Introdução
As unidades de emergência do Brasil atuam como importante porta de entrada do Sistema Único de Saúde e recebem grande número de usuários. Situação que a torna prioridade federal em decorrência das fragilidades enfrentadas nos serviços de Urgência e Emergência. Dentre os profissionais de saúde atuantes nestes serviços, destaca-se o enfermeiro, um dos primeiros profissionais a ter contato com o paciente, no qual é responsável pelo acolhimento com classificação de risco, que tem como papel realizar a triagem, classificar segundo o nível de gravidade, e com base em sua avaliação inicial, coleta os dados para os possíveis diagnósticos e encaminhamento para a especialidade adequada.1,2
O enfermeiro na Urgência e Emergência desenvolve atividades nas mais diversas áreas, desde a articulação e gerência de recursos humanos e materiais, até a própria assistência e acolhimento com classificação de risco, que fundamenta sua prática no conhecimento teórico-científico, ao utilizar de meios técnicos e humanizados para tal.2 Vale destacar que a prática de acolhimento com classificação de risco, tal como o funcionamento, manejo e articulação do serviço é definido como função do enfermeiro, uma vez que apresenta habilidades e competências que influenciam nas ações desenvolvidas pela equipe de saúde, ao objetivar a integralidade e resolutividade da assistência.3
A enfermagem no âmbito da emergência desenvolve intervenções pautadas em competências pessoais/profissionais. Para verificação e definição dessas competências, é necessário a adoção de conceitos padronizados que englobam, de maneira clara, os elementos e características que a constituem, o que torna possível a mensuração destas, sendo baseada em habilidades como: desempenho assistencial, trabalho em equipe, liderança, administração do tempo e entre outras, tendo objetivo de almejar uma assistência humanizada, de qualidade e holística.4
As unidades de trauma atuam como áreas de alta complexidade assistencial dentro da rede de atenção à saúde, são esses locais que recebem pacientes críticos e que precisam de atendimento imediato e, usualmente, são divididos em áreas de acordo com a gravidade do paciente. A área vermelha é onde os pacientes mais graves são estabilizados, precisando de cuidados intensivos, manejo rápido e livre de iatrogenia. Após a manutenção e controle do quadro clínico o paciente é referenciado para outros setores, de acordo com seu nível de gravidade.5
Nesse sentindo, um dos desafios do gestor de enfermagem em serviços de emergência é identificar em cada profissional enfermeiro as suas competências, habilidades e fragilidades e rever as que necessitam de aprimoramento ou ser desenvolvidas no contexto do trabalho.6
Ao conhecer a amplitude dos serviços de emergência, o impacto das ações de enfermagem neste setor, a importância do conhecimento e avaliação das aptidões do enfermeiro para atuação na referida área da saúde, torna-se necessário analisar a competência deste profissional diante das diversas situações de emergência, para que seja possível o rastreio e identificação de fatores que podem influenciar no processo do cuidar e, consequentemente, na qualidade da assistência.
Sobre esse tema, há poucos estudos a nível nacional que avaliem a competência do enfermeiro na emergência, porém existe um instrumento validado e criado por Holanda e colaboradoras, que é pioneiro no Brasil e explora as competências desses profissionais.6 Em contrapartida a nível internacional é possível encontrar diversos estudos já validados e aplicados nesse público, mas a maioria voltados para um contexto generalista.7
Nesse sentido o objetivo da presente investigação foi analisar a competência profissional do enfermeiro no serviço de emergência hospitalar do Agreste Pernambucano.
