Introdução
O envelhecimento humano consiste em um processo que atinge toda a população, caracterizando-se como um fenômeno dinâmico, progressivo e irreversível, associado, principalmente, às condições biopsicossociais1. Não obstante, o envelhecimento contribui - não de forma exclusiva - com o desenvolvimento de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), gerando, portanto, novos desafios para os profissionais de saúde, gestores e setores governamentais2.
Uma das DCNT com maior importância epidemiológica é a Insuficiência Cardíaca (IC)3, caracterizada como complexas e progressivas síndromes hemodinâmicas, biológicas, anatômicas e funcionais que interferem na efetividade de atendimento às demandas metabólicas e teciduais4. Ressalta-se que a IC apresenta grande capacidade de limitação funcional, superando o Diabetes Mellitus (DM) e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) 5-7.
Trata-se de um importante problema de saúde pública e caráter mundial em virtude da alta incidência, diminuição da qualidade e duração de vida, além dos elevados custos para o tratamento8. Mundialmente, estima-se que existam cerca de 23 milhões de pessoas com IC9. Nos Estados Unidos da América (EUA), as estimativas são de, aproximadamente, 5,7 milhões de adultos diagnosticados com a comorbidade e 50% da população com perspectiva de desenvolvimento no período de 5 anos3. Além disso, considerando os EUA e a Europa, em torno de 30-50% das pessoas com IC precisam de re-hospitalização no intervalo de 60 a 90 dias3,10, refletindo no alto impacto financeiro.
Alguns fatores de risco estão correlacionados com o desenvolvimento da IC, dentre os quais, destacam-se a Hipertensão Arterial Sistólica, Síndrome Metabólica, DM, Obesidade, Valvopatias, Insuficiência Coronariana, Doença de Chagas, uso de drogas cardiotóxicas e história familiar de cardiomiopatia9,11. No Brasil, a cardiopatia isquêmica crônica associada à Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) constitui-se como a principal causa etiológica da IC.5 Entretanto, em algumas regiões com baixo índice socioeconômico, observa-se a presença da patologia associada à doença de Chagas, endomiocardiofibrose e à cardiopatia valvular reumática crônica, condições especiais da sociedade brasileira12.
Nesse contexto, torna-se relevante a realização desse estudo em virtude da imprescindibilidade da disseminação do conhecimento epidemiológico da IC no Brasil, além do direcionamento de políticas públicas de saúde para prevenção, controle e reabilitação da patologia. Diante disso, o objetivo dessa pesquisa foi descrever o perfil epidemiológico da morbimortalidade por IC no Brasil no período de 2013 a 2017.
Material e métodos
Estudo ecológico e descritivo realizado a partir dos dados disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), através da plataforma Sistema de Informações Hospitalares (SIH), acerca da morbimortalidade por IC. O cenário de estudo adotado referiu-se à República Federativa do Brasil, composta por 210.147.125 habitantes no ano de 2019, alocados em 5.570 municípios, em uma extensão territorial de 8.515.767.049 m². No intuito de promover uma organização político-administrativa, o Brasil é constituído por cinco regiões: norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste13.
Os dados foram coletados por meio eletrônico, obtendo nesta ocasião, as seguintes variáveis: sexo (masculino e feminino); faixa etária (< 1 ano à ≥ 80anos); raça/cor (branca, preta, parda, amarela e indígena), conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para categorizar a população brasileira14, internações, óbitos e taxa de mortalidade, registradas entre 01 de Janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2017.
Ressalta-se que todos os casos selecionados estão classificados no Capítulo IX - Doenças do Aparelho Circulatório (I00-I99) da 10ª Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10)15, abrangendo as categorias de I50.0 a I50.9 (Insuficiência cardíaca congestiva, Insuficiência ventricular esquerda e Insuficiência cardíaca não especificada).
A tabulação e julgamento dos dados ocorreram no mesmo mês da coleta (junho de 2019), sendo adotada a análise estatística descritiva simples (frequências absolutas e relativas) por meio do programa Microsoft Office Excel (Microsoft©, 2010). A taxa de mortalidade foi obtida calculando a razão entre os óbitos e as hospitalizações pela mesma doença no período de estudo e, posteriormente, multiplicado o resultado por 100, obtendo-se o valor em porcentagem.
