1. Introdução
Os profissionais da saúde, sobretudo, os de Enfermagem, por conta de atuarem na linha de frente dos serviços de saúde, estão mais vulneráveis a acidentes, agravos e doenças relacionadas ao trabalho, a exemplo perfuração ao manuseio de objetos pontiagudos, doenças infectocontagiosas e, mais recentemente a COVID-19, entre outras. Essa situação está aumentada por conta das condições de trabalho insalubres e do dimensionamento de pessoal inadequado.
O contato direto e constante durante a assistência ao paciente, os expõem sobretudo, em razão do contato com material biológico. Estes podem ocorrer por inoculação percutânea, por meio de agulhas ou objetos cortantes, e pelo contato direto com pele e/ou mucosas não íntegras, representando um grave problema de saúde pública, tanto para as instituições, quanto para os trabalhadores (Fernandes et al., 2019; Gomes & Caldas, 2019).
Estudos apontam que a equipe de enfermagem está frequentemente exposta a material biológico, sendo os perfurocortantes os objetos mais comumente envolvidos nos acidentes. Dentre os microrganismos de maior relevância epidemiológica associados a esse tipo de exposição, destacam-se os Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e das hepatites B (HBV) e C (HCV). No Brasil, os cinco casos publicados de soroconversão ao HIV após exposição no trabalho, ocorreram com membros da equipe de enfermagem, o que reforça a interface do risco biológico (Barros et al., 2016; Cavalho et al., 2018; Fernandes et al., 2019).
Estudo realizado em um hospital público do Paraná, demonstrou que dos 1.217 acidentes notificados, 48,8 % eram com profissionais de enfermagem. Os tipos de exposição mais frequentes foram os percutâneos (65,7 %), em pele íntegra (20,5 %) e em mucosa (12,6 %). O material biológico mais comumente envolvido foi o sangue (78,9 %) (Giacontii et al., 2014). Apesar da maioria envolverem perfurocortantes, por conta da manipulação inadequada, o descarte e o reencape de agulhas são as principais causas, e qualquer contato direto com material biológico potencialmente contaminado é também considerado uma exposição e requer avaliação (Barbosa et al., 2017).
Nesse contexto, considerando a importância dos estudos sobre as condições de trabalho e o adoecimento em decorrência destas, o presente manuscrito objetiva descrever a epidemiologia dos acidentes de trabalho com exposição a material biológico por enfermeiros.
2. Metodologia
Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo e retrospectivo, desenvolvido no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Sobral – Ceará, Brasil, durante o período de março a maio de 2020, com 102 casos de enfermeiros vítimas de acidentes de trabalho, com exposição a material biológico, notificados no Sistema de Informação dos Agravos de Notificação (SINAN), entre 1º de janeiro de 2009 à 31 de dezembro de 2019.
O CEREST foi cenário da coleta de dados, e se configura como um serviço que funciona sobretudo no desenvolvimento de ações de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, com a finalidade de levar informações aos trabalhadores, associado a redução dos riscos de acidente de trabalho, representando um componente essencial para o entendimento em Saúde do Trabalhador. O CEREST de Sobral tem uma abrangência de 47 municípios, sendo composto por municípios de quatro microrregiões de saúde (Acaraú, Camocim, Crateús e Sobral) e contava, em 2017, com uma população geral de aproximadamente 1.326.974 habitantes (Plataforma RENAST online, 2017).
Os dados secundários foram extraídos da base do banco de dados do SINAN, e organizados em planilhas eletrônicas, geradas pelo sistema TabWin32®, versão 3.6b, e exportados para o programa Excel®, última versão. As características dos acidentes registrados foram obtidas por meios das seguintes categorias de variáveis selecionadas da “Ficha de Investigação de Acidente de Trabalho com Exposição a Material Biológico” (Brasil, 2016): notificação individual (sexo, faixa etária, raça/cor), antecedentes epidemiológicos (situação no mercado de trabalho), acidente com material biológico (tipo de exposição, material orgânico, circunstância do acidente, agente, uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPI) e conclusão (evolução do caso). Em seguida, os dados secundários foram sistematizados e apresentados em forma de tabela, com cálculos dos números absolutos e percentuais simples e, discutidos à luz da literatura mais recente acerca da saúde do trabalhador.
