Introdução
Atualmente, mesmo com os avanços na ciência e tecnologia das mais distintas áreas do conhecimento, a infecção puerperal ainda configura-se como grande problema de saúde pública comprovado pela prevalência elevada no que se refere à morbidade e letalidade.1
A infecção puerperal com taxa de 5,18% foi referenciada como uma das principais causas de óbitos maternos no Brasil nos anos de 2000 a 2009. Esta infecção ocorre no período do pós-parto devido a causas genitais (infecções no útero, anexos e ferida operatória) e extragenitais (ingurgitamento mamário, mastite, tromboflebite, complicações respiratórias e infecções urinárias). Entretanto, a maioria dos processos infecciosos no puerpério é motivada por infecções no trato genital ou na ferida operatória da cesariana. (2)- (3
As taxas de infecção por cesariana no Brasil são consideradas altas e constitui questão importante na assistência à saúde da mulher pela morbimortalidade associada. As Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) são as principais complicações operatórias tendo-se em vista as subnotificações dos casos decorrentes na ausência de vigilância ativa pós-alta, alta precoce e retardo da usuária fora da instituição onde ocorreu o procedimento, quando considerada a contra-referência para as Unidades Básicas de Saúde (UBS).
A ISC é a mais comum em usuárias hospitalizadas superando apenas as Infecções do Trato Urinário (ITU). Quando uma mulher desenvolve ISC pós-cesariana tem cinco vezes mais probabilidade de retornar ao serviço de saúde em pelo menos 30 dias pós-cirurgia; duas vezes mais chances de morrer e exigem em média um adicional de insumos na instituição de três milhões de reais para seu cuidado e tratamento. (4)- (5
O Brasil tem apresentado mundialmente nos últimos anos elevadas taxas de cesarianas representando 40% deste procedimento, atingindo o patamar de 80% na Saúde Suplementar enquanto que no Sistema Único de Saúde (SUS), 30% das mulheres são cesariadas. (6
O sistema de vigilância ativa de mulheres submetidas à cesariana é de importante contribuição para identificação dos casos de infecção. A qualidade da assistência e cuidado pós-operatório pode ser medida pelas taxas de infecção relacionada à assistência à saúde, prevenção bem definida e estimativa de morbimortalidade sugerida à ISC, essenciais para reduzir suas complicações e custos hospitalares. (7
A identificação correta dos casos de ISC permite eficientes técnicas relacionadas à assistência tendo em vista que práticas de prevenção são necessárias para identificação de fatores de risco a fim de que as intervenções sejam adequadas e efetivas.
O principal fator de risco às ISC é caracterizado pela classificação da ferida, sua respectiva classe, ou seja, limpa, potencialmente contaminada, contaminada e infectada. Outros fatores são associados como idade, estado nutricional prejudicado, diabetes, obesidade, tabagismo, imunossupressão, infecção em outro sítio, má higiene cutânea, hematoma subcutâneo, cesariana em hospital universitário, maior índice de massa corporal, tempo de ruptura das membranas amnióticas, líquido amniótico purulento, corioamnionite, excesso de toques vaginais todos descritos como conflitantes. Tem-se ainda características pré-operatórias como técnica cirúrgica inadequada, tempo cirúrgico maior que duas horas, perda sanguínea excessiva, tempo prolongado de internação pré-operatório e uso inadequado de antibioticoterapia na profilaxia prévia à cirurgia. (8)- (9
Em Minas Gerais um estudo revelou significância importante nas taxas na ISC em ferida operatória relacionadas à episiotomias e, em Belo Horizonte é relatado taxas de ISC de 3% por vigilância passiva e 9,6% por ativa. (10)- (11