Resultados
A tabela 1 apresenta os dados de internações, óbitos e mortalidade por insuficiência cardíaca no Brasil por regiões e ano de atendimento. Destaca-se que no quinquênio estudado houve 865.327 internações e 90.990 óbitos, correspondendo a uma taxa de mortalidade de 10,52%( A taxa de mortalidade foi obtida calculando a razão entre os óbitos e as hospitalizações pela mesma doença no período de estudo e, posteriormente, multiplicado o resultado por 100, obtendo-se o valor em porcentagem). A região sudeste do país evidenciou maior porcentagem de internações (41,66%), óbitos (46,83%) e taxa de mortalidade (11,82%).
Variáveis/Ano | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | TOTAL | |
Abs. | Abs. | Abs. | Abs. | Abs. | Abs. | % | |
Internação por região | |||||||
Norte | 1.097 | 11.725 | 11.104 | 10.649 | 9.699 | 44.274 | 5,12 |
Nordeste | 3.254 | 54.151 | 50.760 | 48.690 | 45.257 | 202.112 | 23,36 |
Sudeste | 5.363 | 93.882 | 90.764 | 89.194 | 81.288 | 360.491 | 41,66 |
Sul | 3.158 | 47.590 | 48.328 | 49.775 | 45.525 | 194.376 | 22,46 |
Centro-Oeste | 1.260 | 16.477 | 16.094 | 16.125 | 14.118 | 64.074 | 7,40 |
Total | 14.132 | 223.825 | 217.050 | 214.433 | 195.887 | 865.327 | 100 |
Óbitos por região | |||||||
Norte | 84 | 1.069 | 1.142 | 1.320 | 1.084 | 4.699 | 5,16 |
Nordeste | 376 | 5.044 | 5.146 | 5.269 | 4.711 | 20.546 | 22,58 |
Sudeste | 715 | 10.279 | 10.606 | 10.939 | 10.071 | 42.610 | 46,83 |
Sul | 290 | 4.087 | 4.170 | 4.337 | 3.888 | 16.772 | 18,43 |
Centro-Oeste | 140 | 1.552 | 1.692 | 1.654 | 1.325 | 6.363 | 7,00 |
Total | 1.605 | 22.031 | 22.756 | 23.519 | 21.079 | 90.990 | 100 |
Taxa de mortalidade | |||||||
Norte | 7,66 | 9,12 | 10,28 | 12,04 | 11,18 | 10,61 | * |
Nordeste | 11,56 | 9,31 | 10,14 | 10,82 | 10,41 | 10,17 | * |
Sudeste | 13,33 | 10,95 | 11,69 | 12,26 | 12,39 | 11,82 | * |
Sul | 9,18 | 8,59 | 8,63 | 8,71 | 8,54 | 8,63 | * |
Centro-Oeste | 11,11 | 9,42 | 10,51 | 10,26 | 9,39 | 9,93 | * |
Total | 11,36 | 9,84 | 10,48 | 10,97 | 10,76 | 10,52 | * |
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Em relação à faixa etária, a população com idade igual ou superior a 80 anos abrangeu maior porcentagem de internações (21,95%), óbitos (33,54%) e taxa de mortalidade (16,07%), conforme tabela 2. Vale ressaltar que a população menor de um ano de idade obteve valores expressivos de internações (n=5.159), óbitos (n=525) e taxa de mortalidade (10,18%), classificando-se na quarta colocação por faixa etária com maior mortalidade por IC.