Este estudo é um recorte do projeto de pesquisa intitulado “Doença, Labor e Trabalho no Semiárido Cearense: Avaliação do perfil dos acidentes e da mortalidade por causas relacionadas ao trabalho na Zona Norte do Ceará”. Para sua realização foram observados os aspectos éticos da Resolução n° 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo protocolo submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) com o CAAE N° 47808515.4.0000.5053, e aprovado sob Parecer Nº 1.344.066.
3. Resultados
Durante o período de 2009 a 2019, o CEREST Regional Sobral registrou 102 notificações de acidentes de trabalho com enfermeiros, por exposição a material biológico; estando assim distribuídos, por ano de ocorrência: 2009 – cinco (4,9 %); 2010 – um (1 %); 2011 – 11 (10,8 %); 2012 – nove (8,8 %); 2013 –10 (9,8 %); 2014 – 19 (18,6 %), 2015 – 13 (12,8 %) 2016 – oito (7,8 %), 2017 – 12 (11,8 %), 2018 – cinco (4,9 %) e 2019 – nove (8,8 %).
A Tabela 1 apresenta o perfil dos profissionais que sofreram acidente por material biológico.
Categorias de Variáveis | n | % | ||||
Sexo | ||||||
Feminino | 79 | 77,4 | ||||
Masculino | 23 | 22,6 | ||||
Total | 102 | 100,0 | ||||
Faixa Etária (anos) | ||||||
Menos de 20 | 2 | 1,9 | ||||
20 a 29 | 60 | 58,8 | ||||
30 a 39 | 23 | 22,6 | ||||
40 a 49 | 12 | 11,8 | ||||
50 a 59 | 5 | 4,9 | ||||
Total | 102 | 100,0 | ||||
Raça/Cor | ||||||
Parda | 55 | 53,9 | ||||
Branca | 47 | 46,1 | ||||
Total | 102 | 100,0 | ||||
Situação no Mercado de Trabalho | ||||||
Empregado registrado | 66 | 64,7 | ||||
Servidor Público Estatutário | 6 | 5,9 | ||||
Trabalho Avulso | 1 | 1,0 | ||||
Cooperativado | 6 | 5,9 | ||||
Trabalho Temporário | 5 | 4,9 | ||||
Empregado não registrado | 7 | 6,8 | ||||
Servidor Público Celetista | 1 | 1,0 | ||||
Outros | 8 | 7,8 | ||||
Ignorado/Branco | 2 | 2,0 | ||||
Total | 102 | 100,0 |
Nota*n é maior que 102 por conta de ter ocorrido mais de um tipo de exposição e EPI em uso
A Tabela 2 descreve o tipo de exposição e de material orgânico a que os profissionais foram expostos e o uso de EPI.
Categorias de Variáveis | n | % |
Tipo de exposição | ||
Percutânea | 77 | 68,2 |
Mucosa | 16 | 14,2 |
Pele íntegra | 14 | 12,4 |
Pele não íntegra | 4 | 3,5 |
Outros | 2 | 1,7 |
Total* | 113 | 100,0 |
Material orgânico | ||
Sangue | 73 | 71,5 |
Fluido com sangue | 12 | 11,8 |
Outros | 7 | 6,9 |
Ignorado | 10 | 9,8 |
Total | 102 | 100,0 |
Uso de EPI | ||
Luva | 86 | 44,1 |
Avental | 18 | 9,2 |
Óculos | 10 | 5,1 |
Máscara | 70 | 35,9 |
Proteção facial | 4 | 2,1 |
Bota | 7 | 3,6 |
Total* | 195 | 100,0 |
Nota*n é maior que 102 por conta de ter ocorrido mais de um tipo de exposição e EPI em uso
Observou-se no estudo que os acidentes ocorreram em diversas circunstâncias e envolveram diferentes agentes causadores, conforme descrito na Tabela 3.
