completas disponíveis gratuitamente na íntegra nas bases de dados selecionadas, publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, que respondessem à questão norteadora sem limite temporal. Não foi realizado recorte temporal visando abranger o maior número de publicações. Os critérios de exclusão foram artigos que não correspondiam ao objetivo do estudo, repetidos nas bases de dados, revisão integrativa, editoriais, opiniões de especialistas e cartas ao editor.
Para a busca dos artigos nas bases de dados, foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): educação em saúde, saúde do adolescente, HIV, síndrome de imunodeficiência adquirida; prevenção & controle; instituições de ensino. Estes descritores foram associados através do uso do operador booleano “AND”, para ampliar o número de artigos durante a busca. Foi realizado o seguinte cruzamento em todas as bases de dados: “Educação em saúde” AND “Saúde do adolescente” AND “HIV” AND “Instituições de ensino”; “Educação em saúde” AND “Saúde do adolescente” AND “Síndrome de imunodeficiência adquirida” AND “Prevenção & controle” AND “Instituições de ensino”.
Com o objetivo de selecionar os artigos científicos para a realização da revisão integrativa, foram realizadas buscas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), na Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Banco de Dados em Enfermagem (BDENF) e Coleciona-SUS (Figura 1).

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Figura 1 Fluxograma representativo da seleção de artigos utilizados na revisão integrativa. Natal/RN, Brasil, 2018.
A busca ocorreu entre os meses de janeiro a maio de 2018, sendo realizada pelas pesquisadoras do estudo de forma independente conforme os critérios de inclusão e exclusão. Nos casos em que ocorram divergências em relação seleção do estudo, as pesquisadoras discutiram até chegarem em consenso.
Para a coleta de dados, foi elaborado um instrumento contendo: autor(es), idioma, título, periódico, base de dados/biblioteca, tipo de estudo, nível de evidência, local de realização do estudo e principais achados. Nesta revisão foi empregado o sistema de classificação de sete níveis9)- (10, sendo: Nível I - evidências oriundas de revisões sistemáticas ou meta-análise de relevantes ensaios clínicos; Nível II - evidências derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; Nível III - ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV - estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; Nível V - revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; Nível VI - evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo e Nível VII - opinião de autoridades ou relatório de comitês de especialistas.
Após leitura e seleção de artigos, foram analisados por meio de estatística descritiva e colocados sob a forma de quadro e tabelas.
Resultados
A síntese dos resultados obtidos está descrita no Quadro 1, os artigos foram publicados entre 1994 a 2017. Os estudos foram classificados de acordo com nível de evidência e grau de recomendação9-10. Constatou-se que predominaram os estudos descritivos (40%), publicados em 2013 (15%), realizados no Brasil (65%) e com nível de evidência VI (50%).
Quadro 1 Natal/RN, Brasil. Artigos selecionados segundo periódicos, estudos, tipo de estudo, ano de publicação, país de realização do estudo, nível de evidência, 2018.
