INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a obesidade como um agravo de cunho multifatorial consequente de um balanço energético positivo que propicia o acumulo de gordura¹. A caracterização de sobrepeso e obesidade está associada a fatores constituintes do modo de vida da população e a causas não individuais, tais como, aspectos socioeconômicos e ambientais¹.
No que concerne ao ganho excessivo de peso, no âmbito mundial, existe uma estimativa da existência de 627 milhões de adultos obesos em todo o planeta¹. Já no Brasil, o percentual de adultos obesos corresponde a 19,8% da população total do país e, 55,7% representa aqueles em sobrepeso¹.
Ao tratar da temática obesidade e sobrepeso, tem-se que o acúmulo de tecido adiposo é uma das consequências do excesso de peso, o qual desempenha diversas atividades no organismo, provocando um agravamento nas funções do tecido, os chamados distúrbios cardiovasculares e metabólicos. Porém, essa adiposidade ocasiona outras alterações fisiológicas, alterações menstruais, alguns tipos de câncer, distúrbios do sono e humor e chega até mesmo atingir outros sistemas, como, nervoso e imunológico2.
A obesidade é considerada como uma epidemia mundial, cada vez mais crescente, com estimativas elevadas para os próximos anos pela OMS e responsável pela redução da qualidade de vida, aumento de comorbidades e da mortalidade, diminuição da capacidade funcional e autoestima pessoal³. Na área do trabalho não é diferente, os números crescem consecutivamente, com grande prevalência nas diferentes esferas que compõem este campo amplamente vasto4.
É evidenciada pela literatura que os índices de trabalhadores em excesso de peso são considerados altos, pois o mercado de trabalho propicia esta condição, os quais possuem características desfavoráveis aos trabalhadores4. A exposição a pressões, tanto psicológicas, como de ordem física, provocadas pelas condições de trabalho, podem deixar o trabalhador vulnerável a hábitos alimentares modernos, rápidos e nada saudáveis, e com escassez ou não priorização de tempo para realização de atividades físicas. Assim, este mercado ocupacional deixa os trabalhadores mais vulneráveis a fatores de risco que levam a não priorização de um estilo de vida saudável, levando a um ganho de peso5.
O comércio informal é sentenciado por condições de trabalho muitas vezes insalubres. Tal setor compreende atividades laborais, onde não há cobertura pela segurança social por não possuírem contrato formal trabalhista. Além disso, são carentes de benefícios trabalhistas, e trabalham por conta própria em sua maioria ou não possuem contrato formal6.
Neste setor, sem formalidades, prevalecem as questões voltadas para os aspectos de saúde e ocupacionaisno qual, a assistência médica é deficitária ou inexistente, muitas das relações de trabalho são marcadas pelo autoritarismo e exploração, longas jornadas de trabalho, a falta de segurança e principalmente a não garantia dos direitos sociais básicos, sem contar com as baixas remunerações6. Porém, para aqueles sem emprego formal, o mercado informal tornou-se sua principal fonte de renda e sobrevivência, pois é considerado um campo vasto e amplo, com espaço para todos6.
No mercado informal existem diversas modalidades de inserção, os trabalhadores feirantes compõem essa esfera. Estes indivíduos constituem-se nas feiras livres, que tiverem origem no século IX na Europa com o intuito de suprir as necessidades básicas da população. O que consistia-se em legado familiar, passou a constituir uma atividade de fonte de renda e subsidio ao desemprego. Porém, assim como as demais modalidades do comercio informal, apresenta condições inadequadas, como, extensas jornadas de trabalho, estrutura física inadequada, estilos de vida e hábitos alimentares modificados7.
Com isso, o presente estudo tem o objetivo de estimar a prevalência de sobrepeso e obesidade em trabalhadores feirantes de Guanambi e verificar sua associação com características sociodemográficas e laborais.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo censitário e transversal. Foi desenvolvido com dados obtidos do projeto maior: “Acidentes de trabalho em feirantes e as condições laborais e de saúde: estudo prospectivo”, compreendendo os dados sociodemográficos, laborais e antropométricos de trabalhadores do Mercado Municipal de Guanambi-BA, localizada na região sudoeste da Bahia.