Faixa etária | Internações | Óbitos | Taxa de mortalidade | ||
---|---|---|---|---|---|
Abs. | % | Abs. | % | ||
<1 ano | 5.159 | 0,60 | 525 | 0,58 | 10,18 |
1 a 4 | 2.788 | 0,32 | 127 | 0,14 | 4,56 |
5 a 9 | 1.679 | 0,19 | 82 | 0,09 | 4,88 |
10 a 14 | 1.869 | 0,22 | 133 | 0,15 | 7,12 |
15 a 19 | 2.961 | 0,34 | 222 | 0,24 | 7,05 |
20 a 24 | 3.810 | 0,44 | 307 | 0,34 | 8,06 |
25 a 29 | 5.527 | 0,64 | 408 | 0,45 | 7,38 |
30 a 34 | 9.214 | 1,06 | 649 | 0,71 | 7,04 |
35 a 39 | 14.425 | 1,67 | 1.075 | 1,18 | 7,45 |
40 a 44 | 22.463 | 2,60 | 1.485 | 1,63 | 6,61 |
45 a 49 | 36.267 | 4,19 | 2.488 | 2,73 | 6,86 |
50 a 54 | 55.807 | 6,45 | 3.941 | 4,33 | 7,06 |
55 a 59 | 78.561 | 9,08 | 5.867 | 6,45 | 7,47 |
60 a 64 | 97.658 | 11,29 | 8.011 | 8,80 | 8,02 |
65 a 69 | 110.032 | 12,72 | 10.297 | 11,32 | 9,36 |
70 a 74 | 113.471 | 13,10 | 11.762 | 12,93 | 10,37 |
75 a 79 | 113.734 | 13,14 | 13.093 | 14,39 | 11,51 |
≥ 80 anos | 189.902 | 21,95 | 30.518 | 33,54 | 16,07 |
Total | 865.327 | 100 | 90.990 | 100 | 10,52 |
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
No que concerne ao sexo, tal como disposto na tabela 3, observou-se que a população masculina atingiu maior valor na variável alusiva às internações (n=443.806), correspondendo a 51,29% do total. Entretanto, o sexo feminino superou o número de óbitos masculinos com 45.975 mortes e taxa de mortalidade com 10,91%.
Sexo | Internações | Óbitos | Taxa de mortalidade | ||
---|---|---|---|---|---|
Abs. | % | Abs. | % | ||
Masculino | 443.806 | 51,29 | 45.015 | 49,47 | 10,14 |
Femenino | 421.521 | 48,71 | 45.975 | 50,53 | 10,91 |
Total | 865.327 | 100 | 90.990 | 100 | 10,52 |
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
A Tabela 4 apresenta os dados referentes à cor/raça por ano de atendimento. A cor branca se destacou com 320.847 internações (37,08%) e 33.321 óbitos (36,62%) no período de estudo. Em relação à taxa de mortalidade, os dados sem informações da variável obtiveram maior taxa com 11,45%. Em seguida, a população indígena se destacou com maior taxa de mortalidade com 11,04%.
Cor/raça | Internações | Óbitos | Taxa de mortalidade | ||
---|---|---|---|---|---|
Abs. | % | Abs. | % | ||
Branca | 320.847 | 37,08 | 33.321 | 36,62 | 10,39 |
Preta | 38.782 | 4,48 | 3.937 | 4,33 | 10,15 |
Parda | 264.280 | 30,54 | 26.292 | 28,90 | 9,95 |
Amarela | 9.488 | 1,10 | 890 | 0,97 | 9,38 |
Indígena | 652 | 0,08 | 72 | 0,08 | 11,04 |
Sem informação | 231.278 | 26,72 | 26.478 | 29,10 | 11,45 |
Total | 865.327 | 100 | 90.990 | 100 | 10,52 |
Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)
Discussão
Nesse estudo, notabiliza-se a região Sudeste do País com maior número de internações, o que provavelmente resulta do maior número de idosos residentes na área geográfica16. Esses resultados corroboram com o I Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca o qual apontou a região Sudeste como a área com maior prevalência de IC devido à isquemia como fator etiológico17. Salienta-se, desse modo, que somente a região Sudeste apresentou taxa de mortalidade muito maior do que a evidenciada em estudos de outros países18-20.
Pode-se inferir que a maior prevalência de internações, óbitos e taxa de mortalidade na região sudeste esteja associada à grande oferta e facilidade de acesso aos serviços de alta complexidade hospitalar, contribuindo, de certa forma, para notificação do diagnóstico e tratamento, fato este que difere de outras regiões do país, principalmente a norte e nordeste. Destarte, as disparidades no acesso e diagnóstico nos serviços de saúde é uma variável a ser considerada nas pesquisas nacionais de base populacional, uma vez que traduz a realidade atual das iniquidades instaladas e aponta as necessidades e prioridades de saúde a serem ofertadas para população de forma geral21,22.
Os resultados desse estudo constataram que os indivíduos com idade igual ou superior a 80 anos tiveram maior número de internações, óbitos e taxa de mortalidade. Esses valores se assemelham aos encontrados em outros estudos em que demonstram maiores taxas de mortalidade conforme o avançar da idade18-20, 23.