Estudo | 77.Periódico | 78.Tipo de estudo | 79.Ano de publicação | 80.País de realização do estudo | 81.Nível de evidência |
---|---|---|---|---|---|
2 | 84.Escola Anna Nery Revista de Enfermagem | 85.Descritivo | 86.2009 | 87.Brasil | 88.VI |
3 | 91.Revista de Patologia Tropical | 92.Descritivo | 93.2011 | 94.Brasil | 95.VI |
4 | 98.Escola Anna Nery Revista de Enfermagem | 99.Qualitativo | 100.2013 | 101.Brasil | 102.VI |
5 | 105.Revista de Saúde Pública | 106.Caso-controle | 107.2002 | 108.Brasil | 109.IV |
6 | 112.Revista Baiana de Saúde Pública | 113.Revisão sistemática | 114.2017 | 115.Brasil | 116.I |
7 | 119.Ministério da Saúde | 120.Descritivo | 121.2007 | 122.Brasil | 123.VI |
11 | 126.Revista Gaúcha de Enfermagem | 127.Descritivo | 128.2013 | 129.Brasil | 130.VI |
12 | 133.Procedia - Social and Behavioral Sciences | 134.Ensaio-clínico | 135.2011 | 136.Indonésia | 137.II |
13 | 140.Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura | 141.Descritivo | 142.2001 | 143.Brasil | 144.VI |
14 | 147.Health Education Research | 148.Caso-controle | 149.2008 | 150.Nigéria | 151.IV |
15 | 154.Reproductive Health | 155.Caso-controle | 156.2015 | 157.Etiópia | 158.IV |
16 | 161.Interface-Comunicação, Saúde, Educação | 162.Descritivo | 163.2003 | 164.Brasil | 165.VI |
17 | 168.Ciencia y Enfermería | 169.Revisão sistemática | 170.2012 | 171.Brasil | 172.V |
18 | 175.International Journal of STD & AIDS | 176.Caso-controle | 177.2008 | 178.China | 179.IV |
19 | 182.Prevention Science | 183.Caso-controle | 184.2013 | 185.Indonésia | 186.IV |
20 | 189.Revista Brasileira de Enfermagem | 190.Descritivo | 191.2004 | 192.Brasil | 193.VI |
21 | 196.Public Health Reports | 197.Revisão sistemática | 198.1994 | 199.EUA | 200.V |
22 | 203.Public Health Reports | 204.Caso-controle | 205.1994 | 206.EUA | 207.IV |
23 | 210.Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis | 211.Descritivo e qualitativo | 212.2009 | 213.Brasil | 214.VI |
24 | 217.Revista de Enfermagem UFPE | 218.Qualitativo | 219.2017 | 220.Brasil | 221.VI |
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Em relação aos desafios das ações educativas, os aspectos biopsicossociais, como idade, comportamentos de risco, vulnerabilidade foram o mais frequente, sendo citado em 3 estudos (Tabela 1).
Tabela 1 Natal/RN, Brasil. Identificação dos desafios das ações educativas, 2018.
Desafios das ações educativas | 229.Estudos | 230.Total |
---|---|---|
Aspectos biopsicossociais, como: idade, comportamentos de risco, vulnerabilidade | 233.5,11,14 | 234.3 |
Grande parte das ações se tornam curtas, pontuais e descontinuadas | 237.18,20 | 238.2 |
Profissionais de saúde tem dificuldade de ensinar aos jovens como ter empoderamento frente ao comportamento sexual seguro | 241.5,17 | 242.2 |
Timidez, receio de quebra de sigilo e falta de confiança dos adolescentes | 245.5,17 | 246.2 |
Ações apresentam metodologias pouco criativas, que não estimulam o diálogo | 249.5, 18 | 250.2 |
A forma de avaliação se torna difícil à longo prazo | 253.18,19 | 254.2 |
Eficácia insuficiente na mudança de comportamentos de riscos e nas tomadas de decisões | 257.15 | 258.1 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Considerando os resultados das ações educativas, a diminuição dos comportamentos de riscos, quebra de tabus e preconceitos estiveram presentes em 3 estudos (Tabela 2).
Tabela 2 Natal/RN, Brasil. Resultados das ações educativas, 2018.
Resultados das ações educativas | 266.Estudos | 267.Total |
---|---|---|
Diminuição dos comportamentos de risco auxilia na quebra de tabus e preconceitos | 270.13,21,22 | 271.3 |
Mudança de atitudes e comportamentos individuais dos adolescentes | 274.11,17,24 | 275.2 |
Diálogo entre jovens favorece melhores resultados na mudança de comportamentos | 278.14,15 | 279.1 |
Aumento de habilidades de saúde reprodutiva e adesão a preservativos | 282.24 | 283.1 |
Aumento do conhecimento dos métodos de prevenção do HIV/AIDS | 286.15 | 287.1 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
No tocante aos aspectos utilizados no desenvolvimento das ações educativas, a facilitação da aprendizagem mediante ações com metodologias mais lúdicas foi predominante nos estudos (3); escola foi considerada um ambiente ideal para as ações educativas (2); a avaliação deve ser contínua e sigilosa (1) (Tabela 3).