A população estudada foi constituída por todos os trabalhadores que desenvolviam atividades comerciais no mercado municipal de Guanambi, os quais atendessem aos seguintes critérios de inclusão, a saber: trabalhadores camelôs e feirantes, de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 16 anos, que não possuíam registro em carteira de trabalho que é um direito reconhecido pela CLT, o qual foi recepcionado pelo artigo 7º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, que trata o reconhecimento da relação de emprego como direito fundamental do trabalhador, para tal atividade, exercendo suas atividades em local especificado pela administração do mercado. Vale salientar que, por não haver o quantitativo do número de trabalhadores informais do mercado municipal, no final do ano de 2017, foi realizado um levantamento in loco, totalizando 453 trabalhadores feirantes. Destes, na etapa de coleta de dados foi possível encontrar apenas 426 participantes. Dos 426 trabalhadores em atividade no mercado municipal de Guanambi, destes, 397 foram elegíveis para efeitos deste estudo. A perda de 29 (6,8%) ocorreu devido a não realização ou recusa em realizar as medidas antropométricas de peso e estatura.
Anteriormente à coleta de dados no mês de janeiro de 2018, a equipe, composta por 12 discentes de enfermagem e 3 enfermeiros supervisores foram treinados e calibrados, bem como, foi realizado um estudo piloto com vistas a garantir a qualidade do estudo.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de janeiro a março de 2018, por meio da aplicação de formulários e verificação de dados antropométricos de peso e estatura. Para aplicação dos formulários foram utilizados dispositivos (tablets) com formulários eletrônicos no aplicativo Open Data Kit (ODK).
Para verificação de dados de antropometria seguiu-se as recomendações do manual de orientações para coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde do Ministério da Saúde (2011). Para aferição da estatura foi utilizado um estadiômetro compacto afixado em uma parede (Caumaq LTDA, Cachoeira do Sul, Brasil). Por outro lado, para aferição da massa corporal foi utilizada uma balança digital (Plenna®, São Paulo, Brasil). As medições foram realizadas com os participantes descalços, usando roupas leves e sem acessórios que pudessem interferir nos valores aferidos.
As variáveis independentes foram características sociodemográficas (sexo, faixa etária, escolaridade, raça/cor, estilo de vida, atividade física), aspectos ocupacionais (jornada de trabalho, tipo de mercadoria, percepção de saúde) e aspectos de saúde (alterações na glicemia, hipertensão arterial, diabetes mellitus e procura do serviço de saúde). As variáveis dependentes foram obesidade e sobrepeso, obtidas pelo IMC (índice de massa corpórea) de acordo com o cálculo (peso/altura²), utilizando os pontos de corte: “abaixo do peso” < 18,5 kg/m², “normal” ≥ 18,5 kg/m² e ≤ 24,9 kg/m², “sobrepeso” ≥ 25,0 kg/m² e < 30 kg/m² e “obesidade” ≥ 307, onde as duas últimas foram classificadas como excesso de peso.
O estilo de vida foi avaliado por meio do perfil de estilo de vida, instrumento elaborado8 e validado9, consistindo em um modelo de avaliação que inclui cinco fatores ou componentes associados ao hábito de vida de pessoas ou determinados grupos de pessoas: prática de atividade física, nutrição, comportamento preventivo, relacionamentos e controle de estresse8. Foi realizada a análise global do estilo de vida. Já a atividade física foi avaliada apenas com o questionamento se o trabalhador realizava qualquer tipo de atividade física, excetuando atividades domésticas e de trabalho de maneira frequente.
A avaliação dos parâmetros glicêmicos foi através da coleta de sangue dos participantes em jejum por no mínimo de 12 horas e encaminhadas ao laboratório para análise. Os valores de referência para classificação das alterações glicêmicas foram: não (até 126mg/dl), sim (mais de 126 mg/dl)10.