Metodología
Trata-se de estudo descritivo, do tipo quantitativo, com delineamento transversal, realizado no período de julho a setembro de 2019, em um hospital público de referência para atendimentos de emergência no nordeste brasileiro. A unidade conta com setores de Pronto-Socorro (PS) distribuído em sala verde, amarela, vermelha e acolhimento com classificação de risco, possui também Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Centro Cirúrgico, Ortopedia e Clínica médica.8
A população do estudo foi constituída por enfermeiros, que atuavam na sala vermelha, verde, amarela e acolhimento com classificação de risco na unidade de trauma do referido hospital. Quanto aos critérios de inclusão, participaram da pesquisa os enfermeiros plantonistas e diaristas que atuavam nos setores supracitados, que constavam o nome na escala de plantão e que aceitassem participar da pesquisa. Foram excluídos aqueles que estavam de férias ou licença durante o período da coleta de dados.
A amostra foi censitária, ou seja, todos os enfermeiros que estavam escalados no período da coleta nos quatro referidos setores acima, que totalizou em 63 (100%) enfermeiros, não sendo totalmente contemplado, pois 16 (25,40%) dos enfermeiros recursou-se a participar, os mesmos alegaram falta de tempo e desinteresse de contribuir para a pesquisa.
A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação do instrumento estruturado e validado, intitulado ''Instrumento de Avaliação da Competência Profissional do Enfermeiro em Emergências'', desenvolvido por Holanda e colaboradoras.6
O instrumento é dividido em cinco módulos identificados por letras (A a E). As variáveis sociodemográficas identificadas pelo módulo ''A’’ foram: faixa etária, sexo, estado civil, número de filhos, setor que está alocado e tempo de atuação no serviço. O módulo ''B’’ identificava a formação profissional do enfermeiro, como: ano de graduação, tipo de especialização, cursos de emergência realizado nos últimos 2 anos e o envolvimento em atividades científicas.6
O módulo ''C'' constava as orientações para o uso do instrumento e as definições do grau/nível de competência distribuídos em cinco graus em Escala Likert, que o grau um correspondia a ''nada competente'', grau dois ''pouco competente'', grau três ''competente'', grau quatro ''muito competente'' e o grau cinco equivalente ao nível ''extremamente competente'', na qual a escala foi aplicada no módulo D e E.6
Em seguida o módulo ''D’’ relata um caso fictício que sofreu adaptações sendo inserido uma situação que melhor retrata a realidade de trabalho do referido hospital. O enfermeiro analisou a situação apresentada e julgava a conduta do enfermeiro descrito no caso de acordo com o nível de competência a qual avaliava ser o correto.6A situação fictícia retratava um cenário de atendimento a vítima de Parada Cardiorrespiratória (PCR) no ambiente hospitalar, no qual foram tomadas algumas medidas pela equipe de enfermagem que estavam de forma contrária aos protocolos da American Hearth Association (AHA).9
No caso descrito o enfermeiro julgava três ações relacionada a prática profissional do enfermeiro envolvido na situação fictícia, atribuindo um grau de competência para cada ação, variando do grau cinco para ''extremamente competente'' ao grau um equivalente a ''nada competente'', ou seja, de acordo com a Escala Likert descrita no módulo ''C'', tendo como resposta correta ''nada competente’’ ou ''pouco competente’’ respectivamente o grau um ou dois nas três afirmativas do caso ficticio.6
Por fim o módulo ''E’’ o enfermeiro se autoavaliava de acordo com as ações que melhor retratavam sua realidade de trabalho, divididas em sete domínios: prática profissional, relações de trabalho, desafio positivo, ação direcionada, conduta construtiva, excelência profissional e adaptação à mudança.10 O grau de competência a ser apontado pelo profissional ficou dividido em cinco colunas, que varia do grau cinco, que representa o nível ''extremamente competente'', ao grau um, que se refere ao nível de ''nada competente'' descritos nos 81 itens.6O questionário foi executado em forma de entrevista em horários estabelecidos pelos funcionários conforme sua disponibilidade no serviço.
Todas as informações foram inseridas em planilha no programa Microsoft Excel 2010. Os dados foram tabulados e analisados pelo software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science), versão 22.0. A análise foi realizada por meio de estatística descritiva (frequência absoluta e relativa, média, mediana, mínimo, máximo, desvio padrão) e a análise adicional pelo teste qui-quadrado para correlações de variáveis trabalhistas e de formação profissional em relação a resposta ao caso fictício, para verificar significância adotou-se valor de p<0,05.