Tabela 3 Natal/RN, Brasil. Aspectos utilizados no desenvolvimento das ações educativas, 2018.
Aspectos utilizados no desenvolvimento das ações educativas 295. | 296.Estudos | 297.Total | 298. 299.|
Metodologia | 300.Metodologias mais lúdicas e ativas facilitam a aprendizagem | 301.6,9,17 | 302.3 | 303. 304. 305.
Educação por pares | 306.11,15 | 307.2 | 308. 309.|
Local de abordagem | 310.A escola é o ambiente ideal para as ações educativas | 311.19,20 | 312.2 | 313. 314.
Forma de Avaliação | 315.A forma de avaliar tem que ser contínua e sigilosa | 316.1 | 317.1 |
Fonte: Dados da pesquisa, 2018.
Discussão
Os jovens se tornam o foco das ações educativas sobre o tema HIV/AIDS por apresentarem vulnerabilidades biopsicossociais da própria fase da vida que contribuem para uma maior propensão em adquirir esse agravo. Vale ressaltar que as características como falta de união familiar, convívio com a violência, baixa autoestima, fatores culturais e religiosos, a curiosidade em experimentar riscos e sistema educacional falho promovem também maior probabilidade para adquirir IST3.
Outros fatores também são importantes, como a facilidade em iniciar mais cedo a vida sexual, ter estímulos provenientes dos meios de comunicação e mudanças nas relações entre família, escola e sociedade, oriundos das transformações próprias dos adolescentes, necessidade de ser aceito e fazer parte de um grupo. Estas são consideradas algumas condições que tornam essa população suscetível ao HIV/AIDS e outras IST4)- (11.
A escola se torna um local de importância para aplicar estas ações, pois integram diferentes saberes de alunos e educadores provenientes de experiências próprias, profissionais e de informações da mídia6,11-(13.
É na escola, onde os alunos passam maior parte do tempo, além do que, programas educativos realizados neste espaço, podem aumentar a tomada de decisões e a melhoria das habilidades, como por exemplo, utilizar corretamente os preservativos, como sair de situações de risco, como também representa um local de reunião, expressão de comportamentos, troca de informações e esclarecimento de dúvidas sem receio de sofrerem preconceitos ou advertências, onde se iniciam os primeiros namoros e relacionamentos amorosos dos jovens6,11-13.
Para que esses conhecimentos advindos de ações educativas sejam efetivos, torna-se fundamental que os profissionais da educação e os profissionais da saúde trabalhem em conjunto, com o objetivo de minimizar as vulnerabilidades dos adolescentes, ao promover, proteger e recuperar a saúde, e consequentemente, trazer uma maior qualidade de vida aos jovens6.
Alguns artigos apontaram que apesar de existirem várias ações educativas sobre HIV/AIDS, muitas não atingem o impacto esperado por não levar em consideração a idade, o comportamento de risco, contextos socioculturais, deixando de alcançar um público com maior vulnerabilidade e sugerem intervenções no comportamento individual5),11, (14.
Estudo apontou que algumas ações educativas específicas, como a educação por pares, apesar de aumentar o conhecimento sobre o tema, mostraram eficácia insuficiente em relação às mudanças no comportamento de risco e na tomada de decisão em relação às práticas que predispõem o aumento da vulnerabilidade ao HIV/AIDS15.
De acordo com os desafios envolvendo os próprios alunos e os profissionais de saúde, têm dificuldades em mostrá-los e ensiná-los como ter discernimento frente ao comportamento sexual seguro, a timidez em expressar suas opiniões e dúvidas, medo de ter o sigilo revelado e a falta de confiança no multiplicador do conhecimento16)- (17.
Em relação às ações de educação por pares, são iniciadas a partir das escolhas dos multiplicadores, pois muitos educadores escolhem esses alunos devido ao seu desempenho acadêmico e não pela sua personalidade de liderança ou por serem mais comunicativos, comprometendo essa relação de confiança que tem de haver entre eles para o bom andamento da intervenção. Apresentar metodologias mais criativas e com foco no diálogo se torna também um grande desafio para a melhor assimilação do conteúdo e maior interação entre os participantes16, (18.