A análise dos dados foi realizada com auxílio do software IBM SPSS, versão 22.0. A estatística descritiva foi através das frequências relativas e absolutas. Para verificar os fatores associados às alterações no peso foi realizado o teste do Qui-quadrado de Pearson, com adoção do valor de α ≤ 0,05.
O estudo foi aprovado pelo comitê de Ética em pesquisa da UNEB pelo parecer de número 2.373.330 de 2017. Todos os participantes assinaram os termos de consentimentos. Para os participantes com idade menor que 18 anos, foi solicitado que assinassem o termo de assentimento e seu responsável termo de consentimento, como prevê a resolução do Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS
Dos 397 trabalhadores estudados, 142 (33,3%) apresentaram sobrepeso, e 122 (28,6%) obesidade, resultando em 264 feirantes com excesso de peso (66,5%) verificadas por meio do índice de massa corpórea.
Na tabela 1 é possível visualizar as características sociodemográficas dos trabalhadores feirantes do mercado municipal de Guanambi, relacionadas ao desfecho excesso de peso.
Concernente ao sexo e faixa etária observou-se que existe associação com o desfecho de obesidade de forma significativa, sendo mais prevalente entre as mulheres. Quanto à faixa etária, também foi verificada diferença significativa, onde a faixa etária de 41 a 59 obteve os maiores índices de excesso de peso, seguida de trabalhadores com 60 anos ou mais. Chama atenção que indivíduos entre 15 a 40 anos apresentam percentuais de sobrepeso e obesidade expressivos, representando 53,2%.
Em relação à escolaridade dos feirantes, majoritariamente os que foram classificados como excesso de peso possuem até o ensino fundamental e, quanto à raça/cor, a maior parte foi em pessoas negras. Porém a diferença apontada entre as duas etnias estudadas é pequena, já que indivíduos autorreferidos como não negros foi de 62,3%.
No perfil do estilo de vida, ou seja indivíduos com maus hábitos de saúde, 65,0% dos trabalhadores que foram classificados com perfil negativo apresentam excesso de peso, ressalta-se que aqueles com estilo de vida positivo 77,1% foram considerados como peso inadequado.
É possível notar quanto a realização ou não de atividade física entre os feirantes, que os percentuais de excesso de peso não divergem de forma expresiva (Tabela 1).
A tabela 2 refere-se aos aspectos ocupacionais, evidenciando as diferenças significativas apenas nas variáveis “Jornada de trabalho” e “Percepção de saúde”. É possível perceber também quanto à jornada de trabalho que trabalhadores com carga de trabalho igual ou superior a 44 horas apresentaram 69,1% de excesso de peso. Sobre a percepção de saúde, esta variável mostrou-se associada ao desfecho, onde os feirantes com percepção de “regular/ruim” representaram 74,8% de obesidade e sobrepeso.
Concernente ao tipo de mercadoria nota-se significância do p-valor apresentado, onde a maior prevalência encontrada foi entre trabalhadores que comercializam produtos do ramo de açougue, com 68,4%, seguido daqueles que vendem alimentos in natura 65,8% (Tabela 2).
Por meio da tabela 3 é possível visualizar os aspectos de saúde, sendo os fatores associados ao excesso de peso: alterações glicêmicas e relato de hipertensão arterial sistémica (Tabela 3).