A pesquisa só teve início a partir do parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Real Hospital Português de Beneficência de Pernambuco-RHP sob CAAE 12357819.3.0000.9030 e número do parecer 3.288.109. O trabalho seguiu em conformidade com a resolução nº 510/2016 e 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sempre respeitando a dignidade, a liberdade e a autonomia do ser humano envolvido, assegurando a confidencialidade e a privacidade dos indivíduos.11,12
Resultados
Na amostra pesquisada de 47 participantes, 42,60% (n=20) atuavam na sala vermelha, 23,40% (n=11) sala verde, 19,10% (n=9) acolhimento com classificação de risco e 14,90% (n=7) na sala amarela. Em relação ao sexo, 78,72% (n= 37) eram do sexo feminino e 21,28% (n=10) masculino. A idade variou entre 24 e 52 anos, com média de 33,8 anos e DP= 6,83, a mediana do tempo de experiência profissional foi de 2 anos e DP= 56,6, em relação ao vínculo empregatício 59,60% (n=28) afirmaram ter mais de um emprego.
No que tange à formação profissional, 23,40% (n=11) possuíam somente a graduação, 76,59% (n= 36) possuíam especialização concluída em áreas diversas, 17,02% (n=8) enfermeiros com especialização na modalidade de residência, dentre eles 4,3% (n=2) eram em de Urgência e Emergência e 6,38% (n=3) apresentaram modalidade de mestrado. Referente á área de especialização em Urgência e Emergência 25,53% (n=12) dos enfermeiros possuíam especialização concluída.
Ao serem indagados sobre a participação em cursos de emergências nos últimos 2 anos, 51,06% (n= 24) relataram que realizaram algum tipo de curso, dentre eles o curso de maior frequência foram Basic Life Support (BLS) e Protocolo para Classificação de Pacientes ambos com 23,40% (n=11) e no quesito que concerne as atividade cientificas realizadas nos últimos 2 anos, 42,55% (n=20) responderam que tinham feito algum tipo de atividade, dentre elas a elaboração de trabalho cientifico 34,04% (n=16), seguido de publicação de resumo de trabalho científico e artigo científico publicado em periódico ambos com 17,02% (n=8).
As tabelas 1, 2 e 3 apresentam as competências do estudo de caso, inseridas no cotidiano do processo de trabalho dos enfermeiros nos domínios ''Relações no trabalho'', ''Prática profissional'' e ''Excelência profissional''.
Nessa direção, os enfermeiros se autoavaliaram no domínio ''Relações no trabalho'' como ''muito competente'' ou ''extremamente competente'' em todas as ações como descrito na tabela 1.
No domínio ''Prática profissional'', os enfermeiros se autoavaliaram de maneira positiva registraram emissões de ''muito competente'' ou ''extremamente competente'' em todas as ações de acordo com a tabela 2.
No domínio ''Excelência profissional'' a ação ''Participa de simulação realística em emergências periodicamente'' foi a única avaliada como ''pouco competente'', as demais afirmativas os mesmos se autoavaliaram como ''competente'', ''muito competente'' ou ''extremamente competente'' conforme a tabela 3.
Na situação fictícia apresentada no questionário onde o enfermeiro entrevistado julgava o enfermeiro do cenário onde estava inserido o problema, foram descritas três afirmativas, a primeira constava sobre a Excelência Profissional relacionada à educação permanente, 65,9% (n=31) dos enfermeiros julgaram a postura do enfermeiro como ''extremamente competente'', ''muito competente'' ou ''competente'', a segunda e a terceira afirmativa estavam voltadas para Prática Profissional julgadas com o mesmo nível de competência da pergunta anterior, respectivamente 57,4% (n=27) e 61,7 % (n=29) segue na tabela 4.