Categorias de Variáveis | n | % |
Circunstância do Acidente | ||
Punção venosa/arterial para coleta de sangue | 18 | 17,6 |
Procedimento cirúrgico | 10 | 9,8 |
Descarte inadequado de material perfurocortante em bancada, cama, chão etc. | 12 | 11,8 |
Reencape de agulhas | 9 | 8,8 |
Administração de medicação endovenosa | 4 | 3,9 |
Administração de medicação intramuscular | 8 | 7,8 |
Punção venosa/arterial não especificada | 5 | 4,9 |
Procedimento laboratorial | 6 | 5,9 |
Administração de medicação subcutânea | 1 | 1,0 |
Administração de medicação intradérmica | 1 | 1,0 |
Descarte inadequado de material perfurocortante em saco de lixo | 2 | 2,0 |
Lavagem de material | 1 | 1,0 |
Outros | 25 | 24,5 |
Total | 102 | 100,0 |
Agente | ||
Agulha com lúmen | 68 | 66,6 |
Agulha sem lúmen/maciça | 2 | 2,0 |
Lâmina/lanceta (qualquer tipo) | 11 | 10,8 |
Outros | 16 | 15,7 |
Ignorado | 5 | 4,9 |
Total | 102 | 100,0 |
Evolução do Caso | ||
Ignorado/Branco | 44 | 43,2 |
Alta paciente fonte negativo | 43 | 42,2 |
Alta sem conversão sorológica | 10 | 9,8 |
Abandono | 3 | 2,9 |
Alta com conversão sorológica | 2 | 1,9 |
Total | 102 | 100,0 |
3.1 Discussão
Os dados sociodemográficos encontrados neste estudo se equiparam a de outros (Brito et al., 2021; Dias et al., 2012; Giacontii et al., 2014; Pimenta et al., 2013; Santos & Mascarenhas, 2013; Valim & Marziale, 2012), e evidenciam que a enfermagem é uma profissão predominantemente feminina, com a tendência ao crescimento da masculinização. Essa feminilização da profissão está intrinsicamente associada à tradição e a cultura que impunha à mulher o cuidado e vigilância, transferindo para a esfera pública o que, tradicionalmente fazia na esfera doméstica. Estar no mercado de trabalho, exercendo o que exercia no doméstico traduz em menos conflito nos primórdios da emancipação feminina. Isso se estende às atividades laborais de um modo geral, e em particular na saúde, setor com forte marca da assistência, do cuidado e da promoção à saúde.
Em relação à faixa etária, houve a predominância de adultos jovens de 20 a 29 anos (58,8 %). Essa faixa etária, com base na categorização de fases profissionais, estabelecida por Machado et al. (2016), a partir do constructo da sociologia da profissões, que leva em conta a idade, o tempo de formado e a inserção no mercado de trabalho, refere-se à primeira fase “início da vida profissional” (até 25 anos), em que os jovens ainda buscam a definição de que área atuar, sendo a fase de “sonho profissional, da ilusão de uma vida profissional promissora, mas é também a fase das indecisões” (Machado et al., 2016). Outra fase que incide nessa faixa etária, é a de “formação profissional”, em que eles buscam se qualificar em “funções de maior complexidade e destreza cognitiva” (Machado et al., 2016).
O fato de a maioria dos enfermeiros estar no início da carreira pode ser um fator de risco para sofrerem acidentes de trabalho, por conta da pouca ou nenhuma qualificação para a atividade exercida, bem como por estarem num momento de desenvolvimento de sua destreza pessoal, em ações que envolvem o contato direto com o paciente e o manuseio de perfurocortantes e material orgânico. Estudo realizado por Valim e Marziale (2014), em hospitais de dois municípios brasileiros com 121 enfermeiros, a faixa etária que prevaleceu foi de 30 a 41 anos (41,3 %), sendo a média de idade igual a 37,4 anos.
A raça/cor autodeclarada segundo nomenclatura do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), prevaleceu a parda (53,9 %), seguida pela branca (46,1 %). Os dados encontrados divergem dos encontrados na pesquisa “Perfil da Enfermagem no Brasil”, em que dos 414.712 enfermeiros, 57,9 % se consideravam brancos e 31,3 % pardos (Machado et al., 2016), retratando aquele momento de realização da pesquisa de base nacional.