DISCUSSÃO
O presente estudo constatou um alto percentual de excesso de peso em trabalhadores feirantes do mercado municipal de Guanambi. A obesidade e o sobrepeso são fatores de risco para doenças
VARIÁVEIS | EXCESSO DE PESO | Valor de p | |||
SIM | NÃO | ||||
n | % | n | % | ||
Sexo | 0,009 | ||||
Masculino | 91 | 58,7 | 64 | 41,3 | |
Feminino | 173 | 71,5 | 59 | 68,5 | |
Faixa etária (em anos) | <0,001 | ||||
15 a 40 | 67 | 53,2 | 59 | 46,8 | |
41 a 59 | 148 | 77,5 | 43 | 22,5 | |
60 ou mais | 49 | 61,3 | 31 | 38,8 | |
Escolaridade | 0,314 | ||||
Até fundamental | 192 | 73,3 | 70 | 26,7 | |
Médio ou acima | 72 | 53,3 | 63 | 46,7 | |
Raça/cor | |||||
Negros | 178 | 68,7 | 81 | 31,3 | 0,198 |
Não negros | 86 | 62,3 | 52 | 37,7 | |
Perfil do Estilo de vida | 0,098 | ||||
Negativo | 227 | 65,0 | 122 | 35,0 | |
Positivo | 37 | 77,1 | 11 | 22,9 | |
Atividade Física Sim | 95 | 66,0 | 49 | 34,0 | 0,867 |
Não | 169 | 66,8 | 84 | 33,2 | |
TOTAL | 264 | 66,5 | 133 | 33,5 |
crônicas, em especial, o diabetes mellitus e a hipertensão arterial. Além dos efeitos a saúde, ainda afeta as condições socioeconômicas, não apenas em países emergentes, mas como em países desenvolvidos, sendo uma questão de saúde pública11.
VARIÁVEIS | EXCESSO DE PESO | Valor de p | |||
SIM | NÃO | ||||
N | % | N | % | ||
Jornada de Trabalho | 0,008 | ||||
Até 44 horas | 134 | 64,1 | 75 | 35,9 | |
44 horas ou mais | 130 | 69,1 | 58 | 30,9 | |
Percepção de Saúde | <0,001 | ||||
Regular/Ruim | 160 | 74,8 | 54 | 25,2 | |
Bom/Muito Bom | 104 | 56,8 | 79 | 43,2 | |
Tipos de Mercadoria comercializada | 0,298 | ||||
Alimentos In Natura | 75 | 65,8 | 39 | 34,2 | |
Alimentos feitos | 95 | 76 | 30 | 24 | |
Carnes/Frangos/Peixes | 52 | 68,4 | 24 | 31,6 | |
Artesanatos | 4 | 50 | 4 | 50 | |
Outros | 38 | 51,4 | 36 | 48,6 | |
TOTAL | 264 | 66,5 | 133 | 33,5 |
Identificado como sendo a maior prevalência em indivíduos do sexo feminino, contrapondo-se a outros achados, os quais apresentaram maior incidência no sexo masculino ou não possuíam diferença estatística significativa entre as categorias.
Conforme a literatura, o curso do amadurecimento humano possui poder de influência no ganho de peso, decorrente de uma queda na produção hormonal e consequentemente a redução no gasto metabólico, processo este que em mulheres acima dos 40 anos pode estar relacionado ao climatério, fase que ocorre muitas mudanças hormonais11.
De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, nos últimos anos, os índices de obesidade e sobrepeso cresceram significativamente em adolescentes e anos ou mais12. Em contrapartida aos valores obtidos, a maior incidência foram em pessoas na faixa etária de 41 a 59 anos.
VARIÁVEIS | EXCESSO DE PESO | Valor de p | ||||
SIM | NÃO | |||||
N | % | N | % | |||
Alterações Glicêmicas | 0,009 | |||||
Sim | 229 | 64,5 | 126 | 35,5 | ||
Não | 32 | 84,2 | 6 | 15,8 | ||
Relato de HAS* | <0,001 | |||||
Sim | 188 | 61,4 | 118 | 38,6 | ||
Não | 76 | 83,5 | 15 | 16,5 | ||
Relato de DM** | 0,103 | |||||
Sim | 240 | 65,4 | 127 | 34,6 | ||
Não | 24 | 80,0 | 6 | 20 | ||
Relato de procura por Serviço de Saúde nas últimas semanas | ||||||
Sim | 223 | 64,8 | 121 | 35,2 | 0,072 | |
Não | 41 | 77,4 | 12 | 22,6 | ||
TOTAL | 264 | 66,5 | 133 | 33,5 |
*Hipertensão Arterial Sistêmica **Diabetes Mellitus
No estudo observado a idade de maior prevalência é em indivíduos com 60 anos ou mais, todavia, nota-se um acréscimo em adultos jovens variando até os 45 anos. Porém, é importante ressaltar a relação existente, pois com o avançar da idade ocorre o aumento da prevalência de sobrepeso, consequentemente, a obesidade13.