Os riscos que a cesariana oferece atingiram no ano de 2010 uma porcentagem de 52% em maternidades públicas superando os níveis de partos vaginais, enquanto que no setor privado em estudo desenvolvido nos anos de 2011 a 2012 a prevalência foi de 96,5% em usuárias que desejavam o procedimento cirúrgico. (12)- (13
Estas taxas são consideradas preocupantes visto que excedem o limite máximo de 15% para cesarianas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que sugere uso abusivo deste método. Os Estados Unidos (EUA), país altamente medicalizado, também atinge níveis elevados desse tipo de procedimento alcançando uma taxa de 32,8%, superior ao recomendado pela OMS de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention.9, (14
Ainda, a cesariana é pertencente à classe das cirurgias limpas, sendo categorizadas assim as operações executadas em tecidos estéreis ou de fácil descontaminação na qual o processo infeccioso está ausente.6 Segundo estudo, para esse tipo de cirurgia a taxa de infecção aceitável é de 1% até 5%.15
Tendo-se em mente ser escassa a referência na literatura da chamada ISC para avaliação do prognóstico de infecção nas feridas referentes às cesarianas e impactos negativos gerados para a mulher, hospital e sociedade decorrentes do crescente aumento desta cirurgia e grande número de internações por ISC, como consequência desta, motivou-se esta investigação direcionada pela seguinte questão norteadora: qual a ocorrência da ISC pós-cesárea em uma maternidade pública de referência em obstetrícia localizada na Região Nordeste do Brasil no período de 2010 a 2013?
Partiu-se, portanto para as seguintes hipóteses:
1. A taxa de ISC em usuárias pós-cesárea na maternidade atinge até 5% destas ao ano;
2. A taxa de ISC em usuárias pós-cesárea na maternidade ultrapassa 5% destas ao ano.
A relevância do estudo está relacionada aos impactos que trará para região, uma vez ser pioneiro em abordar essa temática. Ressalta-se ainda, contribuição para o meio científico com dados que podem nortear a prática de profissionais que assistem parturientes, puérperas com ISC pós-cesárea. Face ao exposto, teve-se como objetivo para a investigação identificar a ocorrência de infecção do sítio cirúrgico pós-cesárea em uma maternidade pública na Região Nordeste do Brasil no período de 2010 a 2013.
Materiais e método
Trata-se de um estudo do tipo transversal retrospectivo com abordagem quantitativa desenvolvido em uma maternidade pública de referência em obstetrícia localizada na Região Nordeste do Brasil. Atualmente, esta maternidade segue as normas de atendimento pelo SUS, funciona com 16 suítes pré-parto, parto e puerpério (PPP) e oito leitos em Sistema de Alojamento Conjunto (SAC).
A coleta dos dados ocorreu no período de julho a agosto de 2015, através de consultas em prontuários com procedimentos de cirurgias cesarianas no centro cirúrgico da instituição no período de 2010 a 2013 totalizando 1.818 casos. Dados foram obtidos nos prontuários considerando-se apenas cirurgias cesarianas com ISC. Os resultados culminaram em 53 prontuários que fizeram parte da população com taxa de incidência em 2,92%. A escolha do período deveu-se pelo fato de funcionamento do centro cirúrgico da instituição ter sido aberto para cirurgias em outubro de 2010 e fechado em junho de 2013 a fevereiro de 2015 para reforma, ficando este período inativo.
O instrumento de pesquisa foi um formulário estruturado que englobava as seguintes variáveis: escolaridade, estado civil, local de origem, número de gestações, fatores de risco, integridade da bolsa, preparo da pele, degermação, tempo de internação, agente microbiano, antibioticoterapia e tipo de cobertura (curativo).
Para a análise estatística, os dados obtidos na pesquisa foram organizados em planilha do Software Microsoft Office Excel (versão 2007) e analisados com dados estatísticos do software Statistical Package for the Social Sciences(SPSS) versão 20.0 apresentados na forma descritiva com frequências e percentuais.