A avaliação do efeito das ações, em longo prazo, se torna uma tarefa desafiadora tendo em vista o aumento da conscientização de comportamento de risco e conhecimento dos alunos advindos de outros programas ou pela mídia e outros meios de comunicação, devido a escola ser um espaço mais aberto19.
Os questionários que são geralmente utilizados para avaliar se os objetivos dos programas educacionais foram atingidos ou não, devem seguir o anonimato desde aqueles aplicados antes e depois das intervenções, não tendo o item de identificação do participante, a fim de evitar possíveis comparações e/ou constrangimentos. O tempo da ação educativa também se torna uma tarefa difícil, pois ações educativas que não têm um prazo mais longo, podem não trazer o impacto e eficácia esperados na mudança de comportamentos dos jovens, estas devem ser ações continuadas e de longo prazo18.
Estas ações continuadas e de longo prazo são feitas a um grupo e levam a transformações dos comportamentos individuais, através de uma pedagogia que leva o aluno a pensar sobre a resolução de problemas20.
Alguns estudos mostram que os programas educativos apresentam um impacto significativo em relação à diminuição dos comportamentos de riscos dos jovens, levando estes a iniciar mais tarde a vida sexual, redução do número dos parceiros sexuais, aumento da adesão ao uso de preservativos e métodos anticoncepcionais, diminuição do compartilhamento de seringas no uso de drogas, como também auxilia na quebra de tabus e preconceitos por meio da transmissão de informações e conhecimentos13, (21)- (22.
O diálogo por meio de oficinas com atividades lúdicas, favorece as discussões, reflexão sobre a sexualidade, quebra os preconceitos e ideias inadequadas que envolvem o HIV/AIDS, trazendo para os jovens a apropriação da sua sexualidade ao fazer uma autorreflexão sobre suas atitudes e comportamentos23.
Nesse contexto, um estudo mostrou que estudantes das escolas que participaram das ações educativas apresentaram um maior nível de conhecimento sobre assuntos acerca do tema, do que alunos que não participaram de tais ações, tendo suas habilidades de saúde reprodutiva aumentadas e maior adesão ao uso de preservativos nas relações sexuais, e que os efeitos de tais intervenções permaneceram a longo prazo19.
Entretanto, as ações de educação por pares se tornam as ideais e com resultados que trazem um maior impacto nas mudanças de comportamentos, atitudes e habilidades dos jovens, pois ao ter uma troca de conhecimentos entre pessoas do mesmo grupo, que se identificam um com o outro, aumenta o potencial de assimilação dos conteúdos repassados, consequentemente trazem maiores efeitos18.
A educação por pares nas escolas é uma principal ferramenta para proteger os jovens de novas infecções pelo HIV, por meio do conhecimento que é repassado entre indivíduos do mesmo grupo, facilitando a aprendizagem entre os jovens, pois eles se sentem mais à vontade em trocar experiências e esclarecer dúvidas entre si14.
A educação por pares efetua mudanças em um grupo, a partir de alguns membros inseridos nele (geralmente aquelas pessoas que exercem algum tipo de liderança ou influência), essas mudanças são individuais, mas interferem no conhecimento, atitudes, crenças ou comportamentos de cada membro do grupo. Estes grupos podem ser divididos por idade, tipo de trabalho e até mesmo por comportamento de risco14-15.
Os resultados de um estudo sobre educação entre pares15 indicaram que esta aumenta o conhecimento dos métodos de prevenção do HIV/AIDS entre estudantes do ensino médio. As ações educativas sobre HIV/AIDS se tornam uma importante ferramenta para diminuir o aumento do número de novos casos em adolescentes, que se tornam um alvo fácil por diversos fatores já descritos anteriormente. Na literatura encontrada, os autores falam que o resultado das intervenções educativas apresentam impactos positivos, porém apontaram dificuldades em avaliar a eficácia do projeto, que por muitas vezes é feita por meio de questionários aplicados ao final da ação educativa, e, em alguns casos, apresentam o item de identificação da pessoa, o que pode trazer receio do participante em responder o questionário de forma fidedigna. A avaliação deve ser feita de forma contínua durante toda a atividade, e deve ter, preferencialmente, questões fechadas, e sem a identificação do participante, pois manter o sigilo é fundamental para que não haja perda de informações5,19.