O processo de envelhecimento é uma realidade global e um importante fator de risco para o desenvolvimento de DCNT. Nessa perspectiva, torna-se mais um desafio não somente aos gestores e profissionais de saúde, mas também a outros setores governamentais2.
A pessoa idosa vivencia alterações biológicas principalmente no sistema cardiovascular, como diminuição do débito, frequência e força dos batimentos cardíacos, hipercolesterolemia e resistência vascular com consequente aumento da pressão arterial. Além disso, no miocárdio, observa-se presença de áreas fibróticas, aglomerados de lipofuscina e elementos amiloides; no pericárdio e endocárdio ocorre o aumento de colágeno, acúmulo lipídico e cálcico, degeneração das fibras e diminuição da complacência ventricular esquerda, dentre outros1.
Diante disso, compreender o processo de envelhecimento é fundamental para conhecer não somente a etiologia de comorbidades incidentes nesse período de vida, mas, principalmente, criar e implementar estratégias de tecnologias leves para atenuar os efeitos da senescência e, consequentemente, diminuir os fatores de risco para o desenvolvimento de DCNT1.
Outro achado importante do estudo diz respeito à mortalidade em menores de um ano de idade, classificando-se na quinta colocação por faixa etária com maior mortalidade por IC. Estima-se que aproximadamente 20 a 30% das crianças com 30 dias de vida evoluem para o óbito por IC ou crise de hipóxia24,25.
Tal resultado pode ser explicado devido às anomalias congênitas frequentemente observadas nessa faixa etária, sobretudo as malformações cardíacas, correspondendo a um percentual de 3 a 5% dos óbitos neonatais, o que constitui a causa mais frequente de emergência cardiológica em pediatria25. Além disso, sequelas como lesões valvares oriundas de correções cirúrgicas, escassez de medicamentos para o público infantil e baixo número de doadores de órgãos apresentam grande contribuição no aumento da mortalidade nessa idade26.
Não obstante, vale ressaltar que a população entre 20-24 anos do presente estudo, apresentou taxa de mortalidade quase semelhante à população idosa de 60-64 anos. Tal realidade remete ao estilo de vida dos jovens do século XXI, em que a ingesta demasiada de alimentos hiperlipídicos e hipersódicos associada ao sedentarismo, exercem influência direta no desenvolvimento de doenças cardiovasculares27.
Em relação ao sexo, a população masculina obteve maior número de internações e a feminina maior número de óbitos e maior taxa de mortalidade. Tais resultados contrastam a literatura científica na qual é identificado que os homens apresentam pior prognóstico da doença, circunstância a qual os predispõe a eventos mais severos18,28.
Não obstante, o Ministério da Saúde do Brasil atribuiu maior prevalência da IC ao sexo masculino devido a sua maior vulnerabilidade às doenças crônicas e menor taxa de sobrevida se comparada ao sexo feminino. Apesar disso, por mais que os homens brasileiros não possuam o hábito de frequentar os serviços de saúde, especialmente a atenção básica29, estes obtiveram menores números de óbitos e taxa de mortalidade.
Já a maior prevalência de IC nas mulheres foi elucidada em vários estudos30-32, especialmente com o avançar da idade, no qual há perda do efeito protetor do sistema cardiovascular após a menopausa33.
Em relação à raça/cor, os grandes números observados na variável sem informação indicam subnotificação dos dados que compromete o desenvolvimento de pesquisas científicas. Quando tal incompletude atinge um valor superior a 30%, tem-se um indicador de precariedade das informações em saúde34, gerando obstáculos para o conhecimento real de indicadores epidemiológicos35.
Os resultados contrastam a literatura que evidencia pior prognóstico na população negra devido a uma possível falha hereditária na captação celular e transporte renal de íons, ocasionando o influxo de sódio e efluxo de cálcio, possibilitando o surgimento de HAS27, 36.
O presente estudo apontou maior mortalidade nos indígenas. Tais resultados se assemelham a um estudo que demonstrou maior prevalência de morbidade por cirrose, insuficiência renal crônica e tendinite nesse seguimento étnico se comparado à raça/cor branca e parda. Entretanto, não houve associação estatística para os principais fatores de risco para a IC, como DM e HAS37.