Considerações éticas
O estudo seguiu os preceitos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (FACISA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com Parecer de nº 1.034.394 e CAAE 439473157.7.0000.5568. A forma de coleta de dados (em prontuários) não implicou em quaisquer riscos físicos ou psicológicos e os resultados foram mantidos de forma anônima dos sujeitos que compuseram a amostra destes prontuários.
Resultados
A pesquisa identificou que a maioria das participantes dos prontuários do estudo tinha ensino fundamental incompleto (43,4%), união estável (75,5%) e eram oriundas da cidade de Natal/RN, Brasil (92,5%) - Tabela 1.
Variável | Categoria | n | % |
---|---|---|---|
Escolaridade | Ensino fundamental incompleto | 23 | 43,4 |
Médio incompleto | 22 | 41,5 | |
Médio completo | 04 | 7,5 | |
Superior incompleto | 01 | 1,9 | |
Sem registro de escolaridade | 03 | 5,7 | |
Estado civil | União estável | 40 | 75,5 |
Solteira | 10 | 18,9 | |
Sem registro de estado civil | 03 | 5,7 | |
Local de origem | Natal | 49 | 92,5 |
Grande Natal | 04 | 7,5 |
Fonte: dados da pesquisa, 2015.
De outubro de 2010 a 17 de junho de 2013, do total de 1818 partos cesáreos, 53 evoluíram com ISC, tendo como taxa de incidência o valor de 2,92%, uma média para o período analisado, já que o valor variou em cada ano, como observado na Tabela 2.
Ano | Total de Partos Cesáreos | Total de ISC | |
---|---|---|---|
N | N | % | |
2010 | 92 | 3 | 3,26 |
2011 | 728 | 11 | 1,51 |
2012 | 685 | 34 | 4,96 |
2013 | 313 | 5 | 1,60 |
Total | 1818 | 53 | 2,92 |
Fonte: dados da pesquisa, 2015.
No que se refere ao número de gestações 64,2% dos 53 prontuários com ISC pós-cesárea eram primigestas, apresentavam informações quanto aos fatores de risco como infecção urinária (9,4%), hipertensão arterial (3,8%), tabagismo (3,8%) e obesidade (3,8%). Quanto à integridade da bolsa, no presente estudo encontramos um número maior de pacientes com bolsas íntegras (58,5%) - Tabela 3.
Em relação ao preparo da pele para a cesárea 13,2% tinham o registro no prontuário de que haviam sido encaminhadas para o banho pré-operatório e tricotomia, em contrapartida 49,1% dos casos não foi possível identificar se esses procedimentos foram praticados visto que não havia registro nos prontuários e fichas de notificação - Tabela 3.
No que diz respeito à degermação foi notificada em 81,1% com clorexidina degermante a 2%; o percentual restante (18,9%) refere-se ao processo em que não foi executado devido ao caráter emergencial do procedimento - Tabela 3.
Variável | Categoria | n | % |
---|---|---|---|
Número de gestações | Primeira gestação | 34 | 64,2 |
Segunda gestação | 10 | 18,9 | |
Maior ou igual a três gestações | 09 | 17 | |
Fatores de risco | Infecção urinária | 5 | 9,4 |
Hipertensão arterial | 2 | 3,8 | |
Tabagismo | 2 | 3,8 | |
Obesidade | 2 | 3,8 | |
Hipertensão e infecção urinária | 1 | 1,9 | |
Sem registro de fatores de risco | 41 | 77,4 | |
Integridade da bolsa | Íntegra | 31 | 58,5 |
Rota < 6 horas | 15 | 28,3 | |
Rota > 6 horas | 6 | 11,3 | |
Rota sem informação do tempo de ruptura | 1 | 1,9 | |
Preparo | Ausência de registro de banho e tricotomia | 26 | 49,1 |
Apenas banho | 14 | 26,4 | |
Banho e tricotomia | 7 | 13,2 | |
Apenas tricotomia | 6 | 11,3 | |
Degermação | Sim | 43 | 81,1 |
Não | 10 | 18,9 |
Fonte: dados da pesquisa, 2015.