Com relação aos anos de estudo não foi observada diferenças estatísticas significativas entre os trabalhadores com excesso de peso e aqueles que não apresentaram tal evento. Tal fato também ocorreu para a variável a raça/cor.
Estudo aponta que o excesso de peso tem-se tornado fator limitante em diversos tipos de trabalhos, pois segundo estes, essa população tem uma redução na habilidade produtiva e consequentemente um menor rendimento. Alguns fatores podem ser considerados como influenciadores para este processo, tais como, o perfil do estilo de vida e a não prática da atividade física14,15, entretanto, não foi encontrada diferença estatística no presente estudo.
No que se refere a jornada de trabalho, a maior prevalência de excesso de peso foi na classe trabalhadora com carga horária mais intensa. Infere-se que, isto, ocorre como consequência de uma demanda exacerbada do potencial físico para uma boa produtividade. Causando além do cansaço físico, esgotamento mental, estresse, diminuição da prática da atividade física e lazer pessoal intervindo assim no modo de vida, e tornando indivíduos sedentários. O qual, que pode influenciar no processo de excesso de peso16.
Quanto à percepção de saúde compreende-se associação com a qualidade de vida na qual, o poder aquisitivo possui interferência no quesito de compra de bens e produtos de melhor qualidade para consumo próprio, permitindo assim maior acesso a atividade física e o lazer colaborando para a manutenção do peso ideal. O sedentarismo e os maus hábitos alimentares são fatores que influenciam para o ganho de peso. Segundo a literatura quanto maior a qualidade de vida e estilo saudável, melhor é a percepção de saúde, e como consequente menores índices de obesidade e sobrepeso17.
A respeito da variável “Tipo de mercadoria”, sendo esta diretamente conexa ao excesso de peso neste estudo, os maiores índices foram em trabalhadores que comercializam alimentos. Deduz-se, que estes resultados são consequências da grande exposição aos alimentos comercializados, proveniente da possibilidade de consumo excessivo, principalmente aqueles produtos com maior teor de gordura e proteínas, como é caso das carnes/frangos/peixes. Entretanto os produtos “in natura” também correspondem a um alto quantitativo, porém dentre as pesquisas realizadas não foi encontrado nenhum estudo que corroborasse com esse achado, já que os mesmos apresentaram resultados muitos inferiores ou o uso dos produtos “in natura” para o equilíbrio nutricional e consequentemente a redução de peso18.
O comércio informal é marcado pelo sua heterogeneidade, não apenas em diferenças de rendimentos mensais, mas também na grande diversidade de mercadorias que são comercializadas. Muitas das quais são iguais, e são trabalhadas e vendidas de formas distintas, exibindo assim o vasto campo informal que varia de um local para outro19.
Conforme estudo20 a obesidade é fator de risco para o aparecimento de muitas doenças, e as alterações na glicemia podem ser indicativas de diabetes mellitus. Neste estudo, existe uma ligação direta entre alterações na glicemia e o ganho de peso, em que, mais da metade dos indivíduos que apresentaram alterações tinha obesidade ou sobrepeso. Essa condição pode ser implicada pelo perfil do estilo de vida, no qual o trabalhador adquire hábitos alimentares ruins, associado ao sedentarismo. Outro ponto importante é questão do estresse no ambiente de trabalhado o que propicia, de acordo com a literatura, tanto o excesso de peso como alterações na glicemia20.
Sabe-se que, hábitos alimentares saudáveis aliados à prática de atividade física possibilita a manutenção adequada do corpo, evitando aparecimento de doenças. O sobrepeso e obesidade têm como uma de suas causas o perfil de estilo de vida negativo, o qual estas prática positivas são abandonadas. Associados todos estes fatores, o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares cresce, e com isso o surgimento de doenças crônicas. Nesta pesquisa, bem como em outros estudos, a hipertensão a qual é considerada como uma doença crônica, ou seja, doença que não tem cura apenas tratamento de controle, é diretamente influenciada pelo aumento do IMC que é provocado pelas condições abordadas21.