Com relação a ocorrência dos acidentes por exposição percutânea, também foi observado em outros estudos (Barbosa et al., 2017; Dias & Machado, 2012; Souza et al., 2014; Valim & Marziale, 2014) a associação à quantidade de procedimentos invasivos realizados pelo enfermeiro, como: punção venosa, soroterapia, gasometria arterial, coleta de exames, dentre outros. Em relação ao material orgânico envolvido nos acidentes com enfermeiros, o sangue predomina (71,5 %), fato também observado em outros estudos (Alves et al., 2013; Barbosa et al., 2017; Gomes & Caldas, 2019; Ximenes Neto et al., 2016). Quanto à exposição mucosa (Ximenes Neto et al., 2016), está atrelada, na grande maioria das vezes, a realização de procedimentos tais como aspiração, sondagem vesical, entre outros, sem o uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) (Souza et al., 2017).
Este estudo identificou mais de um tipo de exposição, o que pode estar associado à falta de capacitação para o exercício do labore, ao não uso ou uso inadequado de EPI, durante a exposição ao material biológico, bem como as condições de trabalho a que estes estão submetidos ou mesmo ao dimensionamento inadequado da equipe. A variabilidade nas circunstâncias que levaram ao acidente, reflete a magnitude dos riscos que cercam os enfermeiros durante o desenvolvimento de suas atividades laborais.
No entanto, as circunstâncias encontradas demonstram que parte dos acidentes poderiam ter sido evitados pelas medidas de precaução padrão, a exemplo, do não reencape de agulhas e o descarte adequado de perfurocortantes. Tais comportamentos também foram identificados como sendo responsáveis por acidentes de trabalho com a equipe de Enfermagem em outros estudos (Barros et al., 2016; Negrinho et al., 2017; Silva et al., 2021; Souza et al., 2017).
O manejo inadequado dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde (RSSS), pode estar associado ao descarte do material sem atentar para a segregação correta, atingindo profissionais, que pela lógica da atividade desempenhada, não mantém contato direto com o paciente, mas manuseiam os resíduos oriundos dessa assistência, como por exemplo, a equipe de higiene e limpeza e a equipe de coletores externos (Barros et al., 2016; Silva et al., 2021).
O agente causador evidenciado neste estudo assemelha-se ao encontrado em outro estudo (Ximenes Neto et al., 2016), em que dos 178.431 registros de acidentes de trabalho por exposição a material biológico com profissionais da saúde nos municípios brasileiros, mais da metade (57,5 %), foi a agulha com lúmen. Outro estudo mostrou que dos 351 casos de acidentes de trabalho com exposição a material biológico pela equipe de Enfermagem, 252 tiveram também como agente causador a agulha com lúmen (Souza et al., 2017), que a depender do tipo de contato com fluido e imunização prévia do profissional, deve ser realizada a quimioprofilaxia, profilaxia ambulatorial como caso de emergência (Soares et al., 2013).
Estudo de Marchi Junior et al. (2014) mostrou que as principais causas dos acidentes de trabalho por exposição a materiais biológicos foram o não uso de EPI, o descarte inapropriado de materiais perfurocortantes, transporte de agulhas desencapadas, desconexão de agulhas de seringas e o reencape de agulhas. Estes descartes ainda existem em grande número, muito embora diversas recomendações sobre a adoção das precauções padrões venham sendo repassadas há anos para estes profissionais.
A ocorrência de acidentes por exposição a material biológico entre a equipe de enfermagem, que na assistência é detentora do maior número de procedimentos e, consequentemente, do maior risco ocupacional, muitos desses evitáveis, reflete as condições precárias e insalubres de trabalho. É sabido que muitos têm dupla ou tripla jornada de trabalho, executam inúmeros procedimentos, com carga horária exaustiva e salários defasados, o que corrobora com a ocorrência de acidentes de trabalho, seja pelo cansaço, seja pelo não uso de EPI e manejo inadequado dos equipamentos e resíduos. Vale destacar que, as enfermeiras ainda são responsáveis pelo cuidado do lar, filhos e companheiros, o que as sobrecarregam ainda mais (Cordioli Junior et al., 2020; Guimarães Ximenes Neto et al., 2022; Julio et al., 2021).