O tempo de internação hospitalar das puérperas para tratamento da ISC pós-cesárea foi classificado em duas categorias: com internação hospitalar menor que 10 dias e maior do que 10 dias. A maioria das participantes (66%) esteve internada em um período inferior a 10 dias. O agente microbiano mais incidente nos resultados de coleta de fragmentos na cavidade da ferida operatório foi o Staphylococcus aureus (24,5%) e os menos incidentes incorporados em um único grupo classificado por outros agentes microbianos (20,8%), sendo eles: Enterobacter aerogenes; Proteus mirabilis; Proteus vulgaris; Escherichia coli; Candida albicans; Klebsiella pneumoniae; Pseudomonas aeruginosa - Tabela 4.
Todas as usuárias internadas para tratamento da ISC pós-cesárea iniciaram algum tipo de antibioticoterapia profilática, o mais utilizado a Cefazolina 2g (37,7%) e a cobertura mais usada o alginato de cálcio em placa (45,3%) - Tabela 4.
Variável | Categoria | n | % |
---|---|---|---|
Tempo de Internação | <10 dias | 35 | 66,0 |
>10 dias | 18 | 34,0 | |
Agente microbiano (coleta de fragmento) | Não foram colhidos fragmentos | 17 | 32,1 |
Staphylococcus aureus | 13 | 24,5 | |
Staphylococcus epidermidis | 9 | 17,0 | |
Enterococcus faecalis | 3 | 5,7 | |
Outros agentes microbianos | 11 | 20,8 | |
Antibioticoterapia | Cefazolina | 20 | 37,7 |
Cefazolina + metronidazol + gentamicina | 12 | 22,6 | |
Outros antibióticos | 11 | 20,8 | |
Cefazolina + metronidazol | 5 | 9,4 | |
Cefazolina + gentamicina | 5 | 9,4 | |
Tipo de cobertura (curativo) | Alginato de cálcio em placa | 24 | 45,3 |
Soro fisiológico a 0,9%+ ácidos Graxos Essenciais | 16 | 30,2 | |
Carvão ativado com prata + alginato de cálcio | 8 | 15,1 | |
Hidrogel | 3 | 5,7 | |
Alginato de cálcio + gaze de Rayon | 1 | 1,9 | |
Hidrofibra | 1 | 1,9 |
Fonte: dados da pesquisa, 2015.
Discussão
Primeiramente, considera-se como principal causa de limitações deste estudo ter sido uma pesquisa retrospectiva com escassez de informações nos prontuários de algumas puérperas. Fato que pode ter prejudicado a análise nesses prontuários que não continham informações detalhadas sobre os fatores de risco para este tipo de cirurgia. Ainda a falta de um grupo controle de mulheres sem ISC não permitiu avaliar as associações entre fatores de risco e ISC.
