Introdução
Copaifera langsdorffii Desf., popularmente chamada de copaíba, é uma importante espécie arbórea tropical, de crescimento lento, podendo atingir de 25 a 40 metros de altura e ter uma longevidade de 400 anos (1). Sua fonte de dispersão é a partir de pássaros e das próprias sementes, que ao cair no chão, dão origem a um novo indivíduo (2), (3).
A copaíba está presente na região tropical da América Latina onde existem 30 espécies distribuídas do México, até ao norte da Argentina e África Ocidental (1). No Brasil, ocorrem 16 espécies autóctones das quais, a mais importante e de maior distribuição é a C. langsdorffii (4). O principal produto da copaíba é o óleo, que devido às suas propriedades biológicas, bioquímicas e fitoquímicas, apresenta ampla aplicação em produtos industriais, principalmente na nutrição humana, cosméticos e fármacos de uso humano e veterinário (5). Por esses motivos tem sido amplamente estudada por vários grupos de pesquisas (6), (7), (8). No entanto, devido ao seu alto valor comercial, a espécie tem sofrido com o extrativismo contínuo, existindo assim, a necessidade de se buscar novas informações agronômicas para o seu cultivo ex situ (9). Parte dessas informações podem ser obtidas por várias metodologias, inclusive análise do tecido vegetal e análise do solo.
A caracterização de nutrientes no tecido vegetal pode ser realizada de forma quantitativa (diagnose foliar), e de forma qualitativa (diagnose visual). A diagnose visual, consiste na comparação da amostra com uma folha nutrida da mesma espécie, observando aspectos como o tamanho, forma e coloração (10). A diagnose foliar, é a quantificação dos nutrientes absorvidos do solo por absorção radicular (10), e têm sido aplicadas em diferentes culturas (11). Para melhorar a precisão do diagnóstico do estado nutricional das folhas, outras formas de interpretação têm sido desenvolvidas, como o Sistema Integrado de Diagnóstico e Recomendação (DRIS), (12) e (13) quando existe, um banco de dados da cultura.
A análise de solo também permite conhecer a quantidade de nutrientes disponíveis para as plantas, obtendo-se assim, uma diagnose da fertilidade do solo (14). O estudo da fertilidade do solo possibilita, além de entender o perfil do solo de um determinado ambiente, definir a quantidade de fertilizante necessário para corrigir, manejar e recuperar a produtividade de uma determinada área (15).
Esses estudos têm sido conduzidos amplamente para cultivares comerciais, sobretudo espécies alimentícias e medicinais. O presente estudo teve como objetivo quantificar e avaliar os teores de nutrientes em solo e folhas de copaíba em diferentes fitofisionomias.
Material e Métodos
Área de estudo O estudo foi realizado na região centro-oeste do estado de São Paulo, em áreas de Cerradão e Floresta Estacional Semidecidual (FES) (Tabela 1). Estes complexos envolvem florestas secundárias, áreas em regeneração e em transição (ecótonos). O estudo foi realizado no Jardim Botânico Municipal de Bauru (JBMB), que possui fitofisionomias do tipo Cerradão e FES (16). O JBMB encontra-se no município de Bauru, SP, situado a 22°20'35.3904'' de latitude sul e 49°1'0,2496'' de longitude oeste. Segundo a classificação de Koppen, o clima da região é tropical de savana, tipo Aw (17).
Avaliação nutricional vegetal Coletaram-se folhas recém-expandidas (aquelas que completaram o crescimento e ainda não entraram em senescência). A metodologia seguida foi proposta por (10) para espécies que não tem valor estabelecido como padrão em termos nutricionais. Foram coletadas seis amostras georreferenciadas de copaíbas adultas, três em áreas de Cerradão e três na FES (Tabela 1). Os dados foram transcritos de acordo com os resultados das análises em laboratório e foram realizadas as médias dos valores obtidos no Cerradão e no FES.
Todas as análises do tecido vegetal: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Enxofre (S), Boro (B), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn) e Zinco (Zn), foram realizadas em laboratório. Para o efeito utilizou-se a metodologia descrita por (18).
Análise de solos Com o auxílio de uma broca realizou-se a coleta de duas amostras, uma na FES e outra no Cerradão, ambas na profundidade de 20 cm. Para cada amostra, foram coletadas três subamostras (Tabela 1). Essas coletas foram obtidas próximas de copaíbas adultas, com distância de aproximadamente 3 metros. Os dados foram transcritos de acordo com os resultados das análises em laboratório.
Denominou-se amostra 1 o material coletado na área de FES e, amostra 2 o material coletado em área de Cerradão. Todos as análises realizadas em laboratório: Matéria Orgânica (M.O.), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Potássio (K resina), Fósforo (P resina), Alumínio (Al), pH Cloreto de Cálcio (pH CaCl2), pH SMP e o H+Al seguindo a metodologia descrita por (19), e análise de Argila seguindo a metodologia do densímetro escrita por (20).
Análise de dados Os resultados foram analisados comparativamente entre FES e Cerradão para tecido vegetal e solo. No caso do tecido vegetal foi analisada as médias dos resultados de cada fitofisionomia, calculando também o desvio padrão. No solo foram realizados cálculos específicos para avaliação nutricional como: soma de bases trocáveis (SB), capacidade de troca catiônica (CTC) e Saturação por bases trocáveis (V%).