Em relação a tabela 5 é possível verificar a associação de variáveis trabalhistas e de formação profissional em relação a resposta correta ao estudo fictício, nesse sentido obtém-se significância estatística nas variáveis ''atualiza-se constantemente'' e ''possuir especialização em áreas diversas''. Cabe inferir que apesar dos participantes afirmarem a prática de atualização constante e possuir de algum tipo de especialização o índice de resposta incorreta foi elevado entre eles. (Tabela 5)
Discussão
No presente estudo observou-se no que tange a formação profissional e o interesse em pesquisas científicas a baixa frequência do envolvimento dos enfermeiros nesse quesito. Percebe-se que os enfermeiros possuem uma tendência em buscar somente cursos de especialização, visto que o engajamento em pesquisas científica e os títulos de mestrado e doutorado, embora possibilitem um maior leque para qualidade do cuidado, estão associados aos projetos de construção de uma carreira docente.13,14
Destarte, a pesquisa científica em enfermagem é considerada relevante e essencial, assim sua produtividade é um alicerce para ações desempenhadas no dia a dia e consequentemente traz maior embasamento científico, que contribui para o empoderamento da enfermagem.15
Nessa direção também foi possível identificar que os enfermeiros que atuam nos serviços de Urgência e Emergência autoavaliaram o seu processo de trabalho de maneira bastante positiva, pois no domínio Relações de Trabalho foram registradas emissões de ''muito competente'' ou ''extremamente competente''. É possível perceber que há uma comunicação com a equipe de trabalho, esse contato efetivo é um dos pontos mais relevante, uma vez que o resultado de uma interação favorável possibilita padronizar ações, compartilhar conhecimentos e valores, além de facilitar as relações com o público interno e externo.13
A comunicação interna efetiva promove o desenvolvimento e manutenção de relacionamento entre os servidores, gestão e os demais colaboradores, por partilharem ideias e conhecimentos, que contribui para dinâmica de trabalho e melhores resultados.16
Ações para a prática do enfermeiro em emergências | Frequência (n) Percentual (%) | ||||
---|---|---|---|---|---|
NC | PC | C | MC | EC | |
Mantém controle emocional ao implantar soluções para os problemas | 0 (0%) | 0 (0%) | 11 (23,4%) | 24 (51,1%) | 12 (25,5%) |
Consegue acordos no trabalho com o uso do diálogo | 0 (0%) | 0 (0%) | 05 (10,6%) | 22 (46,8%) | 20 (42,6%) |
Forma vínculos com as pessoas no trabalho | 0 (0%) | 01 (2,1%) | 04 (8,5%) | 14 (29,8%) | 28 (59,6%) |
Tem comportamentos transparentes, honestos e responsáveis nas relações com as pessoas. | 0 (0%) | 0 (0%) | 01 (2,1%) | 12 (25,5%) | 34 (72,3%) |
Evita comportamentos conflitantes com as pessoas | 0 (0%) | 02 (4,3%) | 0 (0%) | 17 (36,2%) | 28 (59,6%) |
Busca estabelecer contato harmônico com o outro | 0 (0%) | 0 (0%) | 02 (4,3%) | 14 (29,8%) | 31 (66%) |
Propõe ajustes sem gerar conflitos | 0 (0%) | 01 (2,1%) | 02 (4,3%) | 18 (38,3%) | 26 (55,3%) |
Fonte: Dados da pesquisa.