Tais pressupostos incidem também, na forma como eles veem o acidente de trabalho com exposição a material biológico, desde a adoção de medidas protetivas, até a adesão a quimioprofilaxia (quando indicada), o acompanhamento, a notificação e o desfecho. Neste estudo evidenciou-se que a maior parte dos casos de acidentes com material biológico notificados pelo CEREST Regional, teve desfecho (evolução) do caso ignorado ou em branco (43,2 %); corroborando com estudos já disponíveis na literatura (Valim & Marziale, 2014).
O estudo realizado por Valim e Marziele (2014) demonstrou que a maioria dos enfermeiros não informa a ocorrência do acidente por não considerar a notificação importante ou por achar que acidente não foi perigoso ou devido ao esquecimento, pelo estresse gerado por este, além da demora dos retornos às unidades responsáveis. Em outro estudo que investigou a taxa de subnotificação de acidentes com material biológico em um hospital universitário do interior paulista, mostrou que muitos foram os motivos relatados pelos profissionais acidentados como justificativa para a subnotificação. Dentre eles, o mais frequentemente referido foi a crença de que o acidente ocorrido apresentava baixo risco (Marchi Junior et al., 2014).
4. Conclusão
Os acidentes de trabalho por material biológico são importantes causas de agravos dos trabalhadores da enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares), devido a vulnerabilidade oriunda das condições de trabalho, da magnitude e amplitude dos riscos, impostos muitas vezes pelas condições de trabalho insalubres e a múltipla a que estes estão submetidos. Estes não devem ser encarados como eventos cotidianos da prática profissional e devem ser frequentemente estudados a fim de fomentar políticas públicas e medidas de segurança baseadas no conhecimento epidemiológico desse agravo.
Faz-se necessário ampliar o debate sobre os acidentes de trabalho com exposição a material biológico, tanto com os empregadores, quanto com os trabalhadores da saúde, para que estes visualizem a magnitude do evento, que pode gerar “perturbações” sociais, econômicas, psicológica e, sobretudo, na situação sanitária do acometido, com a aquisição de doenças infectocontagiosas.
Os profissionais devem estar implicados com a notificação do acidente de trabalho por exposição a material biológico, priorizando seu preenchimento adequado e com todas as informações necessárias. Para isso, faz-se necessário que as empresas e serviços de segurança e proteção dos trabalhadores os capacitem e implantem o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), para que seja ofertado um ambiente seguro e melhores condições de trabalho para os trabalhadores da saúde, em especial os da equipe de enfermagem, que se mantém nos serviços de saúde, sobretudo os hospitalares, durante longas jornadas de trabalho.
Como limitações deste estudo aponta-se o número elevado de fichas com o preenchimento inadequado, com informações incompletas ou ausentes, como o “campo banco/ignorado” selecionado; bem como, poucos artigos que versem sobre a ocorrência de acidentes de trabalho por exposição a material biológico com o enfermeiro. A maioria dos estudos aborda a equipe de Enfermagem, e mais comumente, os técnicos e auxiliares de enfermagem.
Este estudo identificou que em dez anos foram notificados 102 acidentes de trabalho com enfermeiros, cuja maioria eram mulheres jovens, pardas, com vínculo empregatício. O maior número de acidentes foi por exposições percutâneos, com sangue, em punções venosas e com agulhas com lúmen. A maior parte dos sujeitos evoluiu sem registro (ignorado/Branco) ou teve alta com fonte negativo.
O conhecimento sobre a ocorrência de acidentes de trabalho por exposição a material biológico com enfermeiros pode contribuir com o debate acerca do adoecimento destes profissionais, bem como subsidiar o estabelecimento de políticas e protocolos mais seguros sobre as medidas de proteção individual e coletiva.