Em estudo tipo revisão sistemática, desenvolvido na cidade de Juiz de Fora/MG, Brasil, foi identificada uma taxa de incidência de ISC pós-cesárea de 1,53% em Hospital de referência na região metropolitana quanto ao pré-natal, parto e puerpério, corroborando com valores desta pesquisa. Em 81 casos ocorridos em estudos randomizados controlados identificaram que a antibiotiocoprofilaxia é capaz de reduzir febre pós-cesariana eletiva e emergencial sendo também fator protetor para ISC nas eletivas e emergenciais, ocorrendo da mesma forma decréscimo das infecções urinárias nas emergenciais, mas não nas eletivas. Quando avaliada proteção nas infecções graves e mortalidade materna, houve redução com o emprego da antibiotiocoprofilaxia nas emergenciais, mas não nas eletivas, ocorrendo também diminuição em dias de internação materna nas cesarianas eletivas e emergenciais. (16)- (17
Em uma pesquisa foram encontrados como fatores predisponentes à ISC pós-cesárea anemia, HAS, infecção puerperal em cesárea prévia e tabagismo, corroborando com os resultados desta pesquisa com maior incidência na infecção urinária e obesidade. No entanto, observou-se na pesquisa poucos prontuários que foram identificados os fatores de risco constando a subnotificação, refletindo falha dos profissionais quanto ao registro de informações complementares nas anotações, além de representar déficit na investigação da história pregressa e atual da usuária. (18)
Quanto ao preparo, segundo a literatura, o banho deve ser realizado previamente ao procedimento cirúrgico e envolver todo o corpo. Ainda não existe consenso na indicação produto antisséptico no banho para todos os tipos de cirurgia. Assim, recomenda-se o uso de sabonete neutro em casos de cirurgias eletivas, de pequeno e médio porte, tendo cuidados quanto à higiene oral, do couro cabeludo e unhas.19 Na nossa pesquisa, não havia registro nos documentos analisados se no banho foi utilizada solução antisséptica ou se fez-se uso de sabonete líquido comum.
A tricotomia por sua vez, deve ser realizada fora da sala de cirurgia, preferencialmente com tricotomizadores elétricos, imediatamente antes do procedimento, não pressionando a pele com muita força e, após o término do procedimento a área deve ser higienizada com água morna e sabonete antisséptico. (19
No presente estudo, apenas 13,2% das mulheres possuíam bolsa rota há mais de 6 horas no momento da cirurgia. Em nosso estudo, o tempo de bolsa rota não teve relação com a ISC pós-cesariana. Ao contrário dos resultados de outra pesquisa na qual os autores evidenciaram em seus estudos sobre infecção em parturientes submetidas à cesárea, que estas apresentavam colonização do líquido amniótico seis horas após rotura das membranas e também identificaram que a prevalência de culturas positivas no líquido amniótico em usuárias com membranas rotas foi de 27%.20
Um estudo exploratório quantitativo desenvolvido em instituição pública do Distrito Federal no período de novembro de 2009 com uma amostra de 14 puérperas internadas em SAC e diagnóstico de ISC das 1.345 cesariadas, apresentaram sintomas da infecção em prazos variados entre 1 e 15 dias, em tratamento com antibioticoterapia. Foi identificado que as usuárias não tiveram material colhido para antibiograma, sendo esta condição necessária e fundamental devido ao surgimento de bactérias multirresistentes. (21
Nesse sentido, os microorganismos que penetram na região da incisão abdominal geralmente fazem parte da própria microbiota da mulher podendo também estar presentes no trato genital inferior, sendo comumente uma mistura de espécies aeróbias e anaeróbias, destacando-se o Enterococcus faecalis, a Escherichia coli, dentre outros.3 Neste estudo, observamos um grupo variado de agentes microbianos como Enterobacter aerogenes; Proteus mirabilis; Proteus vulgaris; Escherichia coli; Candida albicans; Klebsiella pneumoniae; Pseudomonas aeruginosa - todos estes representando um total de 20,8% - e o mais incidente, o Staphylococcus aureus (24,5%).
A Cefazolina, antibiótico mais utilizado no presente estudo, tem uso no tratamento de uma gama de infecções inclusive nas de pele e sua estrutura. Em estudo transversal no Hospital de Clínicas de Porto Alegre/RS no período de março a abril de 2010 foi desenvolvido uma investigação com a inclusão de Cefazolina no sistema de prescrição do hospital. O uso desta medicação foi adequado ou inadequado levando-se em consideração22:
Tempo para a primeira dose prescrita;
A dose prescrita;
Administração de doses adicionais durante o processo cirúrgico (repique);
Tempo total de uso do antibiótico.