Ações para a prática do enfermeiro em emergências | Frequência (n) Percentual (%) | ||||
---|---|---|---|---|---|
NC | PC | C | MC | EC | |
Faz avaliação clínica dos clientes de forma rápida | 0 (0%) | 02 (4,3%) | 08 (17,0%) | 19 (40,4%) | 18 (38,3%) |
Identifica agentes causadores de danos nas ações de atendimento dos clientes | 0 (0%) | 0 (0%) | 10 (21,3%) | 20 (42,6%) | 17 (36,2%) |
Considera as consequências de seu agir com prontidão nas emergências | 0 (0%) | 01 (2,1%) | 04 (8,5%) | 18 (38,3%) | 24 (51,1%) |
Intervém no momento correto frente aos agravos à saúde dos clientes | 0 (0%) | 0 (0%) | 06 (12,8%) | 17 (36,2%) | 24 (51,1%) |
Determina as ações necessárias para evitar danos no atendimento dos clientes | 0 (0%) | 0 (0%) | 05 (10,6%) | 20 (42,6%) | 22 (46,8%) |
Realiza todo tipo de procedimento de enfermagem com técnica segura. | 0 (0%) | 02 (4,3%) | 07 (14,9%) | 20 (42,6%) | 18 (38,3%) |
Usa recursos indispensáveis na execução dos cuidados dos clientes | 0 (0%) | 02 (4,3%) | 09 (19,1%) | 19 (40,4%) | 17 (36,2%) |
Responsabiliza-se por suas ações no atendimento de emergências | 0 (0%) | 0 (0%) | 01 (2,1%) | 13 (27,7%) | 33 (70,2%) |
Estabelece prioridades no desenvolvimento das ações de trabalho | 0 (0%) | 0 (0%) | 01 (2,1%) | 24 (51,1%) | 22 (46,8%) |
Fonte: Dados da pesquisa.
Ações para a prática do enfermeiro em emergências | Frequência (n) Percentual (%) | ||||
---|---|---|---|---|---|
NC | PC | C | MC | EC | |
Atualiza constantemente os conhecimentos em emergências | 02 (4,3%) | 08 (17,0%) | 13 (27,7%) | 18 (38,3%) | 06 (12,8%) |
Faz diagnóstico de enfermagem para o cliente conforme referencial teórico adotado na instituição | 03 (6,4%) | 08 (17,0%) | 12 (25,5%) | 12 (25,5%) | 12 (25,5%) |
Participa de simulação realística em emergências periodicamente | 08 (17%) | 17 (36,2%) | 15 (31,9%) | 02 (4,3%) | 05 (10,6%) |
Usa outras oportunidades para seu desenvolvimento profissional | 0 (0%) | 0 (0%) | 08 (17%) | 23 (48,9%) | 16 (34%) |
Fonte: Dados da pesquisa.
Desse modo, destaca-se que a comunicação efetiva dentro das instituições de saúde, deve ser uma ferramenta utilizada pelos profissionais, que serve também como pilar para o sucesso e obtenção de resultados favoráveis, visto que no âmbito hospitalar as pessoas desempenham funções complexas, razão pela qual exige uma troca de informações eficaz.17
No domínio Prática Profissional, a maioria se considerou como ''muito competente'' ou ''extremamente competente'', o desenvolvimento dessa competência ocorre com o desempenho assistencial, que é descrita como capacidade do enfermeiro de prestar assistência individualizada, atender as necessidades e expectativas dos clientes de forma a assegurar um cuidado embasado em saberes científicos e em procedimentos técnicos essenciais para uma assistência de qualidade.18
Um estudo realizado em dois hospitais públicos de grande porte revelou que as condições inadequadas ao desenvolvimento do trabalho, interfere negativamente no processo de cuidar, consequentemente dificulta a prática profissional da enfermagem e faz com que o objetivo de atender as necessidades dos clientes não seja alcançado.
Ações do enfermeiro em emergências | Frequência (n) Percentual (%) | ||||
---|---|---|---|---|---|
NC | PC | C | MC | EC | |
Atualiza constantemente os conhecimentos em emergências | 06 (12,8%) | 10 (21,3%) | 10 (21,3%) | 09 (19,1%) | 12 (25,5%) |
Determina as ações necessárias para evitar danos no atendimento dos clientes | 07 (14,9%) | 13 (27,7%) | 11 (23,4%) | 08 (17%) | 08 (17%) |
Usa recursos indispensáveis na execução dos cuidados dos clientes | 11 (23,4%) | 07 (14,9%) | 10 (21,3%) | 09 (19,1%) | 10 (21,3%) |
Fonte: Dados da pesquisa.