Resultados e Discussão
Avaliação nutricional vegetal Os valores obtidos nas análises de tecido vegetal foram divididos em macronutrientes (g/kg) e micronutrientes (mg/kg) para FES e Cerradão. Os valores de macronutrientes foram superiores na FES em teores de N e K, enquanto o valor do Ca foi maior no Cerradão. Nos outros elementos foram obtidos valores muito semelhantes (Figura 1).
Os valores de micronutrientes foram superiores em B e Cu, na FES, enquanto o valor de Manganês no Cerradão foi muito superior (FES = 159,3 mg/kg; Cerradão = 1147,9 mg/kg). Nos outros elementos foram obtidos valores muito semelhantes (Figura 2).
Na literatura é possível obter valores nutricionais de C. langsdorffii em área de Cerradão, conforme o estudo de (21), e citado por (22) (tabela 2). Com base em (21) e (22), bem como nos valores do presente trabalho verificamos valores semelhantes de macronutrientes e micronutrientes, menos o resultado de Mn que obteve valores superiores. Autores como (23) e (24) estudaram teores de nutrientes na vegetação arbórea em ambientes de cerrado, conforme citado por (22), comparando os valores dos autores com o atual estudo obteve resultados semelhantes, menos o Mn que foi superior.
Para futuros estudos sobre os teores de Mn, sugere-se a coleta de mais exemplares da mesma área, complementando com análise de micronutrientes no solo. Não foram encontrados valores nutricionais de C. langsdorffii em áreas de FES na literatura para fins de discussão.
Figure 1. Values of macronutrients obtained in the analysis of plant tissue collected in the Seasonal Semideciduous Forest (FES) and Cerradão.
Avaliação nutricional do solo Os valores obtidos nas análises de solo consistiram em amostras representativas de FES e Cerradão, ambas nas profundidades 00-20 cm (Figura 3).
Os dois tipos de solos têm o perfil Arenoso, possuindo baixo teor de argila, ou seja, alta porcentagem de areia e menor capacidade de retenção de umidade (25).
O solo na FES apresentou 27 g/dm³ de matéria orgânica, valor superior ao obtido no Cerradão (16 g/dm³). Isso representa, maior qualidade do solo, garantindo drenagem e melhor aeração, possibilitando, além disso, maior desenvolvimento das plantas (26). O Cerradão apresentou menor valor também de P , elemento fundamental no metabolismo e desenvolvimento da planta (27), além de valores menores de K, Ca e Mg.
Figure 2. Values of micronutrients obtained in the analysis of plant tissue collected in the Seasonal Semideciduous Forest (FES) and Cerradão.
O FES apresentou pH CaCl2 menor, indicando acidez maior que o Cerradão, justificado pela maior acidez potencial (H+Al) e o teor de Al presente. O Cerradão não apresentou teor de Al, enquanto o FES apresentou 1,0 mmolc/dm³ deste elemento, considerado de baixo teor (28). É sabido que a C. langsdorffii possui mecanismos adaptativos provenientes de sua plasticidade, envolvendo fatores genéticos, epigenéticos e evolutivos (29). Devido a essa capacidade, a C. langsdorffii pode ser encontrada em diferentes ambientes, e consecutivamente, com variações de concentrações de nutrientes significativas. Um dos estudos específicos da espécie e seu cultivo foi o de (22) que relataram que solos com valores baixos de K, Ca e Mg não interferiram no desenvolvimento da altura e diâmetro da copaíba.
Para maior compreensão dos resultados obtidos na análise de solo, calculou-se soma de bases trocáveis (SB), capacidade de troca catiônica (CTC) e saturação por bases trocáveis (V%) que representaram as estatísticas para avaliar a fertilidade do solo. Segue abaixo os cálculos (19) (Equation 1, 2 e 3)
A SB tem como cálculo a soma das concentrações de K, Na, Ca e Mg (Equação 1). Os teores de Na são baixos ou igual a zero em solos de climas úmidos distantes do mar (19) por esse motivo considera-se zero.
A CTC reflete o número de cátions que o solo pode reter (Equação 2) incluindo o H e o Al³+ que é indicativo de acidez do solo, ou seja, prejudiciais as plantas em valores altos (19).
A V%, saturação por base trocáveis, demostra em porcentual a quantidade de carga negativa ocupada pelas bases (Equação 3) (19).
Para estudar a fertilidade do solo, utilizaram-se os parâmetros V%, CTC e SB (Figura 4).
O FES apresentou valores maiores de CTC e SB em comparação com o Cerradão. Em geral, a vegetação florestal (aqui representada pela FES) é associada com maior disponibilidade de nutrientes e de água (21), sendo assim os valores obtidos na área foram condizentes com a literatura.
Os valores de V%, superiores ou igual a 50%, são classificados como solos com uma boa fertilidade inicial, pois não apresentam valores altos de acidez, não necessitando de correção (28), mas o FES tem maior capacidade de reter cátions devido a porcentagem de argila ser maior e ter valores maiores de SB e CTC, além de M.O. e P.
Figure 3. Comparison of soil analysis between samples collected in Seasonal Semideciduous Forest (FES) and Cerradão.
Figure 4. Values of V, CTC and SB between soil samples from Seasonal Semideciduous Forest (FES) and Cerradão.
Conclusões
Os resultados para tecido vegetal e solo em diferentes fitofisionomias, foram semelhantes em sua maioria, à exceção de Mn no tecido vegetal. Observou-se quantidade superior de Mn no Cerradão, em comparação à FES. Os estudos demostram a plasticidade, ou seja, a adaptabilidade ambiental da copaíba, com implicações na exploração silvicultura tanto no Cerradão, como na FES.