Observaram que após três horas de procedimento cirúrgico com infusão da primeira dose do antibiótico foi o tempo definido para o repique. O tempo máximo da profilaxia considerada adequada não deveria ultrapassar 24 horas para todos os procedimentos. Ainda segundo os autores, esta é prescrita na antibioticoprofilaxia de cirurgias ativas contra estafilococos e estreptococos em uma dosagem única de 1-2g e, considerada como melhor profilático no pré-operatório uma vez que a gravidez não consegue interferir em sua farmacocinética.17, (23)- (24 Ressaltando-se que esta também é adotada como dose profilática no procedimento cirúrgico da cesárea na maternidade estudada.
Em outro estudo todas as puérperas com ISC pós-cesárea foram tratadas como antibiótico a Gentamicina 240mg 1 vez ao dia, Clindamicina 600mg a cada 8 horas, não sendo citado pelos autores qual microorganismo foi encontrado nessas infecções. Na maternidade estudada o uso das coberturas estava descrito nos documentos analisados expostas as características do tecido, presença do exsudato, passo a passo da troca do curativo, bem como materiais utilizados. Inclusive, na presente instituição há protocolos que direcionam quanto ao uso das principais coberturas em ISC pós-cesárea.21
Em estudo retrospectivo, descritivo e transversal tendo em vista evolução da resistência de Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumannii dos antimicrobianos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no período de 2007 a 2010 em hospital público de ensino conveniado com o SUS, identificaram em face da multirressistência dessas bactérias serem necessário o uso de antimicrobiano empírico instituído com base em critérios clínicos, epidemiológicos e microbiológicos. Os achados do estudo apontam quadro preocupante tanto no tratamento, sobretudo àquelas causadas por bactérias multirresistentes como também qual a assistência à saúde a essas usuárias agravando ainda mais a ISC, haja vista a resistência bacteriana que representa um desafio para a saúde pública na morbimortalidade das mesmas, tempo de internação hospitalar para o tratamento desta, uma vez que é prolongado, resultando em impactos negativos tanto para a mulher, para o hospital, além de este possibilitar elevação da morbimortalidade nos serviços de saúde de nosso país. (25
Dados americanos coletados em relatórios e análises do National Healthcare Safety Network (NHSH) publicados em 2009 mostraram média para ISC em cesáreas de 1,46%, semelhante ao encontrado nos 53 prontuários que fizeram parte da população desta pesquisa com taxa de incidência em 2,92%.26
Ademais, o aumento no tempo de hospitalização interfere no puerpério da mulher com o filho e ainda promove ocupação dos leitos por mais tempo impedindo disponibilidade de vagas para outras mulheres. Na presente pesquisa, a maioria das mulheres permaneceu internada em um período inferior a 10 dias, respondendo a hipótese de que a taxa de ISC em usuárias pós-cesárea na maternidade atinge até 5% destas ao ano.
Conclusão
O número de casos de ISC pós-cesárea oscilou nos anos estudados, apresentando um número maior de eventos em 2012 e menor em 2011, porém as ocorrências de infecções nos quatros anos monitorados estavam dentro da estimativa preconizada pelo MS.
O microorganismo mais incidente foi o Staphylococcus aureus, bactéria presente na microbiota endógena do indivíduo evidenciando a importância dos procedimentos de preparo (banho, tricotomia) e degermação, os quais devem ser efetuados de forma segura com técnicas e materiais adequados a fim de diminuir a flora microbiana residente na pele das usuárias. O antibiótico mais empregado foi a Cefazolina amplamente prescrito para as ISC pós-cesárea, inclusive na instituição pesquisada há protocolos que direcionam quanto ao uso das principais coberturas nos procedimentos cirúrgicos.
Ademais, é perceptível que a escolaridade pode interferir no grau de aprendizagem da mulher sendo indispensável que os profissionais invistam na educação em saúde, a qual deve ser iniciada desde a admissão até a alta hospitalar com orientações de cuidados na limpeza da incisão cirúrgica visando o autocuidado da mulher de forma que esta se corresponsabilize por sua saúde