Verifica-se ainda, que os enfermeiros relataram dificuldades de lidar com comentários inapropriados de outros colegas e/ou profissionais na presença dos pacientes, no qual dificulta as relações interpessoais no ambiente de trabalho.19Considera-se importante que as instituições proporcionem aos enfermeiros condições de trabalho e infraestrutura adequada que cooperem para o alcance de uma prática profissional de excelência para que seja possível a realização de atenção qualificada e resolutiva, que perfaz uma assistência de qualidade.
Com relação ao domínio Excelência Profissional, apenas o item ''Participação em simulações realísticas em emergências periodicamente'' foi descrito como ''pouco competente'', com isso percebe-se que a Educação Permanente, a capacitação profissional, o oferecimento de cursos e as atualizações por parte das instituições empregadoras e formadoras torna-se fundamental para o enfermeiro atuar com excelência no serviço e interagir com ensino-serviço, que possibilita adequação do ensino ás condições reais encontradas no mundo do trabalho.20
A educação baseada em simulação realística tem conquistado importância para formação e atualização de profissionais na área de saúde, ao permitir a junção da teoria com a prática, ao reproduzir eventos clínicos em ambientes seguros, consequentemente o aprendiz desenvolve competências, raciocínio crítico e ajustes das falhas sem comprometer a saúde do paciente. O estudo realizado em um hospital de ensino constatou melhora no nível de autoconfiança e satisfação dos profissionais de enfermagem no atendimento ao paciente em parada cardiopulmonar, após emprego da simulação realística combinada à teoria em comparação ao uso exclusivo da simulação.21
Variáveis | Resposta ao caso 1 | (p-valor) | |
---|---|---|---|
Correta | Incorreta | ||
N (%) | N (%) | ||
Vínculo com outra instituição | (0,189) | ||
Sim | 8 (17%) | 20 (43%) | |
Não | 10 (21%) | 9 (19%) | |
Atualiza-se constantemente | (0,000)* | ||
Sim | 15 (32%) | 24 (51%) | |
Não | 3 (6%) | 5 (11%) | |
Participa de cursos de emergência | (0,884) | ||
Sim | 12 (26%) | 12 (26%) | |
Não | 6 (13%) | 17 (35%) | |
Possui especialização | (0,000)* | ||
Sim | 12 (25%) | 24 (51%) | |
Não | 6 (13%) | 5 (11%) | |
TOTAL | 18 (38%) | 29 (62%) |
Fonte: Dados da pesquisa. Teste qui-quadrado. *significância estatística (p<0,05).
Sobre a situação fictícia os enfermeiros avaliaram como "muito competente'' a atualização dos conhecimentos. Ao comparar de forma geral as respostas emitidas pelos participantes do estudo em relação ao caso exposto, verifica-se que a maioria respondeu de forma incorreta, entretanto, quanto à questão de autoavaliação se consideram "muito competentes'' e os mesmos em sua maioria afirmaram que participaram de cursos de atualização e/ou possuem alguma especialização. Cabe analisar e afirmar que mesmo os participantes que possuíam conhecimentos e especializações e se julgaram competentes ao analisar um caso clínico fictício não foram capazes de formar um raciocínio crítico reflexivo em relação ao que tinha sido exposto, e essa relação é influenciada por diversos fatores que fogem da questão de possuir ou não conhecimento, como habilidades, teorias, tempo de atuação, rotinas inadequadas, entre outras.