Nessa perspectiva, as disparidades nas taxas de mortalidade por etnia podem não se encontrar tão bem estabelecidas, por isso sugere-se que estudos multiétnicos sejam conduzidos em populações específicas, como indígenas e populações afrodescendentes, pois, muitas vezes, essas populações residem em regiões geográficas de difícil acesso aos serviços de saúde, sem nenhuma ou pouca assistência e proteção de políticas de saúde que garantam a melhoria da saúde humana.
O presente estudo pode ajudar a compreender a relação do adoecimento cardíaco por IC na vida das pessoas, no intuito de estimular a produção de políticas de cuidados à saúde como forma de minimizar os impactos negativos que a IC ocasiona na saúde brasileira, tais como: gastos onerosos com internações reabilitadoras, terapêuticas clínicas e farmacológicas para restabelecer a saúde e, consequentemente, minimizar as repercussões nas condições de vida, saúde e bem estar das pessoas.
Ressalta-se que esse estudo apresenta limitação em decorrência de possíveis subnotificações da fonte de coleta de dados. Além do mais, os estudos ecológicos não permitem identificar associações entre desfechos a nível individual, somente por agregados. Entretanto, há a possibilidade de subsidiar avaliações e monitoramentos dos serviços de saúde considerando os fatores que se expressam em coletividade. Cita-se também, que houve dificuldades em identificar estudos científicos atuais que abordam a temática no contexto brasileiro, o que justifica o uso de referências mais antigas para fundamentar a discussão
Não obstante, o estudo permite a condução de novos inquéritos consistentes a nível nacional que tracem o perfil diagnóstico da IC e as necessidades de saúde da população brasileira no que concerne a oferta de serviços de saúde que garanta o diagnóstico, tratamento e reabilitação da saúde das pessoas em adoecimento crônico, visando à melhoria das condições de saúde, qualidade de vida e sobrevida.
Conclusões
A tendência deste estudo traz evidência sobre as disparidades nos internamentos, óbitos e taxa de mortalidade por IC de acordo com as regiões brasileiras, faixa etária, sexo e cor/raça, o que reflete a dificuldade que certas populações de grupos étnicos possuem com relação ao acesso aos serviços de saúde e o diagnóstico por meio de tecnologias de alta complexidade.
A IC abarca impactos de grande magnitude para saúde pública, principalmente no tocante aos serviços de saúde de alta complexidade que se localizam nas grandes cidades brasileiras, que, na maioria das vezes, são ofertados e financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Vale ressaltar com relação às complicações clínicas, em que a patologia em questão pode acarretar infortúnios na saúde e qualidade de vida das pessoas acometidas, além dos gastos onerosos que são empregados para o tratamento de suas complicações que, muitas vezes, refletem na qualidade da assistência e dos serviços de saúde, fatores estes que podem comprometer a sobrevida dos portadores de IC.
As formas de organização das linhas de cuidados desenvolvidas nos serviços de alta complexidade hospitalar, bem como o itinerário terapêutico e as práticas clínicas de diagnóstico, ainda têm sido alvo de questionamentos e discussões entre os profissionais de saúde que prestam assistência na reabilitação entre os adoecidos cronicamente pela patologia em questão.
Acredita-se que muitos pacientes evoluem para o óbito sem ter um diagnóstico preciso devido à falta de recursos tecnológicos de alta complexidade e de profissionais habilitados que desenvolvam competências clínicas na realização de diagnósticos mais fidedignos. Sendo assim, surge a necessidade de mais investimentos financeiros para capacitação permanente dos profissionais de saúde na perspectiva de interferir no curso da IC através de práticas cuidativas, promotivas e reabilitadoras da saúde e de controle e prevenção da patologia.
A presente investigação corroborou com o cenário epidemiológico da IC, evidenciando o panorama de saúde relacionada às internações, óbitos e taxa de mortalidade na população brasileira, na qual pôde delinear um perfil epidemiológico através das análises de variáveis de saúde de grande magnitude para o contexto da saúde pública, como idade, sexo e etnia (raça/cor). Tais variáveis são capazes de nortear os profissionais de saúde a prestarem assistência com maior qualidade e efetividade, bem como subsidiar as autoridades a fomentar políticas públicas de saúde na formação de profissionais habilitados a lidarem com essa problemática.