No que tange a diabetes mellitus, entende-se que a obesidade e o sobrepeso é fator de risco para esta comorbidades. Porém, o presente estudo não apresentou diferença estatística significativa entre os indivíduos que relataram possuir diabetes e manifestou obesidade. Porém, é de fundamental importância relacionar essas duas categorias, pois o IMC não atende as divisões de corpo, apesar de identificar e compreender o excesso de peso22,23.
Quanto ao quesito da procura do serviço de saúde apenas uma pequena quantidade que relatou que procura o serviço está em peso ideal, enquanto a maioria está com excesso de peso. Em virtude disso, existem políticas públicas que avaliam e consideram hábitos saudáveis, tais como, a prática de atividade física, alimentação balanceada e saudável como essenciais, para construção de um perfil de estilo de vida positivo, e combate à obesidade24.
Ao considerar a temática do excesso de peso nessa população trabalhadora, a inserção das ações da enfermagem é de fundamental importância, uma vez que, este evento se torna agravante para diversas situações de saúde, como acometimento de doenças crônicas. Ademais, a avaliação das condições de saúde, inclusive do excesso de peso, representa um fenômeno importante no domínio da enfermagem, tendo em vista que o excesso de peso é um diagnóstico de enfermagem, segundo a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem.
O enfermeiro, ao realizar a consulta de enfermagem, monitora dados antropométricos e pode solicitar exames complementares para avaliar os casos de riscos e, quando necessário, encaminhar a um profissional especializado. Tal profissional de saúde, juntamente com equipe interdisciplinar e com o trabalhador deve identificar, quais os fatores que contribuíram, contribuem ou contribuirão para o quadro de excesso de peso, sob a perspectiva de comportamento alimentar, social e, de modo conjunto, devem buscar estratégias de superação destes fatores, minimizando os riscos de morbidades associadas.
É importante ressaltar que o presente estudo apresenta algumas limitações tais como o desenho transversal, possibilitando somente uma visão instantânea das características estudadas. A perda de dados de alguns trabalhadores que não compareceram para coleta dos dados antropométricos. Entretanto, o estudo apresenta resultados relevantes, especialmente para nortear ações promocionais à saúde do trabalhador informal feirante.
E, nesse sentido, estes dados trazidos pelo estudo, concernentes a esta parcela populacional tangenciada pelas estatísticas oficiais podem balizar as ações da enfermagem, especialmente inserida nas ações de vigilância em saúde do trabalhador e da atenção primária à saúde, assim como, a saúde do trabalhador apresenta-se como um campo em crescimento para a atuação deste profissional, nos campos práticos e de pesquisa, indispensável para a saúde pública.
CONCLUSÃO
Em suma a obesidade e o sobrepeso acomete recorrentemente a nível mundial, sendo considerada como uma epidemia. No setor do comércio estudado, os resultados não foram diferentes, apresentando alta frequência do evento, o que podem agravar o quadro devido às condições laborais apresentadas, como jornada de trabalho.
Características modificáveis como o estilo de vida e não procura pelos serviços de saúde, requerem ações de educação em saúde junto a população trabalhadora, demonstrando possíveis consequências da obesidade e sobrepeso a curto, médio e longo prazo na vida do indivíduo. Tais ações precisam ser realizadas o mais próximo possível de tais trabalhadores, demostrando a importância da busca pelos serviços de saúde e, dessa forma, visando que os mesmos possam estabelecer vínculos com a estratégia de saúde da família aos quais possam estar vinculados. Ademais, por possuírem diagnósticos médicos para doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes mellitus, a busca pelos serviços de saúde de maneira frequente se faz necessário.
Outros fatores são considerados não modificáveis como o sexo e a idade do trabalhador, portanto, as ações nos aspectos modificáveis são de suma importância, visando a promoção da saúde e prevenção de doenças e outros agravos e eventos.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não possuir conflito de interesse de qualquer natureza relacionado ao artigo.