Vale destacar que não é somente o conhecimento que promove a qualificação do trabalho em enfermagem, mas também o modo de agir diante das situações, a postura profissional, o manejo técnico das ações, consequentemente reflete, diariamente, na efetividade do cuidado.22
No serviço de Urgência e Emergência o enfermeiro é um dos responsáveis pelo primeiro atendimento às vítimas que em grande maioria são gravemente acometidas pelo incidente, nesse sentido, o raciocínio rápido e correto, tal como a habilidade fazem total diferença quanto à prevenção de novas lesões, assim como de melhor prognóstico.23 Portanto, é necessário que os enfermeiros desenvolvam habilidades de julgamentos clínicos e críticos, seja com capacitações, especializações ou até mesmo com exercícios voltados a essa prática, para que se possa ofertar uma assistência qualificada e efetiva, que favorece o desenvolvimento adequado e bem delimitado das competências desses profissionais.
Salienta-se que, entre essas questões, há necessidade de maior suporte institucional no que tange, por exemplo, a estrutura física hospitalar, pois mostra a inadequação da planta física para os pacientes e profissionais. Outras fragilidades organizacionais são observadas quanto carência qualitativa e quantitativa de recursos humanos; a precariedade ou a falta de equipamentos e de materiais e a fragilidade do sistema organizacional de referência e contrarreferência que aumenta o fluxo de pacientes e sobrecarrega toda estrutura da instituição, consequentemente prejudica o processo de atendimento no serviço de emergencia.18,24
Portanto, as competências e habilidades que os enfermeiros do serviço de Urgência e Emergência devem desenvolver são amplas e impactam diretamente na qualidade e efetividade da assistência ofertada ao paciente, assim como existe a necessidade de capacitações constantes que sensibilizem o profissional quanto ao julgamento clínico que avaliem a criticidade e individualidade de cada indivíduo. A autoavaliação é de suma importância para a reflexão do seu processo de trabalho e pontos que possam ser melhorados, estimulados e eliminados.
Essa pesquisa tem grande contribuição para a prática em saúde, a partir de formas e estratégias para trabalhar com profissionais nessa área. Além disso, poderá subsidiar novas ações que busquem melhoria do serviço de saúde, a partir da identificação das potencialidades e fragilidades desses profissionais. Como também, trará benefícios com a produção de conhecimento científico acerca do tema.
Dentro das limitações do estudo, por se tratar de um instrumento construído e validado recentemente, existem poucas investigações realizadas com essa finalidade o que pode ter dificultado no processo de discussão contundente ao objetivo, assim como na inviabilidade de representação em maior escala e também como sendo o estudo realizado na unidade de trauma, os dados obtidos podem não corresponder á realidade de emergências de outras especialidades ou instituições.
Conclusão
Através dos resultados obtidos nesse estudo foi possível identificar que a maioria dos enfermeiros eram do sexo feminino, especialistas, que possuíam mais de um vínculo empregatício. Com relação à autoavaliação os domínios ''Relações no trabalho'' e ''Prática profissional'' os participantes registraram emissões de ''muito competente'' ou ''extremamente competente'' em todas as ações. Já no domínio ''Excelência profissional'' a única ação avaliada como ''pouco competente'' foi ''Participa de simulação realística em emergências periodicamente''.
No que se refere ao julgamento do caso fictício, a maioria dos enfermeiros não respondeu corretamente as ações propostas de acordo com que estava exposto. Com isso, podemos afirmar que mesmo os enfermeiros se autoavaliando como competentes não foram capazes de julgar de forma correta o enfermeiro do caso fictício, porém existem outros fatores que fogem da questão de possuir ou não conhecimento, que também são essenciais para um serviço prestado de qualidade.
Para tanto, é importante o profissional de enfermagem capacitar-se, para que se tenha uma vivência prática em sua área específica de formação, para melhor atendimento ao cliente que muitas vezes está em situação crítica e precisa de uma ação prestada de qualidade. A instituição precisa investir nesses profissionais para treinamentos e assim aliar a teoria com a prática. Portanto, a preparação e a capacitação recorrente é sem dúvida, um caminho para bons resultados e um atendimento de excelência.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não haver nenhum tipo de interesse econômico, social, pessoal ou de trabalho.