A escola é o ambiente ideal para a realização das ações educativas, pois são espaços livres, mais abertos, propícios para divulgação de informações, de formar, criar atitudes e aprender habilidades, além de ser o local onde os estudantes passam um terço do horário dos seus dias. Percebe-se também que existe o fortalecimento do laço entre educação e saúde, ao potencializar o nível de aprendizagem e conhecimento, somado a melhoria da saúde e qualidade de vida do aluno12-13.
Com o espaço ideal, a eficácia e impactos positivos são possíveis por meio de ações que são feitas respeitando o contexto sociocultural e a heterogeneidade dos alunos, com foco no diálogo e na comunicação entre educador-participante e participante-participante. Isso ocorre por meio de trabalhos em grupo, ao facilitar a troca de saberes e de experiências compartilhadas, como também estimular as relações interpessoais, favorecer a mudança de comportamento do grupo e dar o devido protagonismo na tomada de decisões em relação à saúde11,(17.
Ressalta-se que para trabalhar em grupo deve-se optar por utilizar metodologias lúdicas e ativas, que levam o aluno a imaginar-se em alguma situação de risco para infecção pelo HIV/AIDS e se torna um instrumento proveitoso para discussão dos temas, como por exemplo folders , murais, painéis, desenhos ilustrativos, palestras, oficinas educativas que colocam o indivíduo no centro da aprendizagem, seguindo o modelo de Paulo Freire, rodas de conversa, que despertem o diálogo, comunicação, troca de experiências e esclarecimentos de dúvidas entre os jovens11,17, (24.
A educação por pares torna os estudantes com mais propriedade de dialogar sobre HIV/AIDS, questões sexuais e outros tópicos relacionados ao tema com seus colegas abertamente, devido a forma de falar dos adolescentes, dessa forma contribuindo para o déficit do impacto negativo do HIV/AIDS14.
A limitação deste estudo foi encontrar um maior número de publicações que citavam especificamente os impactos dos resultados das ações educativas sobre HIV/AIDS. Entretanto, os estudos que contemplam essa revisão integrativa ressaltaram que apesar dos desafios, as ações educativas apresentam impactos significantes para diminuir o agravo do HIV/AIDS na população jovem, que é considerada vulnerável a esta situação.
Conclusão
Percebeu-se que a melhor forma de disseminar conhecimentos, informações, desmistificar o HIV/AIDS e reduzir seu impacto negativo com os jovens é através das ações educativas. Estas ações são eficazes se forem realizadas no ambiente escolar, devido aos jovens conviverem mais uns com os outros, geralmente tem-se os primeiros relacionamentos afetivos e é um local propício para a troca de saberes e experiências.
Baseado nos achados, as intervenções das ações educativas têm impactos positivos se implementadas ao respeitar todo o contexto biopsicossocial dos participantes. Além de utilizar metodologias mais ativas e lúdicas, que proporcionem empoderamento das atitudes de saúde individual e coletivo, um maior diálogo e comunicação entre os pares, para que haja maior troca de saberes, experiências, mudanças de atitudes, comportamentos de riscos e para que dúvidas, tabus e preconceitos sejam sanados.
Nesse contexto, contribui para que o maior número de jovens seja alcançado com o conhecimento acerca do HIV/AIDS, para alargar suas habilidades e atitudes frente a essa e outras IST, como também decrescer o aparecimento de novos casos de HIV/AIDS em adolescentes e seus impactos negativos.
Este estudo almeja mostrar para a população em geral e à pesquisa a relevância dos resultados que as ações educativas têm para os jovens, ao apresentar diminuição do impacto do HIV/AIDS, ao estimular o uso dessas ações, despertar o público para as pesquisas a respeito desse tema, além de mostrar os caminhos para melhoria e implementação dessas ações